quarta-feira, 15 de maio de 2019

Vírus para espionagem política denunciado pelo WhatsApp foi usado no Brasil

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Pesquisadores encontraram em 2018 rastro digital de mecanismo vendido por empresa israelense a Governos como arma de guerra


WhatsApp descobriu uma ampla vulnerabilidade que permitiu a instalação —silenciosa e sem qualquer descuido do usuário— de um software de espionagem política em celulares. Segundo revelou o Financial Times nesta segunda-feira, ao infectar o aparelho por meio de uma chamada de voz, o vírus é capaz de acessar informações sensíveis e executar ações, como ativar remotamente a câmera e o microfone. O Facebook, dono do WhatsApp, acusou a NSO Group, uma empresa israelense que fabrica cyber warfare (softwares de guerra cibernética), de ser a responsável pelo vírus infiltrado, chamado Pegasus. O WhatsApp não informou quantas pessoas foram afetadas no Brasil, mas já há rastros do uso do Pegasus no país entre agosto de 2016 e agosto de 2018, em plena corrida eleitoral.
Em setembro de 2018, o Citizen Lab, um renomado laboratório da Universidade de Toronto, publicou o relatório Hide and Seek, um exaustivo estudo no qual foram identificados 45 países com suspeita de infecção pelo mesmo vírus da NSO Group. Um dos países do informe é justamente o Brasil. Não se sabe quem teria comprado a ferramenta de guerra cibernética para usar em território brasileiro. A empresa israelense não a vende para clientes privados —só para Governos nacionais. O Citizen Lab identifica pelo menos 33 possíveis clientes da empresa, entre eles, países já conhecidos pelo uso abusivo destas ferramentas de vigilância contra a sociedade civil, mas os pesquisadores optaram por não revelar quais são eles. Eles dizem que os Estados que consomem o produto podem o estar utilizando para finalidades lícitas, como combate ao terrorismo e crimes virtuais.


Vírus para espionagem política denunciado pelo WhatsApp foi usado no Brasil

A tabela, originalmente publicada no relatório do Citizen Lab, agrupa as áreas afetadas por um mesmo cliente.

À diferença de outros escândalos envolvendo dados pessoais, como o da Cambridge Analytica, que explodiu após eleições norte-americanas de 2016 e obrigou o Facebook a repensar radicalmente sua política de privacidade, programas como o Pegasus não se dedicam à coleta massiva de dados, mas são empregados para monitorar alvos específicos. Trata-se de espionagem política perpetrada pelos Governos e suas Agências, podendo ser vigilância doméstica ou internacional.


Vírus para espionagem política denunciado pelo WhatsApp foi usado no Brasil
CITIZEN LAB

Imagem, originalmente publicada no relatório do Citizen Lab, mostra o domínio utilizado para distribuir o vírus no Brasil entre 2016 e 2018

O que se sabe é que o mesmo comprador que usou o Pegasus no Brasil também deixou rastro digital  em Bangladesh, Hong Kong, India e Paquistão. As infecções em território brasileiro foram associadas a Telemar Norte Leste S.A., que pertence a Oi e fornece serviço de telefonia e banda larga para dezenas de milhões de pessoas, especialmente no Nordeste. A Oi é a única provedora de telecomunicações brasileira que aparece no relatório. Questionada pela reportagem, a empresa informou que não há qualquer relação entre a segurança de seus serviços e suposto impacto do Pegasus para clientes da companhia. E ressaltou, ainda, que não controla nem tem responsabilidade legal sobre os conteúdos acessados e transações realizadas por seus clientes.


Vírus para espionagem política denunciado pelo WhatsApp foi usado no Brasil

A tabela, originalmente publicada no relatório do Citizen Lab, aponta as empresas de telecomunicações onde foram observados vestígios do Pegasus. A Telemar Norte Leste S.A. pertence à Oi e é a única empresa brasileira listada.

Alvos políticos e controvérsia no México

O estudo dos canadenses apontou que a estratégia dos espiões para infectar seus alvos, inclusive no Brasil, era a inserção de links maliciosos em conteúdos políticos. Quando o alvo clica no link, tem seu aparelho infectado. O principal link associado ao vírus no Brasil é o ‘signpetition[.]co’, o que, para o pesquisadores, é mais um indício de que os objetivos da espionagem seriam ativistas políticos.
O caso agora revelado pelo Financial Times transforma a operação em potencialmente muito mais grave. Segundo o WhatsApp, a NSO Group  ão precisa mais nem que o usuário descuidado clique no link esquisito. A empresa, segundo a reportagem, encontrou um atalho para operar por meio de uma falha de segurança no próprio Whatsapp —não importa o tipo, se para uso de negócios, Androide, Apple ou Windows.
A empresa israelense negou qualquer envolvimento com o episódio, mas essa não é a primeira vez que a NSO Group se envolve em polêmicas. A empresa já foi acusada de fornecer programas de espionagem para Estados com histórico de violações de direitos humanos, como a Arábia Saudita. O Governo do México também foi acusado de utilizar a tecnologia israelense para espionar jornalistas, advogados e defensores de direitos humanos.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

It´s time to break up Facebook

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Opinion
By Chris Hughes














The last time I saw Mark Zuckerberg was in the summer of 2017, several months before the Cambridge Analytica scandal broke. We met at Facebook’s Menlo Park, Calif., office and drove to his house, in a quiet, leafy neighborhood. We spent an hour or two together while his toddler daughter cruised around. We talked politics mostly, a little about Facebook, a bit about our families. When the shadows grew long, I had to head out. I hugged his wife, Priscilla, and said goodbye to Mark.
Since then, Mark’s personal reputation and the reputation of Facebook have taken a nose-dive. The company’s mistakes — the sloppy privacy practices that dropped tens of millions of users’ data into a political consulting firm’s lap; the slow response to Russian agents, violent rhetoric and fake news; and the unbounded drive to capture ever more of our time and attention — dominate the headlines. It’s been 15 years since I co-founded Facebook at Harvard, and I haven’t worked at the company in a decade. But I feel a sense of anger and responsibility.
Mark is still the same person I watched hug his parents as they left our dorm’s common room at the beginning of our sophomore year. He is the same person who procrastinated studying for tests, fell in love with his future wife while in line for the bathroom at a party and slept on a mattress on the floor in a small apartment years after he could have afforded much more. In other words, he’s human. But it’s his very humanity that makes his unchecked power so problematic.
Mark’s influence is staggering, far beyond that of anyone else in the private sector or in government. He controls three core communications platforms — Facebook, Instagram and WhatsApp — that billions of people use every day. Facebook’s board works more like an advisory committee than an overseer, because Mark controls around 60 percent of voting shares. Mark alone can decide how to configure Facebook’s algorithms to determine what people see in their News Feeds, what privacy settings they can use and even which messages get delivered. He sets the rules for how to distinguish violent and incendiary speech from the merely offensive, and he can choose to shut down a competitor by acquiring, blocking or copying it.
MARK’S INFLUENCE IS STAGGERING, FAR BEYOND THAT OF ANYONE ELSE IN THE PRIVATE SECTOR OR IN GOVERNMENT.
 
Mark is a good, kind person. But I’m angry that his focus on growth led him to sacrifice security and civility for clicks. I’m disappointed in myself and the early Facebook team for not thinking more about how the News Feed algorithm could change our culture, influence elections and empower nationalist leaders. And I’m worried that Mark has surrounded himself with a team that reinforces his beliefs instead of challenging them.
The government must hold Mark accountable. For too long, lawmakers have marveled at Facebook’s explosive growth and overlooked their responsibility to ensure that Americans are protected and markets are competitive. Any day now, the Federal Trade Commission is expected to impose a $5 billion fine on the company, but that is not enough; nor is Facebook’s offer to appoint some kind of privacy czar. After Mark’s congressional testimony last year, there should have been calls for him to truly reckon with his mistakes. Instead the legislators who questioned him were derided as too old and out of touch to understand how tech works. That’s the impression Mark wanted Americans to have, because it means little will change.

We are a nation with a tradition of reining in monopolies, no matter how well intentioned the leaders of these companies may be. Mark’s power is unprecedented and un-American.
It is time to break up Facebook.
We already have the tools we need to check the domination of Facebook. We just seem to have forgotten about them.
America was built on the idea that power should not be concentrated in any one person, because we are all fallible. That’s why the founders created a system of checks and balances. They didn’t need to foresee the rise of Facebook to understand the threat that gargantuan companies would pose to democracy. Jefferson and Madison were voracious readers of Adam Smith, who believed that monopolies prevent the competition that spurs innovation and leads to economic growth.
A century later, in response to the rise of the oil, railroad and banking trusts of the Gilded Age, the Ohio Republican John Sherman said on the floor of Congress: “If we will not endure a king as a political power, we should not endure a king over the production, transportation and sale of any of the necessities of life. If we would not submit to an emperor, we should not submit to an autocrat of trade with power to prevent competition and to fix the price of any commodity.” The Sherman Antitrust Act of 1890 outlawed monopolies. More legislation followed in the 20th century, creating legal and regulatory structures to promote competition and hold the biggest companies accountable. The Department of Justice broke up monopolies like Standard Oil and AT&T.
For many people today, it’s hard to imagine government doing much of anything right, let alone breaking up a company like Facebook. This isn’t by coincidence.
Starting in the 1970s, a small but dedicated group of economists, lawyers and policymakers sowed the seeds of our cynicism. Over the next 40 years, they financed a network of think tanks, journals, social clubs, academic centers and media outlets to teach an emerging generation that private interests should take precedence over public ones. Their gospel was simple: “Free” markets are dynamic and productive, while government is bureaucratic and ineffective. By the mid-1980s, they had largely managed to relegate energetic antitrust enforcement to the history books.
This shift, combined with business-friendly tax and regulatory policy, ushered in a period of mergers and acquisitions that created megacorporations. In the past 20 years, more than 75 percent of American industries, from airlines to pharmaceuticals, have experienced increased concentration, and the average size of public companies has tripled. The results are a decline in entrepreneurshipstalled productivity growth, and higher prices and fewer choices for consumers.
The same thing is happening in social media and digital communications. Because Facebook so dominates social networking, it faces no market-based accountability. This means that every time Facebook messes up, we repeat an exhausting pattern: first outrage, then disappointment and, finally, resignation.
In 2005, I was in Facebook’s first office, on Emerson Street in downtown Palo Alto, when I read the news that Rupert Murdoch’s News Corporation was acquiring the social networking site Myspace for $580 million. The overhead lights were off, and a group of us were pecking away on our keyboards, our 21-year-old faces half-illuminated by the glow of our screens. I heard a “whoa,” and the news then ricocheted silently through the room, delivered by AOL Instant Messenger. My eyes widened. Really, $580 million?



 



segunda-feira, 6 de maio de 2019

Polarização política está relacionada ao enfraquecimento do jornalismo, diz especialista

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Daniela Arcanjo
São Paulo

A avalanche de mudanças trazidas pelas redes sociais, o fenômeno das fake news e a mudança no mercado publicitário abalaram o jornalismo. Para a especialista americana Jane Kirtley, o enfraquecimento dos veículos afeta a democracia.

Para Kirtley, que é professora da Universidade de Minnesota, não há uma resposta pronta para resolver a crise no jornalismo, que envolve a negação dos fatos pelo público e ataques de atores políticos a veículos sérios.

“Essa é uma situação perigosa porque, se não podemos concordar com um conjunto básico de fatos, não sei como podemos ter uma discussão sobre como resolver problemas ou avançar o Estado de Direito, a equidade e todas aquelas coisas que são sinais de civilização”, afirma.

A jornalista e advogada está no Brasil para uma série de eventos. Na quinta-feira (2), esteve na Folha, onde concedeu a entrevista a seguir.

A sra. vê soluções para a crise no jornalismo?
Eu acho que enfrentamos muitos problemas. Até quando seremos capazes de permanecer financeiramente viáveis? A segunda questão é: a liberdade da imprensa pode perdurar em uma época em que homens fortes, em muitos países ao redor do mundo, estão levando seus seguidores a desconfiarem e, em alguns casos, a odiarem a mídia? Para a imprensa sobreviver, é preciso que existam leis que a proteja. Pode ser um estatuto, uma emenda constitucional, qualquer coisa, mas tem que existir. O maior problema é que, à medida que os veículos perdem apoio popular, é mais fácil para o governo impor mais restrições.

As pessoas não compartilham fake news apenas porque elas acreditam naquilo, mas porque querem acreditar. Como podemos mudar isso?
Bem, eu não sei. Porque agora é muito fácil encontrar pessoas, sites e instituições que simplesmente confirmam o que você já acredita. E jornalistas estão constantemente em um estado de fazer perguntas. Os bons jornalistas não levam as coisas como garantidas, não importa com quem eles estejam falando.

Alguns políticos usam o termo fake news para classificar a divulgação de qualquer fato que queiram esconder ou de que discordem. A imprensa deve continuar a usar esse termo?
O importante sobre o conceito de fake news é que precisamos definir o que significa. Você acabou de dizer que, para alguns políticos, é algo que os faz parecer malvados ou revela algo que eles não querem que você saiba. Eu definiria notícias falsas como algo que um jornalista ou outra pessoa publica sabendo que não é verdade e o faz deliberadamente, com a ideia de enganar. Na minha experiência, os jornalistas não fazem isso. Eles cometem erros. Eles entendem errado. Isso não é notícia falsa.

A eleição de vários políticos de extrema-direita no mundo está relacionada com as mudanças na mídia?
Acho que sim. Eu sempre hesito em colocar toda a culpa em uma só coisa, porque obviamente há muitos fatores. A economia é um fator enorme. Mas, se você tem uma imprensa altamente partidária e não tem nada que equilibre isso, então criará esse tipo de visão polarizada em que, em última análise, não é suficiente dizer “não concordo com você”. Eu tenho que dizer que você é malvado. Isso é antidemocrático. Alguns políticos contemporâneos estão dizendo a seus seguidores que o mundo vai acabar se não votarem neles. Essa é uma situação muito perigosa para se estar.