segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Desliga a TV e vá ler um livro


MTV pede a jovem para desligar a televisão




Nos últimos anos, não há como falar de campanhas de conscientização para jovens sem mencionar a MTV brasileira. Seja sobre sexo e DSTs, educação, política e ação social, a emissora se firmou como modelo no diálogo com adolescentes e adultos. E no último mês, mais uma vez, a emissora inovou em seus comerciais incluindo a seguinte mensagem estática e silenciosa: "Desligue a televisão e vá ler um livro".
Em um país em que apenas 24% das pessoas entendem realmente o que lê, torna-se imprescindível que se difunda o hábito de leitura entre os mais jovens. No entanto, ao defender uma postura menos passiva dos telespectadores, a emissora dá a impressão de ter dado um tiro no pé. A TV é um fracasso tão grande, que a melhor forma de se educar é pedindo ao espectador que a rechace?
Segundo André Mantovani, diretor-geral da MTV, a intenção é "chamar a atenção" e fazer o jovem "buscar outras fontes de informação". Esse objetivo foi alcançado, basta ver a quantidade de cartas enviadas pelos espectadores ao canal, e também pela repercussão no mercado publicitário, que elogiou a ação. Mesmo que parte da audiência tenha classificado como "cínica" a iniciativa.
Pensando nesses poucos e-mails críticos que chegaram a MTV, o questionamento é válido. Afinal, em vez de pedir para ir aprender em outro meio, não seria mais produtivo criar algum programa experimental que cumprisse o mesmo papel? Nesse sentido, se redimir de qualquer responsabilidade não é uma forma de cinismo?
Quem pensa o papel da televisão defende a participação da audiência na construção da programação. A apropriação dos meios de produção é uma das formas mais efetivas de identificação social e desenvolvimento de uma leitura crítica da mídia. Para Carol Bellammy, diretora executiva do Unicef, a juventude "deve ser incluída na construção da mídia, para entendê-la e se sentir representada".
Assim, a visão da especialista coloca a iniciativa da MTV em xeque, justamente quando ressalta a responsabilidade da emissora. Ela não apenas se exime do compromisso (leitura), como não sustenta os preceitos mais básicos de educação, ao não incentivar seus espectadores a repensar o papel da televisão. Uma leitura crítica de seu próprio meio, por assim dizer.
O crítico brasileiro de televisão Laurindo Leal Filho há anos discute os boicotes à programação televisiva. "O país não possui alternativas de lazer. Mais de 80% da população tem a TV como única fonte de entretenimento. Devemos melhorar a qualidade e não satanizar o meio", afirma.
Seja como for, não deixa de ser corajosa a iniciativa da MTV. A mesma coragem encontrada no canal Nickelodeon dos Estados Unidos, que vai ficar fora do ar por três horas, no dia 02 de outubro, para incentivar as crianças a fazerem esportes. A diferença, aqui, é que a o canal infantil tem uma proposta educativa envolvendo seus espectadores. Assim, ela garante não apenas um espaço destinado a atividades físicas, como também de entretenimento educativo em sua programação. E a MTV?