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quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Tempos mais difíceis na Argentina
- Chega a ser paradoxal o kirchnerismo ganhar na Justiça do Clarín quando acaba de ser castigado pelos eleitores nas eleições parlamentares de domingo
EDITORIAL
A derrota do Grupo Clarín na luta judicial com o governo de Cristina Kirchner em torno de uma legislação draconiana, a Lei de Meios, é apenas um capítulo — embora possa ser decisivo — de uma longa história de sufocamento da imprensa profissional argentina. Não é um fato isolado, mas parte de um projeto de garroteamento do jornalismo independente, aplicado já há algum tempo.
Ainda com Néstor Kirchner na Casa Rosada, onde tomou posse em 2003, generosas verbas publicitárias oficiais passaram a ser manipuladas para favorecer empresários de comunicação “amigos”. Há copioso material levantado por auditores, publicado em reportagens, em livro e divulgado em denúncias pela oposição sobre o crescente gasto de milhões de dólares em dinheiro público com esta finalidade.
Em 2010, por exemplo, ano da morte de Néstor e com a presidente Cristina K. em campanha para a reeleição, a emissora de TV aberta Canal 9, simpática ao kirchnerismo, foi presenteada com US$ 18 milhões, ou 67,5% de toda a verba publicitária. Há incontáveis exemplos. Como o do jornal “Pagina 12”, outrora um marco na mídia impressa do país, receber em publicidade oficial US$ 4,7 milhões, quase o mesmo que o “Clarín”, com uma diferença: vendia apenas 10 mil exemplares diários, contra 300 mil deste último. Toda esta operação segue paralelamente à montagem de extensa rede de TVs e rádios públicas.
Outra arma da Casa Rosada é a Papel Prensa, única produtora de papel de imprensa do país, em que estão associados o grupo Clarín, o La Nación — outro alvo do kirchnerismo — e o Estado. Pois em dezembro de 2011, Cristina K. aprovou no Congresso a intervenção estatal no mercado do insumo. Pôs de uma vez o laço no pescoço dos dois grupos e passou a atuar também na administração da empresa.
Agora, vem a decretação da constitucionalidade da Lei de Meios, contra a qual o Clarín lutou em instâncias inferiores da Justiça durante quatro anos. A lei é um instrumento inspirado no bolivarianismo chavista, construído sob o disfarce de uma ferramenta para estimular a “diversidade” e a “liberdade de expressão” nos meios de comunicação”, mas cujo objetivo real é acabar com a independência do jornalismo profissional, fazê-lo refém do poder público.
Na questão central da constitucionalidade da lei que determina o desmembramento do grupo pela venda de concessões de TV por assinatura e rádio, e sua entrada imediata em vigor, o Clarín perdeu a disputa por quatro votos a três, na Corte Suprema de Justiça, presidida por Ricardo Lorenzetti, nomeado por Néstor. Na televisão por assinatura — na Argentina, mais forte que a aberta, ao contrário do Brasil — o Clarín detém 42% do mercado, e terá de encolher a fatia para 35%. Quanto ao meio rádio, falta definir na prática o que acontecerá.
De alguns votos dos juízes constaram advertências sobre a transparência na distribuição de verbas públicas de publicidade, o uso político dos meios e a necessidade de aplicação técnica da lei. Não se espera que surtam efeito.
A derrota do jornalismo profissional é dupla: perde espaço e, como acontece há algum tempo na Argentina, o vácuo é preenchido por empresários ligados à Casa Rosada. Eles deverão ser os compradores das concessões a serem compulsoriamente vendidas pelo Clarín.
Chega a ser paradoxal: o governo K. obtém esta vitória no momento em que o kirchnerismo, com apenas 30% dos votos obtidos nas eleições parlamentares, é castigado pelos eleitores e se depara com riscos concretos de sair da Casa Rosada em 2015. A decisão da Corte Suprema prenuncia dois anos ainda mais difíceis para a sociedade argentina.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Brain-to-brain communication has arrived. How we did it (TED)
You may remember neuroscientist Miguel Nicolelis — he built the brain-controlled exoskeleton that allowed a paralyzed man to kick the first ball of the 2014 World Cup. What’s he working on now? Building ways for two minds (rats and monkeys, for now) to send messages brain to brain. Watch to the end for an experiment that, as he says, will go to "the limit of your imagination."
This talk was presented at an official TED conference, and was featured by our editors on the home page.
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terça-feira, 29 de outubro de 2013
Cameron ameaça censurar novas reportagens sobre espionagem
Em alerta ao 'guardian', premier britânico pede responsabilidade social
LONDRES O Reino Unido é o único integrante europeu do chamado "Cinco Olhos" - o grupo ultrassecreto onde compartilha e troca informações de inteligência com Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. E ontem o governo britânico deu novos sinais de desconforto diante das revelações em cadeia da ampla espionagem americana em território europeu. Distanciando-se da indignação de outros líderes do continente com a Agência de Segurança Nacional dos EUA(NSA), o primeiro-ministro conservador David Cameron ameaçou agir para impedir a publicação do que classificou como "vazamentos prejudiciais" trazidos à tona por Edward Snowden. A advertência tinha endereço certo: o jornal "Guardian", que tem publicado os documentos mostrando a espionagem americana. - Se eles (os jornais) não demonstrarem alguma responsabilidade social, será muito difícil para o governo recuar e não agir - afirmou Cameron ao Parlamento, acrescentando que o "Guardian" continua publicando material "prejudicial". Na sexta-feira, Cameron já havia acusado Snowden e "um jornal britânico" de ajudar o inimigo com a divulgação de mecanismos de espionagem e contraterrorismo cibernético. - O que Snowden está fazendo e, até certo ponto, o que os jornais estão fazendo em ajudá-lo a fazer o que ele está fazendo, é francamente sinalizar para os que querem nos fazer mal como fugir e driblar a inteligência, a vigilância e outras técnicas. Isso não vai tornar nosso mundo mais seguro, mas vai torná-lo mais perigoso. Isso está ajudando nossos inimigos - dissera o premier. O escândalo envolvendo a espionagem americana atingiu em cheio o governo conservador em Londres. Além de deixar o premier isolado no cenário europeu, as revelações de Snowden expuseram, ainda, a parceria da NSA com o Quartel-General de Comunicações do Governo (GCHQ, na sigla em inglês) - a equivalente britânica da agência de vigilância americana.
Essa exposição enfureceu boa parte da bancada conservadora governista, que exige do premier respostas para o que veem como um golpe contra a segurança nacional. A ira aumentou ontem, quando uma reportagem do tabloide "Sun", citando altas fontes da Inteligência, afirmava que os vazamentos de Snowden feriram, sim, o trabalho de coleta de informações dos espiões britânicos. Apesar de deixar claro que sua paciência estava se esgotando, Cameron disse aos parlamentares que prefere não usar mão de ferro contra os jornais, mas esperar que eles mudem de opinião: - Temos uma imprensa livre, e é importante que a imprensa não se sinta pré-censurada. A abordagem que adotamos é tentar conversar com a imprensa e explicar quão prejudiciais algumas dessas informações podem ser, e é por isso que o "Guardian" destruiu parte das informações nos discos que possuía - afirmou. Cameron, porém, ressaltou: - Eu não quero ter que usar liminares, D-notices (proibição de publicações) ou outras medidas mais duras. Acho que é muito melhor apelar ao sentido de responsabilidade social dos jornais. Numa tentativa de aplacar a revolta dos companheiros de legenda, Cameron também admitiu aos parlamentares a necessidade de evolução das táticas usadas pelas agências de Inteligência independentemente do vazamento de informações. - Nossas agências operam sob a lei, e o trabalho delas é regulado por comissários de inteligência. É claro que a tecnologia se desenvolve, e como as ameaças que enfrentamos evoluem, precisamos ter certeza de que o escrutínio e os métodos permanecem fortes e eficazes - disse.
COMEÇA JULGAMENTO SOBRE ESCUTAS
A ameaça de uma ação do governo contra a imprensa britânica ocorreu no mesmo dia em que foi iniciado o julgamento de Rebekah Brooks e Andy Coulson, ex-editores do extinto tabloide "News of the World". Eles são acusados de envolvimento num escândalo de escutas telefônicas sistemáticas. Eles teriam conspirado para acessar ilegalmente mensagens de voz dos celulares de políticos, ricos, famosos, vítimas de crime e cidadãos comuns para obter notícias exclusivas. Os dois, que estão sendo julgados com outros seis réus, negam todas as acusações - mas, desde que uma investigação foi lançada, em janeiro de 2011, mais de 125 pessoas foram presas e mais de 40, indiciadas. Desde então, uma nova legislação sobre ética jornalística, que pode incluir a criação de um órgão ligado ao governo para fiscalizar possíveis abusos dos jornais, está em discussão no Reino Unido.
Advogados avaliam argumentos de Roberto Carlos em entrevista sobre biografias no 'Fantástico'
'O que ele falou tem sentido, é uma abordagem mais comum na Europa a busca por um equilíbrio', diz autor de livro sobre direitos de personalidades
Para Gilberto Gil, há um pensamento de 'vamos nos livrar desses velhos de uma vez por todas'
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RIO - A entrevista de Roberto Carlos sobre a polêmica das biografias ao 'Fantástico' de domingo vem despertando reações e desdobramentos. Na mesma noite, um post foi publicado na página da Associação Procure Saber no Facebook, afirmando que as declarações do Rei refletiam a “posição oficial” do grupo formado por Chico Buarque, Caetano Veloso e Djavan, entre outros - o que deve ser reforçado em vídeos com depoimentos deles, programados para esta terça. Mas, para o “Fantástico”, Roberto não foi muito claro quanto à sua posição. Ele afirmou que é a favor de obras sem autorização prévia do biografado, mas “com certos ajustes”. O cantor, porém, não detalhou que ajustes seriam esses. “Isso aí tem que se discutir, são muitas coisas”, disse.
— Juridicamente, o que Roberto Carlos falou tem algum sentido, sim. É uma abordagem mais comum na Europa a busca por um equilíbrio, por uma posição intermediária entre a liberdade e a privacidade. É uma posição que não exige autorização prévia, mas que não permite que uma biografia trate de qualquer assunto — explica o advogado Anderson Schreiber, professor de Direito Civil da Uerj e autor de livros como “Direitos da personalidade” (editora Atlas). — Alguns países, por exemplo, consideram invasão de privacidade quando se divulgam dados de prontuários médicos. É um exemplo de restrição que pode ser colocada ao mesmo tempo em que se liberam as biografias.
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Hoje, o artigo 20 do Código Civil brasileiro permite que biografados reclamem na Justiça a proibição de biografias em casos que “lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais”. Foi esse artigo, sobre o qual está em análise uma Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelas editoras de livros no Supremo Tribunal Federal, usado pelo Rei para proibir, em 2007, o livro “Roberto Carlos em detalhes”, de Paulo Cesar de Araújo — a obra saiu das livrarias num acordo judicial entre o cantor e a editora Planeta. Leia a reação do biógrafo à entrevista no "Fantástico" aqui.
— Eu discordo do Roberto Carlos quando ele disse na entrevista que a história da pessoa é da pessoa. A vida da figura pública é o tema de uma biografia, não quer dizer que ela vai ser apropriada — afirma o advogado Daniel Campello Queiroz, sócio do escritório de direitos autorais CQ Rights. — Mas eu entendo quando ele fala do aspecto comercial das biografias. O artigo 18 do Código Civil não permite que se use o nome de alguém em propaganda comercial sem autorização. Então, se a editora usar o nome do biografado e sua imagem para se promover comercialmente, é necessário discutir uma autorização ou remuneração. Não é que o autor tenha que pagar dízimo para escrever sobre alguém, mas é preciso preservar a imagem em propaganda comercial, mesmo que seja para a venda de um livro.
Nesta segunda-feira, Gilberto Gil, um dos integrantes do Procure Saber, também comentou a entrevista de Roberto Carlos.
— Ele foi muito cuidadoso, afinal é um tema muito polêmico, com uma carga de agressividade razoável. Hoje, tem um pouco do pensamento de “vamos nos livrar desses velhos de uma vez por todas”. É um convite ao desrespeito que a internet faz — disse Gil. — A imprensa entrou nesse debate de forma muito forte, exagerou na defesa à liberdade de expressão, mas sabemos também que grandes veículos são também editores, há outros interesses em jogo. Não queremos afirmar categoricamente a necessidade da autorização prévia, mas o que queremos dizer é que precisamos discutir. Não dá pra aceitar a liberação geral.
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Pesquisa: 38% das crianças com menos de 2 anos usam tablets ou smartphones
Em 2011, percentual era de apenas 10%. Tempo médio de uso diário triplicou em dois anos
NOVA YORK - Os tablets e smartphones estão cada vez mais presentes nas vidas das pessoas, inclusive das crianças. De acordo com estudo conduzido nos EUA pela organização Commom Sense Media, 38% das crianças com menos de 2 anos já usaram algum desses dispositivos móveis para jogar, ver vídeos ou consumir outras formas de mídia. Em 2011, o percentual chegava a apenas 10%.
- É um sinal que a geração digital chegou – afirmou Jim Steyer, diretor executivo da organização.
O estudo mostra que o uso de dispositivos móveis entre crianças vem avançando rapidamente, enquanto outras mídias continuam estáveis ou até mesmo recuam. Entre os menores de 2 anos, a televisão manteve seu percentual de audiência em 66% em 2011 e 2013. O uso de computadores cresceu de 4% para 10%; e os DVDs perderam espaço, de 52% para 46%.
Não apenas mais crianças estão usando tablets e smartphones, como o tempo de uso também aumentou. Em 2011, o tempo médio diário gasto com esses dispositivos entre crianças de até 8 anos era de 5 minutos. Na pesquisa deste ano, o tempo subiu para 15 minutos.
- Nós estamos vendo uma mudança fundamental em como as crianças consomem mídia. Bebês que ainda não falam, andam até uma tela de TV e tentam navegar como se fosse um iPad – disse Steyer.
A Academia Americana de Pediatria recomenda que os pais devem evitar que as crianças com menos de 2 anos tenham contato com todos os tipos de telas. Contudo, Steyer considera essa posição como conservadora, mas alerta para o uso excessivo. Segundo ele, tablets podem ser excelentes ferramentas educativas, mas não devem ser usadas como babás eletrônicas. Tanto o conteúdo, como o tempo de uso, devem ser vigiados de perto.
Com cada vez mais crianças tendo acesso a esses dispositivos, a organização faz um apelo para que produtores de aplicativos e conteúdo assumam uma postura “ética e responsável”, criando aplicações que não estimulem o vício, que tenham viés educativo e respeitem a privacidade das famílias.
- Essa tendência representa uma grande oportunidade para a indústria de tecnologia, mas causa um impacto profundo sobre as crianças e as famílias. Temos que usar esses dispositivos com sabedoria – afirmou Steyer.
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