Blog da disciplina de Mídias Globais. Aqui você encontrará o conteúdo necessário para a realização do curso. Em caso de dúvidas, entrar em contato com: lleo@puc-rio.br (Luiz Léo) e maripalm@puc-rio.br (Mariana Palmeira)
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
Abril muda Presidência, Direção Editorial e comando de Veja
25.02.16
Walter Longo e Alecsandra Zapparoli, assumem, respectivamente, a Presidência e a Direção Editorial da Abril. André Petry é o novo diretor de Redação de Veja em substituição a Eurípedes Alcântara, que segue no Conselho Editorial
A Abril anunciou nesta 5ª.feira (25/2) a mais importante mudança em sua cúpula executiva e editorial desde a morte de Roberto Civita, há quase três anos. Giancarlo Civita deixa a Presidência para dedicar-se exclusivamente à Presidência da Abrilpar, holding da família, e será substituído a partir de 1º/3 pelo publicitário Walter Longo. Victor Civita Neto deixa a Direção Editorial do Grupo, mas continua na Presidência do Conselho Editorial da Abril; no lugar dele entra Alecsandra Zapparoli. Muda também a Diretoria de Redação de Veja, que ficará sob o comando de André Petry – Eurípedes Alcântara, depois de quase 35 anos na revista, 12 dos quais como diretor de Redação, continuará no Conselho Editorial da Abril
Walter Longo terá sob sua responsabilidade as operações de Mídia, Gráfica e Distribuição. Publicitário e administrador de empresas com MBA na Universidade da Califórnia, ele vinha atuando como mentor de estratégia e inovação do Grupo Newcomm – holding de comunicação do Grupo WPP, que inclui as agências Young&Rubicam, Wunderman, Grey Brasil, VML, entre outras. Antes foi diretor regional para a América Latina do Grupo Young&Rubicam e presidente, no Brasil, de Grey Advertising, Wunderman Worldwide, TVA e do Grupo Newcomm Bates.
Alexandre Caldini, que assumiu a Presidência da Editora Abril em julho de 2014, passará a se reportar a Longo, assim como Cláudio Prado, desde novembro na Presidência executiva da DGB, holding de distribuição e logística do Grupo Abri, e Eduardo Costa, diretor da Abril Gráfica.
Alecsandra Zapparoli vinha atuando como diretora editorial de Estilo de Vida, que engloba marcas como Quatro Rodas, Superinteressante, Guia do Estudante, Viagem e Turismo, Saúde e Vip, entre outras. Antes, foi diretora de Redação de Veja São Paulo, onde começou como repórter, e teve passagens por DCI, Estadão e Editora Globo, entre outras. A partir de agora, além de ter uma linha direta com o Conselho Editorial, passa a integrá-lo, ao lado de Victor Civita Neto (presidente), Thomaz Souto Corrêa (vice), Eurípedes Alcântara, Giancarlo Civita e José Roberto Guzzo. Responderá a Walter Longo e terá sob o seu comando André Petry (Veja), André Lahoz (Exame), Paula Mageste (Femininas), Edward Pimenta (Estúdio ABC) e Sergio Gwercman (que deixa Quatro Rodas para assumir o lugar de Alecsandra em Estilo de Vida).
André Petry tem mais de 20 anos de atuação na própria Veja, onde foi editor de Política, chefe da sucursal de Brasília, colunista e correspondente internacional em Nova York, e ultimamente ocupava o cargo de editor especial.
Vale lembrar que dezembro passado a Abril anunciou um aporte de capital da família Civita e fechou um acordo para reperfilamento de sua dívida de curto e médio prazos, operação que, segundo o comunicado da empresa, “permitiu uma redução efetiva do endividamento e equilíbrio em suas finanças, deixando a empresa fortalecida para 2016”.
Por: Redação Jornalistas&Cia
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Como os brasileiros consomem mídia no Brasil
São Paulo – A televisão segue como o principal meio de penetração nos lares brasileiros, com uma diferença: 37% das pessoas dá atenção a ela e a internet ao mesmo tempo.
Entre os telespectadores, cresceu 77% o número dos que pagam para assistir canais a cabo no país, de 2010 para 2015. A maior parte deles é da classe A e B e tem entre 25 e 44 anos.
Essas mudanças de hábitos estão no estudo Target Group Index, da Kantar IBOPE Media, sobre o consumo e tendências de produtos, serviços e mídia dos brasileiros.
Confira a seguir os principais dados apurados na pesquisa:
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
The future of journalism in an age of social media and dramatic declines in print revenue
NICCO MELE – IN SEARCH OF A BUSINESS MODEL: THE FUTURE OF JOURNALISM IN AN AGE OF SOCIAL MEDIA AND DRAMATIC DECLINES IN PRINT REVENUE
Thursday, February 18, 2016,
11:00am-12:00pm
Taubman 275
11:00am-12:00pm
Taubman 275
February 18, 2016 — Nicco Mele, author, digital strategist and Wallis Annenberg Chair in Journalism at the USC Annenberg School of Journalism, discussed the future and feasibility of various news outlet business models.
Mele, who is also a former senior vice president and deputy publisher of the Los Angeles Times, and a Shorenstein Center board member, said that while the production and distribution of digital journalism are well understood, “what’s not well understood is how we make money or fund journalism in the digital age.”
Mele described a deepening crisis in the newspaper industry: although some outlets are seeing the largest online audiences they have ever had, revenue is still shrinking. On a local level, preprint advertising (e.g. coupons) has seen a steep decline as retailers like Wal-Mart and Best Buy face challenges of their own. Paradoxically, print advertising still generates the vast majority of newspaper revenue – an undesirable situation, given the cost of printing.
“If the next three years look like the last three years, I think we’re going to look at the 50 largest metropolitan papers in the country and expect somewhere between a third to a half of them to go out of business,” said Mele.
Mele noted that newer entrants such as Buzzfeed, Vox and Vice rely in large part on venture capital. “None of them are yet true public companies with a clear sense of what their revenue equation looks like,” he said.
And although philanthropic and government funding could be options, Mele stressed the importance of news outlets remaining economically independent from large institutions to better fulfill their duty of holding power accountable.
What is clear is that diversity in revenue streams will be an essential part of the future, said Mele, and part of the mix could include two effective but “underappreciated” options: subscription revenue and native content.
While The New York Times and NPR have a strong subscriber base, few other outlets do, said Mele. “Part of the challenge is an overreliance on paywalls – people think you put up a wall, and that’s how you’re going to force people to pay. I think that building a subscription base is a lot more about engaging people in a variety of channels,” he said. He added that paywalls also hurt digital distribution on platforms such as Google and Facebook.
Regarding native advertising, Mele said that while the wall between editorial and advertising exists for good reason, and advertising buys must never influence coverage, there is a “huge appetite” for branded content, and cited Vice as an example of an outlet with an in-house agency that produces branded content. “It’s important that we have, industry wide, a real discussion,” he said. “That doesn’t mean that we should throw that wall away. It means we have to come to some new norms and standards for how we preserve the integrity of newsrooms but also help meet the needs of being economically sustainable and viable.”
Native advertising and other new approaches could be a way for local news outlets to win back advertising dollars lost to competitors such as Google and Craigslist. “We’ve surrendered too much to the technology industry,” said Mele. “To a large extent, Facebook and Google substantially own audiences’ attention the way that newspapers used to,” he said, even though these platforms rely on the content of established news brands. Mele said he thinks that people “are hungry for the brands they trust in their community,” and news outlets should “fight back.”
Adapting to demographic shifts in local communities is also essential for remaining relevant to both readers and advertisers. The Los Angeles Times was slow to adjust to its changing market, which is home to large populations of more than 40 nationalities, said Mele. “The very demographics and ethnic makeup of our communities and cities are changing much faster than we’re able to recognize…our media needs to understand and represent that change both inside the newsroom, as well is in the business models, and in the relationships with advertisers…you have to be a part of your community.”
But even as new business models prove to be successful, media owners will still need to temper their expectations; newspapers no longer have the high profit margins that accompanied a monopoly on audience attention. “The future of journalism is small, scrappy enterprises that are entrepreneurial, that are innovative, that are trying things. And that means that the economic expectations of the performance of those institutions has to be reset,” said Mele.
In the face of an overall “unpleasant” situation, Mele remained forward looking. “It needs to be a clarion call, not for fear and craziness, but for increased innovation, for more failure, until we’re able to find models that work more aggressively – and I think we have a pretty good idea of what those models are.”
During the question and answer session, Mele also discussed his time at the Los Angeles Times, opportunities for longform journalism, crowdfunding, microfunding, verticals for niche audiences, hyperlocal journalism, the role of social media in the 2016 election and more. Listen to the full audio recording above.
Article and photo by Nilagia McCoy of the Shorenstein Center.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
O último clichê
Blog do Marceu Vieira
Publicado em 12 de fevereiro de 2016
Marceu Vieira
Descubro, surpreso, que, a exemplo do “Jornal do Brasil”, a querida “Tribuna da Imprensa”, onde minha história particular no jornalismo começou, ainda existe em versão on line. Apenas se suicidou no papel, ou foi suicidada, também como o velho JB.
Lembro que me entristeceu muito a notícia de que a “Tribuna” deixaria de circular. Foi no antigo jornal da Rua do Lavradio, na Lapa, que cometi meu primeiro lide. Era 1986, e eu, moleque ainda, subi aquela escada de madeira muito íngreme em busca de um estágio.
Fui recebido pelo Joaquim, chefe dele mesmo no setor de pesquisa, onde era o único funcionário. Joaquim, se minha memória não apronta desfeita, usava colares de umbanda e tinha a cara enfezada.
Contei minha história, disse que, sem o estágio, não conseguiria me formar na faculdade – eu estudava no Instituto de Arte e Comunicação Social, Iacs, da UFF – e pedi que me ajudasse.
Começava como editor-chefe naquele mesmo dia o grande jornalista Ricardo Gontijo. Joaquim, talvez tocado pela minha cara de andorinha molhada recém-pousada de um voo acidentado desde Morro Agudo, combinou de me apresentar como um afilhado ao Gontijo.
– Como é o teu nome? – perguntou.
– Marceu – respondi.
Esperei em silêncio no terceiro andar, num ambiente apinhado de jornais velhos que recendiam a mofo e a História. Joaquim foi almoçar, e fiquei ali, olhando tudo e sem tocar em nada, a não ser no embrulho do queijo quente feito em pão francês, já frio àquela altura, que eu havia comprado no botequim lá de baixo, o Boteco do Sabará, sujeito boa-praça, tão retinto quanto vascaíno, de quem eu viria a gostar tanto.
Quando o Joaquim voltou, e o Gontijo finalmente chegou para seu primeiro dia de trabalho, o meu “padrinho” me levou até ele, no segundo andar, onde ficava a redação, e disse, com seu vozeirão e sua moral de empregado mais antigo:
– Seu Gontijo, este aqui é meu afilhado, o… o… o…
– …Marceu… – cochichei.
– …meu afilhado Perceu! Ele precisa de estágio.
– …Marceu… – sussurrei de novo.
– Isso, o Alfeu! Não, o Alceu, quer dizer, o Morfeu! Ele precisa de estágio.
Depois de mais alguma espera, fui mandado para a rua com uma repórter bem bonita (não lembro agora o nome dela, mas o rosto, sim), e foi assim, com uma matéria nunca publicada sobre uma greve do metrô, que consegui minha primeira ocupação no jornalismo.
Na “Tribuna”, conheci gente que, até hoje, é referência pra mim. Tarso de Castro, que de colunista se tornaria editor-chefe no lugar do Gontijo, me apresentou a um Rio glamouroso que eu não conhecia. Iza Freaza, hoje Iza Salles, apostou em mim como um dos primeiros repórteres do suplemento “Tribuna Bis”. José Trajano, querido chefe, me fez, com meu coração rubro-negro, gostar ainda mais do seu América Futebol Clube. Teixeira Heizer, cracaço do texto e do bom senso, me deu lições de estética e ética que guardo para sempre.
Paulo Sérgio, com seu mau humor, tentou corrigir meus defeitos de repórter iniciante – e, claro, não conseguiu. Ramiro Alves viraria meu amigo da vida inteira. Celso de Castro Barbosa, idem. Vladimir Porfírio, meu irmão querido, também. Maurício Fonseca é mais um. As irmãs Lídia e Beth Pena, outras. Palmério Dória, Cosme Coelho, Paulino Senra, Venerando Martins, Carlos Ramos, Lilian Newlands, Deborah Dumar, Regina Perez, Ana Carvalho, Robertão Porto, Carla Rodrigues, os fotógrafos Alcyr Cavalcanti, Jorge I, Jorge II, Jorge Nunes e Marcus Vinícius, Continentino Porto, Hudson Carvalho, Juçara Braga, Geraldo Lopes, Arthur Parahyba, Antônio Caetano, os caricaturistas Jane e Marcelo, Argemiro Ferreira, o fabuloso Bertoldo, os velhos Napoleão e Aragão, Fábio Grecchi, tanta gente…
A começar pelo Helinho Fernandes, que assinou minha primeira carteira de trabalho na profissão e me mandou para uma temporada de um ano em Brasília, onde morei de favor na casa do amigo e baita repórter Jorge Oliveira, fui foca na Constituinte de 1988 e tive a alegria de fazer entrevistas longas (que adoraria recuperar) com políticos como o então também foca Lula, em seu primeiro e único mandato de deputado, o já emplumado e já famoso FH, Mário Covas, José Richa, Eduardo Suplicy e outros.
Nunca vou me esquecer dessas pessoas. Nunca vou me esquecer da “Tribuna”.
Pela “Tribuna”, entrevistei Luís Carlos Prestes num 1° de Maio na Quinta da Boa Vista e ganhei dele um livro autografado. Pela “Tribuna”, vi Leandro, maior lateral-direito do Flamengo, do Brasil e do mundo em todos os tempos, meter um golaço no ângulo de Paulo Victor num Fla-Flu. Pela “Tribuna”, assisti à tragédia do incêndio no Edifício Andorinha. Jamais vou esquecer.
Como também nunca vou conseguir me esquecer do “Jornal do Brasil”. Recordo que estava na África do Sul, em 2010, pelo “Globo”, quando li pela internet a notícia de que o JB de papel iria acabar.
Passei no JB os dias mais felizes da minha vida profissional. Passei no JB também os dias mais tristes. Foram oito anos. Oito anos tão intensos, divididos em dois períodos de quatro, que, na minha memória afetiva, pareceram bem mais de oito. Pareceram uma vida toda. Ainda parecem.
Quatro dias foram os mais marcantes da minha carreira de jornalista. Dois foram os mais felizes. Dois, os mais tristes. O primeiro mais feliz foi o da minha chegada ao JB, em 1988, se não me engano. O segundo foi o da minha volta, em 1994. O segundo mais triste foi o da minha primeira saída, em 1991. O mais triste de todos foi o da minha despedida para sempre, em 1998.
Talvez nada que eu ainda possa fazer nos anos que me restam na profissão marque tanto a minha carreira quanto os oito de JB. Eu gostava tanto daquela casa que, na minha neuropatia amorosa de jovem repórter, imaginava não haver ninguém que a amasse tanto. Nem seus donos.
Pelo JB, fui a Ouricuri, nos cafundós de Pernambuco, e entrevistei uma senhorinha que, nos fundos de seu quintal de chão rachado pela seca, administrava um cemitério particular. Era o cemitério informal de seus próprios filhos natimortos. Um quintal espetado por umas 15 cruzes, nenhuma delas amparada em atestado de óbito. Um Brasil que o Brasil jamais registrou. Como testemunha, estava comigo o grande repórter-fotográfico Tasso Marcelo.
Pelo JB, passei um mês na Floresta Amazônica à espera de uma epidemia de cólera que nunca chegou.
Pelo JB, em 1990, numa viagem a Porto Alegre, entrevistei Alceu Colares, então candidato ao governo gaúcho, num momento em que caía nas pesquisas depois de, em plena campanha, ter trocado a mulher negra por uma loura um pouco mais jovem, a quem a língua má da oposição chamava de “Xuxa”.
Colares chorou na entrevista, e o choro descrito e retratado na reportagem ganhou uma dimensão enorme em seu estado, e seu pranto queixoso de preconceito ecoou no Rio Grande do Sul, e o “Doutor Negrão”, como era conhecido por lá, voltou a subir nas pesquisas para vencer o direitista Nelson Marchesan.
Pelo JB, descobri uma praia deserta no Rio, onde Brizola, então governador, havia se refugiado para meditar e, em certa ocasião, levado seu amigo Mário Soares, socialista português, ali presidente de seu país. Brizola ia até lá de helicóptero, único meio de transporte possível até o refúgio.
Pelo JB, apresentei ao Rio e ao Brasil um botequim de Copacabana chamado Bip Bip.
Pelo JB, subi e desci todos os andares do Edifício Chopin, em Copacabana, num pós-réveillon, para um relato pretensiosamente antropológico da então riqueza decadente do Rio.
Pelo JB, ajudei a acrescentar linhas nas biografias do próprio Brizola, do Collor, do Lula, do FH, do Cesar Maia, do Marcello Alencar, do Moreira Franco, tantos outros políticos que ainda estão por aí ou já se foram.
Pelo JB, trabalhei quase 24 horas seguidas no dia em que o corpo de Tom Jobim chegou ao Brasil, em dezembro de 1994.
Pelo JB, tantas coisas.
No JB, tive a alegria de escrever no espaço que um dia havia sido de Castellinho. Saudade.
Por causa do JB, conheci Betinho, e muito escrevi sobre ele, seu calvário e sua morte. Saudade também.
Saudade do “200 no lugar da 20”, jargão de retrancas que só quem trabalhou lá pode entender. Saudade do quadrado de memória nas páginas de política, das minhas interinidades no “Informe JB” do meu guru eterno Ancelmo Gois.
Saudade de assistir ao amanhecer num boteco infame da Leopoldina depois das madrugadas de “pescoção”, saudade do pôr do sol em São Cristóvão, o mais bonito do Brasil. Saudade de tanta gente. Saudade de mim mesmo e do repórter-cronista que eu sonhei que poderia me tornar naquelas páginas impregnadas de tanta nobreza.
Publicado em 12 de fevereiro de 2016
Marceu Vieira
Descubro, surpreso, que, a exemplo do “Jornal do Brasil”, a querida “Tribuna da Imprensa”, onde minha história particular no jornalismo começou, ainda existe em versão on line. Apenas se suicidou no papel, ou foi suicidada, também como o velho JB.
Lembro que me entristeceu muito a notícia de que a “Tribuna” deixaria de circular. Foi no antigo jornal da Rua do Lavradio, na Lapa, que cometi meu primeiro lide. Era 1986, e eu, moleque ainda, subi aquela escada de madeira muito íngreme em busca de um estágio.
Fui recebido pelo Joaquim, chefe dele mesmo no setor de pesquisa, onde era o único funcionário. Joaquim, se minha memória não apronta desfeita, usava colares de umbanda e tinha a cara enfezada.
Contei minha história, disse que, sem o estágio, não conseguiria me formar na faculdade – eu estudava no Instituto de Arte e Comunicação Social, Iacs, da UFF – e pedi que me ajudasse.
Começava como editor-chefe naquele mesmo dia o grande jornalista Ricardo Gontijo. Joaquim, talvez tocado pela minha cara de andorinha molhada recém-pousada de um voo acidentado desde Morro Agudo, combinou de me apresentar como um afilhado ao Gontijo.
– Como é o teu nome? – perguntou.
– Marceu – respondi.
Esperei em silêncio no terceiro andar, num ambiente apinhado de jornais velhos que recendiam a mofo e a História. Joaquim foi almoçar, e fiquei ali, olhando tudo e sem tocar em nada, a não ser no embrulho do queijo quente feito em pão francês, já frio àquela altura, que eu havia comprado no botequim lá de baixo, o Boteco do Sabará, sujeito boa-praça, tão retinto quanto vascaíno, de quem eu viria a gostar tanto.
Quando o Joaquim voltou, e o Gontijo finalmente chegou para seu primeiro dia de trabalho, o meu “padrinho” me levou até ele, no segundo andar, onde ficava a redação, e disse, com seu vozeirão e sua moral de empregado mais antigo:
– Seu Gontijo, este aqui é meu afilhado, o… o… o…
– …Marceu… – cochichei.
– …meu afilhado Perceu! Ele precisa de estágio.
– …Marceu… – sussurrei de novo.
– Isso, o Alfeu! Não, o Alceu, quer dizer, o Morfeu! Ele precisa de estágio.
Depois de mais alguma espera, fui mandado para a rua com uma repórter bem bonita (não lembro agora o nome dela, mas o rosto, sim), e foi assim, com uma matéria nunca publicada sobre uma greve do metrô, que consegui minha primeira ocupação no jornalismo.
Na “Tribuna”, conheci gente que, até hoje, é referência pra mim. Tarso de Castro, que de colunista se tornaria editor-chefe no lugar do Gontijo, me apresentou a um Rio glamouroso que eu não conhecia. Iza Freaza, hoje Iza Salles, apostou em mim como um dos primeiros repórteres do suplemento “Tribuna Bis”. José Trajano, querido chefe, me fez, com meu coração rubro-negro, gostar ainda mais do seu América Futebol Clube. Teixeira Heizer, cracaço do texto e do bom senso, me deu lições de estética e ética que guardo para sempre.
Paulo Sérgio, com seu mau humor, tentou corrigir meus defeitos de repórter iniciante – e, claro, não conseguiu. Ramiro Alves viraria meu amigo da vida inteira. Celso de Castro Barbosa, idem. Vladimir Porfírio, meu irmão querido, também. Maurício Fonseca é mais um. As irmãs Lídia e Beth Pena, outras. Palmério Dória, Cosme Coelho, Paulino Senra, Venerando Martins, Carlos Ramos, Lilian Newlands, Deborah Dumar, Regina Perez, Ana Carvalho, Robertão Porto, Carla Rodrigues, os fotógrafos Alcyr Cavalcanti, Jorge I, Jorge II, Jorge Nunes e Marcus Vinícius, Continentino Porto, Hudson Carvalho, Juçara Braga, Geraldo Lopes, Arthur Parahyba, Antônio Caetano, os caricaturistas Jane e Marcelo, Argemiro Ferreira, o fabuloso Bertoldo, os velhos Napoleão e Aragão, Fábio Grecchi, tanta gente…
A começar pelo Helinho Fernandes, que assinou minha primeira carteira de trabalho na profissão e me mandou para uma temporada de um ano em Brasília, onde morei de favor na casa do amigo e baita repórter Jorge Oliveira, fui foca na Constituinte de 1988 e tive a alegria de fazer entrevistas longas (que adoraria recuperar) com políticos como o então também foca Lula, em seu primeiro e único mandato de deputado, o já emplumado e já famoso FH, Mário Covas, José Richa, Eduardo Suplicy e outros.
Nunca vou me esquecer dessas pessoas. Nunca vou me esquecer da “Tribuna”.
Pela “Tribuna”, entrevistei Luís Carlos Prestes num 1° de Maio na Quinta da Boa Vista e ganhei dele um livro autografado. Pela “Tribuna”, vi Leandro, maior lateral-direito do Flamengo, do Brasil e do mundo em todos os tempos, meter um golaço no ângulo de Paulo Victor num Fla-Flu. Pela “Tribuna”, assisti à tragédia do incêndio no Edifício Andorinha. Jamais vou esquecer.
Como também nunca vou conseguir me esquecer do “Jornal do Brasil”. Recordo que estava na África do Sul, em 2010, pelo “Globo”, quando li pela internet a notícia de que o JB de papel iria acabar.
Passei no JB os dias mais felizes da minha vida profissional. Passei no JB também os dias mais tristes. Foram oito anos. Oito anos tão intensos, divididos em dois períodos de quatro, que, na minha memória afetiva, pareceram bem mais de oito. Pareceram uma vida toda. Ainda parecem.
Quatro dias foram os mais marcantes da minha carreira de jornalista. Dois foram os mais felizes. Dois, os mais tristes. O primeiro mais feliz foi o da minha chegada ao JB, em 1988, se não me engano. O segundo foi o da minha volta, em 1994. O segundo mais triste foi o da minha primeira saída, em 1991. O mais triste de todos foi o da minha despedida para sempre, em 1998.
Talvez nada que eu ainda possa fazer nos anos que me restam na profissão marque tanto a minha carreira quanto os oito de JB. Eu gostava tanto daquela casa que, na minha neuropatia amorosa de jovem repórter, imaginava não haver ninguém que a amasse tanto. Nem seus donos.
Pelo JB, fui a Ouricuri, nos cafundós de Pernambuco, e entrevistei uma senhorinha que, nos fundos de seu quintal de chão rachado pela seca, administrava um cemitério particular. Era o cemitério informal de seus próprios filhos natimortos. Um quintal espetado por umas 15 cruzes, nenhuma delas amparada em atestado de óbito. Um Brasil que o Brasil jamais registrou. Como testemunha, estava comigo o grande repórter-fotográfico Tasso Marcelo.
Pelo JB, passei um mês na Floresta Amazônica à espera de uma epidemia de cólera que nunca chegou.
Pelo JB, em 1990, numa viagem a Porto Alegre, entrevistei Alceu Colares, então candidato ao governo gaúcho, num momento em que caía nas pesquisas depois de, em plena campanha, ter trocado a mulher negra por uma loura um pouco mais jovem, a quem a língua má da oposição chamava de “Xuxa”.
Colares chorou na entrevista, e o choro descrito e retratado na reportagem ganhou uma dimensão enorme em seu estado, e seu pranto queixoso de preconceito ecoou no Rio Grande do Sul, e o “Doutor Negrão”, como era conhecido por lá, voltou a subir nas pesquisas para vencer o direitista Nelson Marchesan.
Pelo JB, descobri uma praia deserta no Rio, onde Brizola, então governador, havia se refugiado para meditar e, em certa ocasião, levado seu amigo Mário Soares, socialista português, ali presidente de seu país. Brizola ia até lá de helicóptero, único meio de transporte possível até o refúgio.
Pelo JB, apresentei ao Rio e ao Brasil um botequim de Copacabana chamado Bip Bip.
Pelo JB, subi e desci todos os andares do Edifício Chopin, em Copacabana, num pós-réveillon, para um relato pretensiosamente antropológico da então riqueza decadente do Rio.
Pelo JB, ajudei a acrescentar linhas nas biografias do próprio Brizola, do Collor, do Lula, do FH, do Cesar Maia, do Marcello Alencar, do Moreira Franco, tantos outros políticos que ainda estão por aí ou já se foram.
Pelo JB, trabalhei quase 24 horas seguidas no dia em que o corpo de Tom Jobim chegou ao Brasil, em dezembro de 1994.
Pelo JB, tantas coisas.
No JB, tive a alegria de escrever no espaço que um dia havia sido de Castellinho. Saudade.
Por causa do JB, conheci Betinho, e muito escrevi sobre ele, seu calvário e sua morte. Saudade também.
Saudade do “200 no lugar da 20”, jargão de retrancas que só quem trabalhou lá pode entender. Saudade do quadrado de memória nas páginas de política, das minhas interinidades no “Informe JB” do meu guru eterno Ancelmo Gois.
Saudade de assistir ao amanhecer num boteco infame da Leopoldina depois das madrugadas de “pescoção”, saudade do pôr do sol em São Cristóvão, o mais bonito do Brasil. Saudade de tanta gente. Saudade de mim mesmo e do repórter-cronista que eu sonhei que poderia me tornar naquelas páginas impregnadas de tanta nobreza.
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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Chomsky: 'Este é o momento mais crítico na história da humanidade'
Chomsky repassa as principais tendências do cenário internacional, a escalada militarista do seu país e os riscos crescentes de guerra nuclear.
Por Agustín Fernández Gabard e Raúl Zibechi - La Jornada
“Os Estados Unidos sempre foram uma sociedade colonizadora. Inclusive antes de se constituírem como Estado já trabalhavam para eliminar a população indígena, o que significou a destruição de muitas nações originárias”, como bem lembra o linguista e ativista estadunidense Noam Chomsky, quando se pede que descreva a situação política mundial. Crítico feroz da política externa de seu país, ele recorda 1898, quando ela apontou seus dardos ao cenário internacional, com o controle de Cuba, “transformada essencialmente numa colônia”, e logo nas Filipinas, “onde assassinaram centenas de milhares de pessoas”.
Chomsky continua seu relato fazendo uma pequena contra-história do império: “roubou o Havaí da sua população originária 50 anos antes de incorporá-lo como um dos seus estados”. Imediatamente depois da II Guerra Mundial, os Estados Unidos se tornaram uma potência internacional, “com um poder sem precedente na história, um incomparável sistema de segurança, controlando o hemisfério ocidental e os dois grandes oceanos. E, naturalmente traçou planos para tentar organizar o mundo conforme a sua vontade”.
Contudo, ele aceita que o poder da superpotência diminuiu com respeito ao que tinha em 1950, o auge da sua hegemonia, quando acumulava 50% do produto interno bruto mundial, muito mais que os 25% que possui agora. Ainda assim, Chomsky lembra que “os Estados Unidos continua sendo o país mais rico e poderoso do mundo, e incomparável a nível militar”.
Um sistema de partido único
Em algum momento, Chomsky comparou as votações em seu país com a eleição de uma marca de pasta de dentes num supermercado. “Nosso país tem um só partido político, o partido da empresa e dos negócios, com duas facções, democratas e republicanos”, proclama. Mas ele acredita que já não é possível continuar falando dessas duas velhas coletividades políticas, já que suas tradições sofreram uma mutação completa durante o período neoliberal.
Chomsky considera que “os chamados democratas não são mais que republicanos modernos, enquanto a antiga organização republicana ficou fora do espectro, já que ambas as vertentes se moveram muito mais à direita durante o período neoliberal – algo que também aconteceu na Europa”. O resultado disso é que os novos democratas de Hillary Clinton adotaram o programa dos velhos republicanos, enquanto estes foram completamente dominados pelos neoconservadores. “Se você olha os espetáculos televisivos onde dizem debater política, verá como somente gritam entre eles e as poucas políticas que apresentam são aterrorizantes”.
Por exemplo, ele destaca que todos os candidatos republicanos negam que o aquecimento global ou são céticos – não o negam mas dizem que os governos não precisam fazer algo a respeito. “Entretanto, o aquecimento global é o pior problema que a espécie humana terá pela frente, e estamos nos dirigindo a um completo desastre”. Em sua opinião, as mudanças no clima têm efeitos comparáveis somente com os da guerra nuclear. Pior ainda, “os republicanos querem aumentar o uso de combustíveis fósseis. Esse não é um problema de centenas de anos, mas sim um criado pelas últimas duas gerações”.
A negação da realidade, que caracteriza os neoconservadores, responde a uma lógica similar à que impulsiona a construção de um muro na fronteira com o México. “Essas pessoas que tratamos de distanciar são as que fogem da destruição causada pelas políticas estadunidenses”.
“Em Boston, onde vivo, o governo de Obama deportou um guatemalteco que viveu aqui durante 25 anos, ele tinha uma família, uma empresa, era parte da comunidade. Havia escapado da Guatemala destruída durante a administração de Reagan. A resposta a isso é a ideia de construir um muro para nos prevenir. Na Europa acontece o mesmo. Quando vemos que milhões de pessoas fogem da Líbia e da Síria para a Europa, temos que nos perguntar o que aconteceu nos últimos 300 anos para chegar a isto”.
Invasões e mudanças climáticas se retroalimentam
Há apenas 15 anos, não existia o tipo de conflito que observamos hoje no Oriente Médio. “É consequência da invasão estadunidense ao Iraque, que é o pior crime do século. A invasão britânica-estadunidense teve consequências horríveis, destruíram o Iraque, que agora está classificado como o país mais infeliz do mundo, porque a invasão cobrou a vida de centenas de milhares de pessoas e gerou milhões de refugiados, que não foram acolhidos pelos Estados Unidos, e tiveram que ser recebidos pelos países vizinhos pobres, obrigados a recolher as ruínas do que nós destruímos. E o pior de tudo é que instigaram um conflito entre sunitas e xiitas que não existia antes”.
As palavras de Chomsky recordam a destruição da Iugoslávia durante os Anos 90, instigada pelo ocidente. Assim como Sarajevo, ele destaca que Bagdá era uma cidade integrada, onde os diversos grupos culturais compartilhavam os mesmos bairros e se casavam membros de diferentes grupos étnicos e religiosos. “A invasão e as atrocidades que vimos em seguida fomentaram a criação de uma monstruosidade chamada Estado Islâmico, que nasce com financiamento saudita, um dos nossos principais aliados no mundo”.
Um dos maiores crimes foi, em sua opinião, a destruição de grande parte do sistema agrícola sírio, que assegurava a alimentação do país, o que conduziu milhares de pessoas às cidades, “criando tensões e conflitos que explodiram após as primeiras faíscas da repressão”.
Uma das suas hipóteses mais interessantes consiste em comparar os efeitos das intervenções armadas do Pentágono com as consequências do aquecimento global.
Na guerra em Darfur (Sudão), por exemplo, convergiram os interesses das potências ocidentais e a desertificação que expulsa toda a população às zonas agrícolas, o que agrava e agudiza os conflitos. “Essas situações desembocam em crises espantosas, e algo parecido acontece na Síria, onde se registra a maior seca da história do país, que destruiu grande parte do sistema agrícola, gerando deslocamentos, exacerbando tensões e conflitos”, reflete.
Chomsky acredita que a humanidade ainda não pensa com mais atenção sobre o que significa essa negação do aquecimento global e os planos a longo prazo dos republicanos, que pretendem acelerá-lo: “se o nível do mar continuar subindo e se elevar muito mais rápido, poderá engolir países como Bangladesh, afetando a centenas de milhões de pessoas. Os glaciares do Himalaia se derretem rapidamente, pondo em risco o fornecimento de água para o sul da Ásia. O que vai acontecer com essas bilhões de pessoas? As consequências iminentes são horrendas, este é o momento mais importante da história da humanidade”.
Chomsky crê que estamos diante um ponto crucial da história, no qual os seres humanos devem decidir se querem viver ou morrer: “digo isso literalmente, não vamos morrer todos, mas sim se destruiriam as possibilidades de vida digna, e temos uma organização chamada Partido Republicano que quer acelerar o aquecimento global. E não exagero, isso é exatamente o que eles querem fazer”.
Logo, ele cita o Relógio do Apocalipse, para recordar que os especialistas sustentam que na Conferência de Paris sobre o aquecimento global foi impossível conseguir um tratado vinculante, somente acordos voluntários. “Por que? Simples: os republicanos não aceitariam. Eles bloquearam a possibilidade de um tratado vinculante que poderia ter feito algo para impedir essa tragédia massiva e iminente, uma tragédia como nenhuma outra na história da humanidade. É disso que estamos falando, não são coisas de importância menor”.
Guerra nuclear, possibilidade certa
Chomsky não é de se deixar impressionar por modas acadêmicas ou intelectuais. Seu raciocínio radical e sereno busca evitar o furor, e talvez por isso não joga palavras ao vento sobre a anunciada decadência do império. “Os Estados Unidos possuem 800 bases ao redor do mundo e investe em seu exército tanto quanto todo o resto do mundo junto. Ninguém tem algo assim, soldados lutando em todas as partes do mundo. A China tem uma política principalmente defensiva, não possui um grande programa nuclear, embora seja possível que cresça”.
O caso da Rússia é diferente. É a principal pedra no sapato da dominação do Pentágono, porque “tem um sistema militar enorme”. O problema é que tanto a Rússia quanto os Estados Unidos estão ampliando seus sistemas militares, “ambos estão atuando como se a guerra fosse possível, o que é uma loucura coletiva”. Chomsky acredita que a guerra nuclear é irracional e que só poderia suceder em caso de acidente ou erro humano. Contudo, ele concorda com William Perry, ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, que disse recentemente que a ameaça de uma guerra nuclear hoje é maior que durante a Guerra Fria. O intelectual estima que o risco se concentra na proliferação de incidentes que envolvem as forças armadas de potências nucleares.
“A guerra esteve a ponto de ser deflagrada inumeráveis vezes”, admite ele. Um de seus exemplos favoritos é o sucedido sob o governo de Ronald Reagan, quando o Pentágono decidiu provar as defesas russas através de uma simulação de ataques contra a União Soviética.
“Acontece que os russos levaram a sério. Em 1983 depois que os soviéticos automatizaram seus sistemas de defesa, foi possível detectar um ataque de mísseis estadunidense. Nesses casos, o protocolo é ir direto ao alto mando e lançar um contra-ataque. Havia uma pessoa que tinha que transmitir essa informação, Stanislav Petrov, mas decidiu que era um alarme falso. Graças a isso, podemos estar aqui falando”.
Chomsky defende que os sistemas de defesa dos Estados Unidos possuem sérias falhas, e há poucas semanas se conheceu um caso de 1979, quando se detectou um ataque massivo com mísseis que vinham da Rússia. Quando o conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, estava levantando o telefone para chamar o presidente James Carter e lançar um ataque de represália, chegou a informação de que se tratava de um alarme falso. “Há cada ano são registradas dúzias de alarmes falsos”, assegura ele.
Neste momento, as provocações dos Estados Unidos são constantes. “A OTAN está realizando manobras militares a 200 metros da fronteira russa com a Estônia. Nós não toleraríamos algo assim se acontecesse no México”.
O caso mais recente foi a derrubada de um caça russo que estava bombardeando forças jihadistas na Síria, no final de novembro. “Há uma parte da Turquia quase rodeada pelo território sírio e o bombardeiro russo voou através dessa zona durante 17 segundos, até ser derrubado. Uma grande provocação que, por sorte, não foi respondida pela força”. Chomsky argumenta que fatos similares estão sucedendo quase diariamente no mar da China.
A impressão que ele tem, e que expressa em seus gestos e reflexões, é que se as potências agredidas pelos Estados Unidos atuassem com a mesma irresponsabilidade que Washington, o destino do planeta estaria perdido.
Visão sobre a Colômbia
O linguista estadunidense Noam Chomsky conhece de perto a realidade colombiana. Fiel ao seu estilo e suas ideias, ele visitou o país e sua diversidade, conheceu a Colômbia que existe longe dos focos acadêmicos e midiáticos, adentrou no Vale do Cauca, onde grupos indígenas constroem sua autonomia, com base em seus saberes ancestrais, atualizados em meio ao conflito armado.
“Parece haver sinais positivos nas negociações de paz”, reflete Chomsky. “A Colômbia tem uma terrível história de violência desde o século passado, a violência nos Anos 50 era monstruosa”, lembrou ele, reconhecendo que a pior parte foi obra de operações paramilitares. Mais recentes são as fumigações realizadas pelos Estados Unidos, verdadeiras operações de guerra química, que deslocaram populações enormes de camponeses, para beneficio das multinacionais.
Como consequência, a Colômbia se tornou o segundo país do mundo em número de migrantes dentro do próprio território, depois do Afeganistão. “Deveria ser um país rico, próspero, mas está se quebrando em pedaços”, agrega. Por isso, se as negociações tiverem sucesso, eliminarão alguns dos problemas, mas não todos. “A Colômbia, mesmo sem o problema da guerrilha, continuará sendo um dos piores países para os defensores dos direitos humanos, para líderes sindicais e outros”.
Um dos perigos que ele observa, no caso de que se assine o acordo definitivo de paz, seria a integração dos paramilitares ao governo, uma realidade latente no país. Ainda assim, ele sustenta que a redução do conflito com as FARC seria um grande passo para frente, por isso acredita que deve se fazer todo o possível para contribuir com o processo de paz.
Tradução: Victor Farinelli
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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Samsung warns customers not to discuss personal information in front of smart TVs
Samsung has confirmed that its "smart TV" sets are listening to customers' every word, and the company is warning customers not to speak about personal information while near the TV sets.
The company revealed that the voice activation feature on its smart TVs will capture all nearby conversations. The TV sets can share the information, including sensitive data, with Samsung as well as third-party services.
The news comes after Shane Harris at The Daily Beast pointed out a troubling line in Samsung's privacy policy: "Please be aware that if your spoken words include personal or other sensitive information, that information will be among the data captured and transmitted to a third party."
Samsung has now issued a new statement clarifying how the voice activation feature works. "If a consumer consents and uses the voice recognition feature, voice data is provided to a third party during a requested voice command search," Samsung said in a statement. "At that time, the voice data is sent to a server, which searches for the requested content then returns the desired content to the TV."
The company added that it does not retain or sell the voice data, but it didn't name the third party that translates users' speech.
Update, Feb. 10: Samsung has updated its policy and named the third party in question, Nuance Communications, Inc. Meghan DeMaria
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sábado, 6 de fevereiro de 2016
Oportunidades e desafios do streaming para o audiovisual
BY BRENO AUGUSTO · 6 DE FEVEREIRO DE 2016
Aconteceu no dia 27 de janeiro, no palco Entretenimento, um debate entre especialistas de mídias digitais para discutir o atual cenário do streaming e quais as perspectivas desta tecnologia que está fazendo grandes gigantes da comunicação repensarem seus meios de comunicação.
Streaming pirateia ou não pirateia? Eis a questão
O debate foi aberto pelo mediador e especialista em TV digital, Salustiano Fagundes, que também foi curador da nona edição da Campus Party Brasil.
Salustiano apontou que o streaming, além de outros papéis, se apresenta como um parceiro do consumidor de TV fechada e aberta. Ele passa a ter ao seu dispor, no momento que desejar, somente a fatia da grade de programação com a qual simpatiza.
Apontou também que o mundo todo faz ou consome pirataria. E, neste contexto o streaming pode ser tanto um aliado quanto um inimigo deste tipo de furto.
Seu papel de inimigo dos barbas ruivas surge quando o streaming, por um preço justo, oferece ao consumidor produtos de qualidade com variedade e disponibilidade a qualquer hora.
Netflix fez diminuir pirataria na Austrália e EUA
Ancine – preocupação com conteúdo nacional
Alex Patê, superintendente de mercado da Ancine, apontou que já na década de 90 a indústria de TV fechada buscava oferecer conteúdo selecionável. Mas, só com a democratização da banda larga é que o vídeo por demanda passou a ser uma realidade.
A partir daí, cada um começou a proteger seus interesses.
Na Europa, países começaram a defender o conteúdo audiovisual nacional para que este tivesse o mínimo de espaço em serviços de conteúdo OTT – “Over the top“ como Netflix, Hulu Plus e Amazon Instant Video.
Cachorros grandes: Netflix vale U$ 49 bilhões, mais que GM. Hulu e Amazon vêm na cola
Na França, por exemplo, se exige que uma cota de quase 40% do que é oferecido seja nacional.
No geral são praticados percentuais menores e, ao invés de cota, se exige apenas uma “forcinha”, dando destaque a conteúdo nacional em horários de alta demanda.
No Brasil, o Conselho Superior de Cinema busca definir algumas diretrizes para o streaming, garantindo assim:
A livre competição;
A exibição de conteúdo brasileiro com destaque;
Recolhimento de percentual de ganhos revertidos para o fundo de desenvolvimento do audiovisual brasileiro.
Anatel – “Taca-le pau” Smart TV
Carlos Baigorri, superintendente de mediação da Anatel afirmou que um dos papéis da agência nacional de telecomunicações é regular os serviços oferecidos de banda larga e TV por assinatura.
Porém, com a chegada do streaming e o aumento na oferta destes serviços fez com que a regulação perdesse sentido em vários pontos que não se aplicam a esse tipo de serviço.
Baigorri defende que as regras a serem aplicadas na regulação dos serviços deve respeitar o princípio da isonomia, exigindo as mesmas coisas para os mesmos tipos de serviço.
“O governo não pode criar regras diferentes para coisas iguais” – afirmou Bairrogi.
streaming
Posições de Ancine e Anatel referente o streaming: novas posturas – Fonte: Divulgação (Campus Party / Breno Augusto)
Disse ainda que, neste aspecto, a internet traz a disrupção de certos aspectos exigidos pela agência.
Para isso ele utilizou o exemplo do WhatsApp que é considerado por operadoras de telefonia celular como um operador de celular pirata. Porém, esta visão não é compartilhada pela Anatel que o considera um novo modelo de negócio.
Ele considera que também deveria ser visto assim pelas operadoras de telefonia pois seria melhor para elas se adaptarem a esta inovação tecnológica.
“Operadoras de telecom tem de se adaptar” – disse Baigorri.
Ele ainda apontou que a maior ferramenta para a disseminação do streaming será a TV. Neste sentido, as Smart TV’s terão papel fundamental e que já existem soluções para que isso aconteça o mais rápido possível.
Apontou ainda que, no caso particular dele, que gosta de ver “Naruto” no Netflix usando seu Playstation, tinha problemas para fazê-lo quando sua esposa estava em casa, pois ela queria assistir “Bates Motel“.
Mas aí, com um Chromecast da Google comprado em uma grande rede varejista por R$ 217,00 pôde transformar sua TV de Led em uma Smart TV, deixando sua esposa satisfeita vendo o que queria, enquanto ele acompanhava seu anime predileto, ambos em streaming.
Streaming
Chomecast democratiza o streaming, destruindo grades de programação e casamentos – Fonte: Divulgação (Google/Breno Augusto)
Outro número que reforça esse ponto de vista é que as Smart TV’s já vendidas estão tendo seu devido uso aplicado por quem as procura.
Segundo ele, 98% das Smart TV’s adquiridas em 2015 foram conectadas à internet.
Imprensa – Importância do Marco Regulatório da Internet
Cristina de Luca, jornalista do IDG Now e da Rádio CBN, considerou que Ancine e Anatel assumiram uma posição progressista em relação ao streaming e parabenizou ambos representantes por essa evolução de posicionamento.
Ela chamou a atenção para o fato de que, naquele mesmo dia, o Decreto Regulatório do Marco Civil da Internet havia sido disponibilizado para consulta pública no site do Ministério da Justiça.
Em uma primeira análise, ela considerou que a regulamentação fez o que melhor poderia fazer em termos de regulamentar tecnologias que estão em franca evolução como o streaming: nada!
Deixou para que ficasse a cargo da Anatel analisar e mediar, caso a caso, o que não fosse aplicável ao regulamento, propondo soluções e sanções por conta própria.
Dessa forma se evita que a regulamentação nasça morta e que as operadoras executem “traffic-shapping” para solucionar seus problemas.
Ausência no debate
Além dos especialistas mencionados foi também convidado um representante do Ministério das Comunicações que não estava presente.
Pergunta 1
Dirigida ao representante da Anatel: Foi afirmado que hoje já existe operadora de telefonia celular limitando acesso a Netflix e YouTube. Existe algum tipo de sanção por parte da Anatel para este tipo de restrição?
Resposta
Carlos Bairrogi afirmou que, referente a lentidão de acesso da Vivo para acesso ao Netflix, não existe multa prevista para a empresa que não fez acordo com empresa de OTT.
Explicou que as operadoras podem realizar acordos com tais empresas e negociar os termos de transmissão de dados. E que isto pode ocorrer ou não, restringindo ou deixando livre o acesso ao consumidor, seus clientes.
Disse ainda que a melhor multa deve partir do cliente.
“O consumidor deve procurar aquilo que é melhor para ele.” – Afirmou Bairrogi
Réplica pergunta 1
Mas onde existe somente uma operadora disponível? Como mudar?
Resposta
Bairrogi explicou que a Anatel fez licitações com mais de 3500 pequenos provedores de internet espalhados pelo país. Em breve, após a regulamentação ser aprovada, eles poderão fornecer acesso a internet em regiões onde hoje existe limitação de oferta.
A queda no preço da fibra ótica hoje permite que o dono de uma Lan House, por exemplo, cabeie fibra ótica em uma região e seja provedor de acesso.
Pergunta 2
Operadoras de TV por assinatura podem fornecer concessão de canal de TV?
Resposta
O representante da Anatel afirmou que a concessão não é possível, pois esta é dada apenas para canais abertos de transmissão por via eletromagnética.
Porém, qualquer empresa privada de telecomunicações pode sim oferecer um canal em sua grade, pois se trata de serviço com sinal fechado.
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