segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Como o Facebook vai recuperar os US$ 19 bi gastos com o WhatsApp?



Serviços de mensagens populares no Oriente podem indicar o caminho para Facebook
faturar com o app
Sérgio Matsuura
RIO - Quando uma empresa faz um investimento, normalmente espera recuperar o capital
em alguns anos. O WhatsApp, com 450 milhões de usuários, é sem dúvida um ativo
interessante, mas seu modelo de negócio — cobrança anual de US$ 0,99 de quem se
registrou após a taxa ser instituída, em março de 2012 — levanta questionamentos
sobre como o Facebook terá de volta os US$ 19 bilhões que colocou no negócio. No ano
passado, o faturamento do app foi estimado em US$ 20 milhões.
A resposta lógica seria a publicidade, mas o WhatsApp é fundamentalmente contrário à
exibição de anúncios. No site da companhia e no aplicativo, está o aviso: “quando a
publicidade está envolvida, você, o usuário, é o produto”. O próprio Mark
Zuckerberg, diretor executivo do Facebook, reforçou que essa não é a melhor solução.
— Eu não acredito que anúncios são a forma correta de monetizar mensagens — afirmou
após o anúncio do acordo. — Nossa estratégia explícita para os próximos anos é focar
no crescimento e na conectividade de todos no mundo. (…) Quando o serviço alcançar 1
bilhão, 2 bilhões de pessoas, existirão formas claras de como monetizar.
O rápido crescimento da ferramenta explica, em parte, o valor exorbitante do
negócio. Humberto Matsuda, sócio do fundo brasileiro de venture capital Performa
Investimentos, destaca que a base de usuários do WhatsApp é maior que a do Twitter
(241 milhões de usuários ativos), cujo valor de mercado é de US$ 31,8 bilhões. A
plataforma de troca de mensagens é a que cresceu mais rapidamente na indústria de
tecnologia e conquista atualmente 1 milhão de novos registros por dia.
— É impossível dizer se é justo pagar US$ 19 bilhões, mas existem motivos fortes
para acreditar que sim. A expectativa é que a base de usuários chegue rapidamente a
1 bilhão, com um diferencial: grande parte do público está fora dos EUA e Europa,
zonas de conforto para companhias de tecnologia. Chegar primeiro em mercados da
Ásia, África, América do Sul e Oceania dá uma vantagem muito grande ao Facebook —
explica Matsuda. — E o Facebook já mostrou que tem capacidade de transformar bases
grandes de usuários em dinheiro.
Mas nem todos estão otimistas. O consultor de tecnologia Mário Jorge Passos lembra
da compra do Skype pela Microsoft em 2011, por US$ 8,5 bilhões. Mesmo com proposta
de monetização mais elaborada, com a venda de créditos para ligações via IP, o
investimento não foi recuperado.
— A minha aposta é que ninguém vai ganhar dinheiro com isso (serviços de mensagens)
— afirma.
Karl Whitfield, analista da Portio Research, dá pistas de como a rede social pode
explorar financeiramente o serviço de troca de mensagens: “olhe para o Oriente”,
escreve em artigo no site da consultoria. Há dois anos ele previa que os serviços de
mensagens over-the-top cresceriam tanto que seriam disputados por gigantes como
Google, Apple e Facebook. Agora, algumas dessas plataformas não apenas têm muitos
usuários, como geram receitas com a venda de stickers (ilustrações animadas ou não
de personagens conhecidos) e jogos.
“No curto prazo, o Facebook deveria olhar para Line, WeChat e KakaoTalk para
entender como estão monetizando esses aplicativos. Na Ásia, esses serviços são
usados pelos consumidores mais como redes sociais e canais de venda de conteúdo.
Aplicativos premium, jogos e serviços são vendidos gerando receita significativa”,
afirmou.
O japonês Line, com 340 milhões — sendo 50 milhões no Japão —, faturou US$ 338,4
milhões em 2013 graças a emoticons, stickers e jogos. O sul-coreano KakaoTalk segue
o mesmo modelo e faturou US$ 200 milhões em 2013. A chinesa Tencent inovou com o uso
do seu aplicativo, o WeChat, como plataforma de e-commerce, permitindo que
consumidores fizessem pesquisas e compras na loja virtual do grupo pelo app. A
Rakuten, maior empresa de comércio eletrônico do Japão, pretende fazer o mesmo com o
Viber, adquirido por US$ 900 milhões. Hiroshi Mikitani, presidente da companhia, já
afirmou que pretende “conectar a plataforma de mensagens com o e-commerce”.
Quatro horas fora do ar
O diretor do Viber no Brasil, Luiz Felipe Barros, considera elevado o valor pago
pelo Facebook pelo concorrente WhatsApp. Para ilustrar, o executivo faz uma simples
conta. Com base de 300 milhões de adeptos, a negociação do Viber foi de US$ 3
dólares por usuário, valor já considerado alto. No WhatsApp, o valor pago foi de US$
42 por usuário, sendo que o faturamento do Facebook no último trimestre de 2013 foi
de US$ 2,14 por usuário.
— Pelo modelo adotado pelo WhatsApp, eles precisariam de 19 bilhões de clientes para
pagar o investimento, três vezes o número de habitantes no planeta. Se eles
cumprirem o que disseram e não corromperem o modelo, eles vão ter que corromper os
dados dos usuários — prevê.
Barros explica que uma das saídas para gerar receitas com o app seria usar as
informações pessoais da base para aprimorar o sistema de publicidade do Facebook. O
investidor Humberto Matsuda e o diretor de estratégia da agência Frog, Roberto
Cassano, também consideram essa uma alternativa.
— Com desconhecidos que falam sua língua, você se conecta pelo Twitter; para os
conhecidos, usa o Facebook; mas com as pessoas que realmente importam, você usa o
WhatsApp — diz Cassano.
Além de descobrir como ganhar dinheiro com o WhatsApp, o Facebook terá também que
aprimorar a infraestrutura do app. No sábado, os usuários ficaram impossibilitados
de trocar mensagens durante quatro horas por causa de falha técnica em um roteador,
“nosso mais longo período fora do ar em anos”, admitiu o fundador Jan Koum.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

93 anos, mas cabeça de...



Editorial FSP

Suzana Singer

Sobre a isenção jornalística

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/suzanasinger/2014/02/1416497-93-anos-mas-cabeca-de.shtml 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Google terá 'monopólio' da mídia no Brasil, diz Paulo Bernardo

Por Redação Olhar Digital - em 04/02/2014 às 09h15


Mesmo sem produzir uma linha sequer de conteúdo, o Google é uma das maiores empresas de mídia do mundo. Para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, em breve a gigante de buscas deixará o setor inteiro para trás.

"As pessoas falam no Brasil que tem monopólio da mídia. Acho que o Google está se tornando o grande monopólio da mídia. E a gente vê assim uma disputa entre teles e TVs que, provavelmente, se durar mais alguns anos, o Google vai engolir os dois", comentou Bernardo, em entrevista ao Estadão.

O ministro reafirmou ser favorável à regulação da mídia no Brasil, e um dos pontos a ser discutidos seria o que circula pela rede. "Temos que incluir questões essenciais, por exemplo, sobre o que acontece na mídia de internet."

Segundo ele, o Planalto deve tratar sobre a redução da influência que companhias como o Google têm no Brasil: "Isso tem de ser colocado na pauta. Se você tem uma empresa que, num setor, tem 91% de participação, é evidente que talvez seja o caso de discutir."

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

‘O Google está se tornando o grande monopólio da mídia’, diz Paulo Bernardo

  • Ministro das Comunicações defendeu a retomada do debate sobre a regulação da mídia
BRASÍLIA - O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, defendeu nesta segunda-feira, ao final da cerimônia de posse dos novos ministros, que o debate sobre a regulação da mídia seja retomado. O ministro defende, no entanto, que o projeto não inclua regulação de conteúdo dos veículos, como desejam setores do PT. Ele disse que a regulação é necessária para corrigir situações "assimétricas".
— Eu sou favorável à regulação da mídia, sempre defendi. Nós só precisamos nos colocar de acordo sobre qual vai ser o modelo, se vai ser um projeto único ou se vamos fazer por partes. Eu tenho uma visão em relação ao projeto em que o ex-ministro Franklin (Martins) trabalhava de que nós temos que incluir questões essenciais sobre o que acontece na mídia de internet. As pessoas falam que no Brasil tem monopólio da mídia, eu acho que o Google está se tornando o grande monopólio da mídia e a gente vê uma disputa entre teles e TVs que se durar mais alguns anos o Google vai engolir os dois. Se você tem uma empresa que num setor tem 91% de participação é evidente que talvez seja o caso de discutir. Acho que sempre há espaço para discutir — afirmou.
O ministro levantou a suspeita inclusive de que a gigante do setor de tecnologia não coleta impostos sobre a publicidade recebida no país:
— Nós temos uma situação que começa a ficar assimétrica de empresas que vendem serviços pela internet e não tem as mesmas responsabilidades dos veículos tradicionais. O Google faturou em 2013 mais de R$ 3,5 bilhões de publicidade no Brasil. A informação que tenho é que a maior parte dessa publicidade é paga no exterior com cartão internacional. Esse dinheiro tem os impostos que a mídia tradicional paga? Não acredito que tenha. É preciso olhar isso. A gente não está falando de regular conteúdo, sou a favor da liberdade de expressão. Agora, nós podemos ter dois tipos de veículo vendendo publicidade: um pagando imposto e outro não pagando nada? Isso tem que ser visto —justificou.
Em resposta, o Google afirmou que arca com todos os impostos que são devidos e que em 2012 foram recolhidos mais de R$ 540 milhões. “Desde que o Google se estabeleceu no Brasil em 2006, investimos centenas de milhões de dólares no país. Temos um centro de engenharia em Minas Gerais e uma presença significativa em São Paulo. O Google emprega mais de 600 pessoas no Brasil e em 2012 nós recolhemos mais de R$ 540 milhões em impostos para as diversas esferas do governo brasileiro. Nós pagamos todos os impostos que são devidos no Brasil, assim como em todos os outros países onde operamos”, afirmou a empresa, em nota.
Apesar de setores do PT terem atuado inclusive para derrubada da ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, pelo fato de ela supostamente não beneficiar veículos governistas, Paulo Bernardo disse que qualquer regulamentação da mídia que envolvesse conteúdo seria inconstitucional:
— Regular conteúdo não é permitido pela Constituição. Acho que nós temos de dizer o que vamos fazer de maneira geral em relação a espaço de mercado para cada um. Regulação de conteúdo ninguém defende, quem defende está defendendo uma coisa que a Constituição não permite. A liberdade de expressão, o tráfego de ideias tem que ser garantido — afirmou.
Outro lado
O Google divulgou nota nesta segunda-feira em que diz que paga todos os impostos devidos no Brasil numa reação à insinuação do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de que a empresa não coletaria os impostos referentes à publicidade no país.
"Desde que o Google se estabeleceu no Brasil em 2006, investimos centenas de milhões de dólares no país. Temos um centro de engenharia em Minas Gerais e uma presença significativa em São Paulo. O Google emprega mais de 600 pessoas no Brasil e em 2012 nós recolhemos mais de 540 milhões de reais em impostos para as diversas esferas do governo brasileiro. Nós pagamos todos os impostos que são devidos no Brasil, assim como em todos os outros países onde operamos", diz o texto.
A empresa não comentou a declaração do ministro sobre o Google estar se tornando um grande monopólio da mídia.
O diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais, Ricardo Pedreira, defendeu que o governo observe com atenção a situação do Google mas reiterou que a posição da associação é contrária a qualquer tipo de regulação que atinja jornais.
- Se de fato esta ocorrendo o não recolhimento de impostos, a gente tem uma concorrência desequilibrada e muito prejudicial aos demais meios que faturam com publicidade. No entanto, a posição da ANJ é contrária a qualquer regulação que vise algum controle da mídia, sobretudo na questão do conteúdo, que ele próprio deixa claro que seria inconstitucional. No caso de radio e televisão já existe todo um arcabouço legal, mas em relação aos jornais, seja na mídia impressa ou digital, não cabe qualquer tipo de regulação - afirmou Pedreira.
Os muitos problemas da Google
A Google enfrenta problemas jurídicos em outros lugares. Na União Europeia, uma investigação antitruste sobre a empresa já se arrasta há três anos. A Comissão Europeia, órgão executivo da UE, acusou a companhia de bloquear concorrentes como a Microsoft em seus resultados de busca. Na semana passada, anunciou-se que as partes estavam prestes a chegar a um acordo após concessões feitas pela Google — o que significa que a gigante de internet pode se livrar de multa de US$ 5 bilhões.
Em janeiro, a França aplicou à Google uma penalidade de € 150 mil dizendo que a empresa não respeitou as leis do país sobre confidencialidade de dados dos usuários. Tampouco a Espanha ficou satisfeita com a violação de informações de seus cidadãos e multou a Google em € 900 mil em dezembro de 2013. Antes, em abril, a Alemanha condenou a companhia a pagar € 145 mil por coletar dados pessoais para o serviço Street View.
Nos Estados Unidos, a Google concordou, em 2011, em pagar uma multa de US$ 500 milhões por ter veiculado anúncios de farmácias canadenses em seu site americano. A Justiça alegou que os anúncios facilitavam a importação ilegal de remédios do Canadá para os EUA.

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Colaboração: Caroline Hulle