terça-feira, 26 de março de 2013

Credibilidade mantém jornais cruciais para publicidade



Com 11% no mercado anunciante, meio só perde para TV aberta


Para o publicitário Armando Strozemberg, há regularidade no segmento impresso
Foto: André Teixeira / Arquivo
Para o publicitário Armando Strozemberg, há regularidade no segmento impressoAndré Teixeira / Arquivo
RIO – Em um mundo cada vez mais digital, o jornal impresso continua interessante e crucial para o mercado publicitário. Segundo especialistas, credibilidade e público selecionado são fatores que fazem com que o meio continue relevante. Dados do Projeto Inter-Meios, coordenado pelo grupo Meio & Mensagem (M&M) em parceria com a PricewaterhouseCoopers (PwC), mostram que o investimento de publicidade no setor cresceu 9% entre 2007 e 2012, acumulando R$ 3,39 bilhões no ano passado, o equivalente a 11% do mercado, mantendo o segmento como o segundo preferido pelos anunciantes, perdendo apenas para os 65% da TV aberta.
Para Luiz Lara, presidente da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap), a tendência é que o investimento no meio continue crescendo nos próximos anos, principalmente por causa da credibilidade do meio.
— O que mais atrai é a credibilidade do veículo. É o reconhecimento de que o jornal pauta os comentários, pauta outros meios e vai para as conversas no Twitter e Facebook — afirma Luiz Lara.
O publicitário Armando Strozemberg, no mercado há mais de 30 anos, destaca a capacidade do meio de falar para um público mais identificado com a marca.
— Os jornais estão entre as categorias de veículos mais calibradas no quesito de conhecer a sua audiência com mais profundidade — diz Strozemberg.
O investimento publicitário no segmento tem tido crescimento abaixo da média do mercado nos últimos anos, mas mantém tendência de alta consistente. Em 2012 foi de 0,67%. Já em 2010 e 2011, foi de 3,4% e 3,8%, respectivamente. Para Strozemberg, os dados refletem o papel do jornal no mercado.
— Ficaria mais preocupado se fosse um salto muito grande. O crescimento contínuo mostra que ele tem fundamento e está em linha com a relação que o meio tem com o leitor — avalia.
‘O que vale é a marca’
José Carlos Salles Neto, presidente do grupo Meio & Mensagem, destaca a importância da presença multiplataforma. Segundo ele, o prestígio de um jornal o acompanha em qualquer suporte:
— A mídia cada vez mais tem um projeto 360º. De alguma maneira, a campanha vai chegar ao consumidor. O anunciante tem que ficar atento para obter melhores resultados utilizando as disponibilidades que ele tem, que formam esse mundo de plataforma de mídia — afirma Salles Neto.
— O que vale é a marca. O anunciante busca alinhar o prestígio da própria marca com o do veículo. Isso vai continuar, com o conteúdo e qualidade na mídia digital — acrescenta Luiz Lara, da Abap.
Ronaldo Rangel, presidente da Associação Brasileira de Propaganda (ABP), confirma a tendência, destacando que a estratégia é de convergência:
— Nenhum consumidor de produtos ou serviços é usuário de apenas um meio de comunicação. Para ter a melhor interação com o consumidor são utilizadas várias mídias complementares, mesclando meios e veículos.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A propaganda que paga para o usuário assistir ao anúncio


Modelo, chamado de franco, foi inicialmente usado em jogos sociais
A relação com o consumidor na grande rede apresenta vários desafios: é preciso entregar realmente o que se propaga, do contrário todos põem a boca no trombone. Filmes com situações supostamente verdadeiras, mas que acabam se revelando "de mentira", têm má repercussão.

- E já houve casos em que grandes empresas foram flagradas criando falsos perfis para curtir suas próprias campanhas, o que é lamentável - diz Julien Turri, da Hi-Mídia.

- Lembro da campanha da Gillette denegrindo os homens peludos e barbudos, que acabou retirada do ar com a má repercussão - diz Paula Chimenti, da Coppead.
Outra questão é a da publicidade em smartphones. Ela acaba sendo bem mais invasiva do que no desktop, como qualquer usuário do app móvel do Facebook pode comprovar - é preciso rolar o anúncio que aparece no news feed para ir aos posts que interessam. E isso deve ficar mais grave com o novo news feed da rede de Mark Zuckerberg, que permitirá imagens maiores.

Para Turri, a publicidade nos celulares ainda está num estágio inicial.

- E existe um desafio ainda maior na mobilidade, a receita.

Segundo colegas europeus, cujo público-alvo já começou a migrar mais fortemente para os smartphones (cerca de 40%, 50%), a rentabilidade cai muito, pois no celular o internauta interage menos com as marcas - explica o executivo.
Mykael Rozenbrah, sócio da Exa Muktimídia, diz que a lógica da propaganda tradicional é invertida nas mídias sociais a ponto de o internauta ser de algum modo 'pago' para vê-la.

- É o que se chamada de publicidade franca. Nos jogos sociais, já trabalhamos com uma solução que oferece créditos ao usuário para que ele veja um anúncio e, assim, possa investir mais nas suas construções num CityVille, ou abrir novas fases em outros games - diz. - Isso tem gerado um engajamento de 65% dos usuários abordados. E, no futuro, poderá ser um dos principais modelos de publicidade, extensível à TV interativa. Pode-se oferecer um anúncio para a pessoa ver de graça um programa. (André Machado)

Receita de agências digitais mais que dobra no Brasil




Com propaganda em mídias sociais, faturamento vai a R$ 2,2 bi por ano
ANDRÉ MACHADO

A internet, as redes sociais e a mobilidade mudaram para sempre a propaganda. O poder conferido aos consumidores com a chegada do ciberespaço se estende à sua relação com as marcas. As empresas acordaram para isso e começam a investir maciçamente nas ações de publicidade e marketing nas mídias sociais. Segundo pesquisa da Associação Brasileira das Agências Digitais (Abradi), o faturamento do setor entre 2010 e 2012 saltou 125%, de R$ 974 milhões para R$ 2,2 bilhões por ano, e o número de agências especializadas em mídia digital no país cresceu, no mesmo período, de 2.518 para 3.094, um avanço acima de 20%.
— Entre 2011 e 2012, nosso investimento em anúncios no Facebook aumentou 118%, e só em janeiro e fevereiro deste ano corresponde a 48,9% do investimento feito em todo o ano passado — revela Mykael Rozenbrah, sócio da Exa Multimídia.
Eduardo Barbato, diretor de Estratégia da Agência3, atesta o forte movimento em direção ao público on-line. Diz que os clientes estão revendo seus investimentos para não ficar para trás.
— Posso dizer que temos clientes que saltaram do investimento zero para quase R$ 1 milhão em um ano. Outros cresceram 300%. Na média, tivemos um crescimento de quase 40% de investimento em web. Existem clientes da casa que já investem quase 60% da verba em on-line.
O mercado web no país é palpitante, uma vez que os brasileiros estão entre os povos que passam mais tempo na internet. Segundo a comScore, os internautas brasileiros (94,2 milhões) passam 27 horas por mês navegando na rede. E 36% desse tempo são gastos nas redes sociais. Não por acaso, o Brasil já é o segundo país que mais cresce no Facebook, com 65 milhões de usuários.
Travar contato com o consumidor nas mídias sociais é muito diferente das mídias tradicionais. Paula Chimenti, uma das coordenadoras do Centro de Estudos em Estratégias e Mídias Digitais do Coppead/UFRJ, explica que a internet rompeu com o modelo de cima para baixo a que a publicidade estava acostumada.
Era o modelo de interrupção, tanto que chamamos de “break” o momento do anúncio na televisão, por exemplo — diz Paula. — Seth Godin, em seu livro “Marketing de permissão”, diz que, quando se passa de um ambiente em que a empresa tem o controle para outro em que o controle é do consumidor, a solução é oferecer conteúdo relevante, para que o usuário queira fazer interface com a empresa, porque ele não quer mais ter interrompida sua fruição do que está vendo, ouvindo ou lendo.
Nada de produtos genéricos
Para Julien Turri, diretor-executivo da Hi-Mídia, não se pode oferecer um produto genérico no Facebook, como uma camisa branca. É preciso personalizar, sair do comum, ter algo a dizer. E para isso se deve saber mais sobre a personalidade e os hábitos do usuário.
— Dentro da ferramenta Facebook Exchange, temos acesso aos dados dos usuários da rede social e podemos direcionar melhor as campanhas na rede social — explica Turri. — Saber, digamos, que o usuário é mulher, sua localização, hábitos, faixa etária, facilita esse caminho. E saber, via cookies, que fora da rede social ela navegou nos sites de certas marcas, juntando isso com dados sociais, permite campanhas mais direcionadas e eficazes.
De acordo com Turri, a taxa de conversão dessas campanhas em compras é muito acima do que ocorre na mídia tradicional — especialmente em sapatos, moda, venda de passagens aéreas e eletrônicos. Mykael Rozenbrah, da Exa, vai além: diz que é possível calcular o retorno financeiro de uma campanha em função do investimento, já que na internet a dispersão do usuário é mínima, pois ele sabe o que quer. Rozenbrah define a rede como a única mídia reativa ao consumidor — as outras seriam proativas, gritando “quem quer comprar? Eu tenho!”, enquanto na internet é o consumidor que grita: “eu quero comprar, quem tem?”.
— Investir na mídia tradicional é como jogar uma rede no mar. Já na internet, você já sabe a isca favorita dos peixes, quantos deles há ali, e pode passar de barco gritando: “Ei, peixe, pule aqui que tem essa isca”. E eles pulam. Quanto maior o barco (o investimento), mais peixes (consumidores) pulam.

sábado, 23 de março de 2013

População tem mais acesso a celulares que a banheiros, diz ONU


São 6 bilhões de pessoas com telefone, contra 4,5 bilhões com saneamento básico
NOVA YORK — Para exigir maiores investimentos em saneamento básico, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou uma estatística inusitada e alarmante: no mundo existem mais pessoas com acesso a celular do que a banheiros.
— Eu chamo todos os atores — governos, sociedade civil, empresas e organizações internacionais — a mobilizarem recursos para o rápido aumento do acesso ao saneamento básico — disse Jan Eliasson, vice-secretário-geral da ONU, na quinta-feira, em evento sobre o Dia Mundial da Água, comemorado nesta sexta.
De acordo com os números divulgados pela ONU, das 7 bilhões de pessoas no mundo, 6 bilhões possuem telefones celulares. Entretanto, apenas 4,5 bilhões possuem acesso a banheiros ou latrinas, ou seja, 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso ao saneamento básico. Além disso, 1,1 bilhão de pessoas ainda defecam em lugares abertos.
— Esse é um problema que as pessoas não gostam de discutir. Mas ele é central para assegurar boa saúde, meio-ambiente limpo e dignidade humana fundamental para bilhões de pessoas — ressaltou Eliasson.
Para o vice-diretor-executivo da Unicef, Martin Mogwanja, o acesso ao saneamento básico é essencial para a diminuição da mortalidade infantil. Segundo ele, a erradicação do hábito de se defecar ao ar livre reduziria em 36% a incidência de diarreia, doença que todos os anos é responsável pela morte de 750 mil crianças com menos de cinco anos.

sexta-feira, 22 de março de 2013

YouTube supera a marca de 1 bilhão de acessos ao mês


 



A audiência mensal do site equivale à de dez SuperBowl, final do campeonato de futebol americano que é um dos programas mais assistidos no mundo
Foto: ERIC GAILLARD / REUTERS
A audiência mensal do site equivale à de dez SuperBowl, final do campeonato de futebol americano que é um dos programas mais assistidos no mundo ERIC GAILLARD / REUTERS
RIO — Um bilhão de pessoas acessa o YouTube pelo menos uma vez por mês, anunciou o site de vídeos da Google nesta quinta-feira, em post comemorativo no blog da empresa.
O YouTube atingiu a marca oito anos depois de lançado e menos de sete anos depois de ter sido comprado pela Google, em 2007, por US$ 1,65 bilhão. O Facebook chegou ao mesmo número de usuários únicos ativos mensais em oito anos, enquanto o Twitter, que existe há sete anos, tem apenas 200 mil desses usuários.
Para celebrar, o blog da companhia fez algumas comparações a partir do número. Por exemplo: quase metade dos internautas do planeta acessa o YouTube todo mês. A audiência mensal do site equivale à de dez SuperBowl, final do campeonato de futebol americano que é um dos programas mais assistidos no mundo.
O site tem sido beneficiado pela popularização da internet banda larga em escala global — quem já tentou entrar no site em uma conexão discada sabe quão irritante e sem graça é a experiência. Tanto que o número de visitantes únicos do YouTube cresceu 25% em apenas um ano.

Napster: dois adolescentes e uma revolução cultural



Filme conta a história do serviço que mudou a forma como o mundo ouve música
Shawn Fanning (à esquerda) e Sean Parker em cenas de “Downloaded”
Foto: Divulgação
Shawn Fanning (à esquerda) e Sean Parker em cenas de “Downloaded” Divulgação
LONDRES - Em 1999, ainda um adolescente de boné, Sean Parker, futuro investidor bilionário do Facebook, disse a jornalistas que um dia “todo mundo vai ouvir música no celular”. Era mais ou menos, lembra ele, como “tentar vender eletricidade para as pessoas antes da invenção da lâmpada elétrica”.
“Downloaded”, filme que conta a história do serviço de compartilhamento digital de música Napster, está cheio de momentos assim, em que os fundadores da companhia, Parker e Shawn Fanning, já vislumbram um futuro no qual os fãs ouvem música em aparelhos diversos, mesmo enquanto todo mundo está indo à Virgin Megastore para comprar o disco das Spice Girls.
O documentário de duas horas teve sua première mundial no festival South by Southwest, encerrado no último domingo, no Texas, com a presença dos dois fundadores do Napster e do diretor do filme, Alex Winter. O cineasta de 47 anos ainda é mais conhecido pelo papel de Bill S. Preston, que desempenhou nas comédias “Bill e Ted — Uma aventura fantástica”, de 1989, e “Bill e Ted — Dois loucos no tempo”, de 1991, além do Marko de “Os garotos perdidos” (1987) e de codirigir e estrelar “Freaklândia — Parque dos horrores” em 1993. Desde então, ele pouco fez além de dirigir séries de TV. Esta versão da história do Napster tem algo de Bill e Ted, dois adolescentes que acabam, involuntariamente, mudando a História.
Parker e Fanning, de Virgínia e Massachusetts, respectivamente, se conheceram em uma sala de chat na internet, nos anos 1990. Com 17 e 18 anos, foram para a Califórnia para fundar o Napster, uma comunidade digital de compartilhamento gratuito de música.
— Éramos meninos, nunca tínhamos andado de avião — lembra Fanning. — De repente, nossos ídolos pareciam querer nos matar.
26 milhões de usuários em dois anos
Quinze anos depois, percebe-se como o Napster era audacioso: em dois anos de operação, ele chegou a 26 milhões de usuários, deixou de joelhos a indústria musical, que valia US$ 50 bilhões e mudou a percepção dos fãs, que passaram a pensar se gostariam de pagar ou não por suas coleções de discos. No filme, as gravadoras lembram como ficaram em “emboscadas” armadas pelos garotos; elas os chamavam de ladrões, piratas, mercenários. Se o público acreditar em Parker e Fanning, eles eram apenas adolescentes em um pequeno escritório no Vale do Silício que não tinham a menor intenção de rearrumar a indústria musical; mas se não fossem eles, outra pessoa faria isso.
— Em 1998, já havia tecnologia para uma loja do iTunes ou para um serviço de streaming — diz Parker. — As gravadoras sabiam disso, mas a atitude delas era: “Como podemos bloquear isso, ou como faremos para garantir que ninguém nunca vai roubar uma faixa de nós?”. Eles estavam apavorados. Nós apenas preenchemos uma lacuna que as gravadoras tiveram a chance de ocupar, mas se recusaram. Eles perderam a indústria inteira por isso.
O Napster acabou em 2001, depois de enfrentar processos de companhias e dos artistas — Metallica e Dr. Dre foram os mais badalados. Mas suas ideias não morreriam. Sean Parker levou suas noções de comunidade e streaming de música em suas empreitadas seguintes, o Facebook e o Spotify. O Napster iniciou um movimento que levaria à queda dos pilares da velha indústria fonográfica na década seguinte.
A empolgação da época é palpável no documentário, que retrata o surgimento do movimento música-de-graça-para-todos. Parker lembra a “época de ouro para a música. Eu nunca vi tanta paixão na descoberta de artistas como naquele ano, 1999”.
Alex Winter diz que fez o filme por ser “fã do Napster”. Fatos como o Wikileaks o incentivaram, já que “uma década depois do Napster, pouco mudou em relação à desconfiança geral que se tem do compartilhamento de informação on-line. Eu quis colocar a história deles nesse contexto”.
O que ele fez, no entanto, foi capturar um pouco da energia e da alegria daquele tempo — uma lembrança de como, recentemente, jovens ousados comandaram uma revolução cultural.

terça-feira, 19 de março de 2013

O ano dos sites pagos


O relatório State of News Media mostra que, enfim, os jornais americanos começaram a sair de sua pior crise

Saiu a edição 2013 do State of News Media, o profundo relatório anual do Pew Research Center que analisa como anda o jornalismo e o negócio da notícia, nos EUA. E, pela primeira vez em muito tempo, as notícias são boas para quem deseja a sobrevivência do jornalismo profissional. Foi, 2012, o ano do paywall. Da cobrança pelos sites. Dos 1.380 jornais americanos, 450 iniciaram alguma forma de assinatura digital. E os leitores toparam.
Já há muito tempo que o negócio do jornal, nos EUA, anda mal. Mas o ano passado parece ter marcado uma virada. Embora a queda no lucro com publicidade tenha sido de 7%, a queda geral ficou em 3%. Isto quer dizer que as novas entradas, principalmente no aumento de circulação digital e impressa, começaram a inverter a curva. (Os números do Brasil são bem diferentes, melhores.)
Um dos pontos fundamentais da estratégia de assinatura digital inicialmente adotada pelo “New York Times” e, depois, por inúmeros outros, é o estímulo ao crescimento da circulação do jornal impresso.
Trata-se de um tripé. Começa com o paywall. Quem frequenta muito um site, após um tempo, encara uma tela que pede a assinatura. O segundo ponto, porém, é que o paywall é poroso. Por um motivo simples. A maioria dos leitores de um site de notícias não vem toda hora. Assim, um número razoável de matérias é oferecido gratuitamente. Os textos lidos por quem chega via redes sociais ou Google também não contam no limite de matérias que exigirão assinatura.
Há um raciocínio, aí. A publicidade, na web, vem com volume. Como o grande volume de páginas exibidas é gerado por quem vem pouco, não se corre o risco de abandonar estes recursos. Por outro lado, os leitores que mais frequentam o site são justamente aqueles que mais valorizam a informação. É onde entra o terceiro ponto do tripé.
Na fórmula mais adotada, o digital é gratuito ou muito mais barato para os leitores que assinam o jornal impresso. E, invariavelmente, há um pacote de assinatura impressa, às vezes um pacote de fim de semana, que sai mais em conta do que a assinatura digital. E o aumento da circulação do impresso estimulado por essa estratégia gera maior rendimento publicitário no papel.
A Gannett, maior grupo editorial dos EUA, aumentou seu lucro com circulação (impressa e digital) em 17%. No “New York Times”, o rendimento com circulação ultrapassou o com publicidade.
Circulação de impressos também cresceu
O leitor não é ingênuo nessa história. Aliás, a ideia é justamente o oposto disso. Ao reconhecer o valor da informação, se oferece a pagar. Porque, no lado da publicidade, o ambiente é ruim. Há mais opções para os anunciantes. E, em ambientes como o dos celulares, este dinheiro praticamente não existe. Metade dos americanos tem smartphones. A renda com publicidade móvel, porém, corresponde a 1% de toda publicidade digital.
No tablet, que é muito novo, há esperança. Até 31% dos americanos têm tablets. As agências publicitárias ainda não sabem o que fazer com os aparelhos. Mas os aplicativos de notícia parecem atrair muito mais a atenção dos leitores do que os sites. (No app do Globo, cada visita dura em média uma hora e meia; é mais até do que o jornal) Tanta atenção parece favorecer uma publicidade voltada ao branding, às marcas. E, nisso, há algum sucesso com grandes patrocinadores destes programas.
No fim, a estratégia completa fez aumentar também a circulação de papel. Aos domingos, que é o dia onde há mais jornais na rua, aumentou em 5%. Hoje, nos números de todo o país, 15,3% das assinaturas são digitais.
Nos EUA, a crise dos jornais que teve início em 2007, 2008, foi muito séria. O resultado é que demissões de jornalistas em todo o país e o fechamento de inúmeras redações fizeram com que o número de empregados da imprensa chegasse a menos de 40 mil, o menor desde 1978. Sem a qualidade que vem de sólidas redações, será difícil captar assinantes que reconhecem valor no que lêem. Afinal, produção jornalística barata e de graça é o que mais tem na web. É o desafio dos próximos anos.

‘Washington Post’ decide cobrar por conteúdo noticioso online


Washington Post planeja começar a cobrar pelo acesso a parte de seu conteúdo digital a partir de meados deste ano nos EUA, tornando-se um dos últimos grandes jornais americanos a partir para a cobrança como meio de reforçar a receita proveniente de material online.
Leitores online do jornal serão obrigados a pagar uma taxa de assinatura após acessar 20 artigos gratuitos por mês. Assinaturas da edição impressa do jornal darão acesso gratuito a todo o conteúdo digital do Post. O anúncio das mudanças foi feito na segunda-feira (18/3), sem quaisquer detalhes adicionais sobre preços.
“Os consumidores entendem o alto custo da operação de coleta de notícias e reconhecem a importância de manter reportagens aprofundadas, pelas quais o Post é conhecido”, escreveu a editora-chefe do diário, Katharine Weymouth, em comunicado.
“Proposta irracional”
Em reunião com a equipe do jornal, Katharine afirmou que continuar aumentando o preço cobrado pelo impresso, mantendo o conteúdo digital gratuito, é “uma proposta irracional para os leitores”.
O diretor-executivo do Post, Donald E. Graham, por muito tempo foi receoso com a implantação da cobrança pelo conteúdo digital, pois temia que a medida afastasse leitores e anunciantes. “A razão pela qual ainda não adotamos a cobrança é que não encontramos um modelo que realmente aumente a receita”, disse Graham, em conferência de mídia realizada em dezembro do ano passado, em Nova York.
Agora, isso mudou. O plano para começar a cobrar os leitores pelo acesso digital foi divulgado no momento em que jornais enfrentam sérios desafios, já que os anunciantes – que já foram a principal fonte de receita – começam a optar por gastar seus dólares em outras mídias.
A publicidade impressa para a indústria de jornais apresentou queda pelo sexto ano consecutivo em 2012, caindo 7,3%, de acordo com “The State of the News Media”, um influente relatório anual divulgado na segunda-feira (18/3) pelo Project for Excellence in Journalism (Projeto para Excelência em Jornalismo), do Pew Research Center. Em função da queda na receita de publicidade impressa, a diferença entre os conteúdos impresso e digital é surpreendente: para cada US$ 1 ganho em publicidade digital, há uma perda de US$ 16 na publicidade impressa, diz o relatório.
Receita publicitária caiu 14%
No Post, a receita com publicidade impressa caiu 14%, para US$ 228,2 milhões em 2012. Já a publicidade digital, que inclui a revista online Slate, apresentou aumento de 5%, chegando a US$ 110,6 milhões.
O modelo do Post é o mesmo adotado com sucesso pelo New York Times, que bloqueia o acesso ao material publicado após a leitura de um dado número de reportagens. Segundo o Pew Research Center, cerca de 32% dos jornais diários nos EUA cobram por algum tipo de acesso digital.

Parlamento britânico fecha acordo para regular mídia


Instância poderá impor multas de até R$ 3 mi e exigir retratações de erros
Adesão será voluntária, mas quem ficar de fora estará sujeito a leis mais severas; jornais "estudam" a proposta
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Após meses de debate e uma divisão na base parlamentar do governo David Cameron, os três principais partidos do Reino Unido acordaram ontem a criação de uma nova instância de regulação para jornais, revistas e sites noticiosos com poder para determinar multas e impor publicação de correções.

A filiação dos veículos ao novo corpo regulador, aprovado ontem pelo Parlamento, será voluntária, mas órgãos que não aderirem estarão sujeitos a leis "exemplares" em caso de mau comportamento.

A imprensa britânica não se subordina a nenhuma lei desde o século 17. Até agora, havia o PCC (Press Complaints Comission, comissão de queixas sobre a imprensa), órgão autorregulador considerado ineficaz.

O novo formato é uma resposta do Parlamento às recomendações da comissão Leveson, que em novembro do ano passado criticou o PCC e cobrou nova regulação após investigar o uso de grampos ilegais pelo tabloide "News of the World", do magnata Rupert Murdoch.

O pacto foi anunciado no mesmo dia em que um advogado das vítimas do tabloide, fechado por causa do escândalo, disse ter evidência de que o número real de pessoas grampeadas pelo jornal pode chegar a centenas.

Para o acordo, o partido Conservador, de Cameron, o Liberal Democrata, da base governista, e os opositores do Partido Trabalhista discutiram todo o fim de semana.

O resultado foi uma solução intermediária: não haverá lei de mídia, como queria Cameron, mas o estatuto a ser aprovado pela rainha Elizabeth 2ª provavelmente em maio terá mecanismo que o impede de ser modificado sem a concordância de 2/3 do Parlamento.

A nova instância terá poder de impor multas de até R$ 3 milhões, segundo o premiê. Os jornais não terão poder para vetar os indicados a fazer parte do corpo regulador.

O grupo que defende as vítimas dos grampos comemorou o pacto enquanto representantes dos jornais mais vendidos do país, como "The Daily Mail", "The Daily Telegraph" e "The Sun", de Murdoch, disseram em nota que precisam "estudar a proposta" para se pronunciar.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Book Review: 'The End of Power' (Forbes)



Interesting review of a new book by Moises Naim called The End of Power in the Wall Street Journal. The vast rise of powerful technological tools that are available with virtually no capital expenditure up front means that it has become a phenomenal time to be a challenger and a difficult time to be an incumbent. In anything. The old “barriers to entry” notion becomes a rara avis in all but a few areas and endeavors.
I also call this the “ankle-biter economy.”

sábado, 9 de março de 2013

A internet que (quase) ninguém vê (Deepweb)




Centenas de vezes maior do que a rede convencional, a deep web é palco para crimes de pedofilia e ações políticas. No subterrâneo, empresas à serviço de governos e corporações já fazem investigações nesse internet oculta

Para alguns críticos, um dos filmes que melhor representa o grande debate da era digital é "Minority report - A nova lei". No longa-metragem futurista, dirigido por Steven Spielberg e lançado em 2002, a sociedade abdica de sua privacidade em nome da segurança: qualquer cidadão pode ser rastreado e ter suas ações controladas com o objetivo de evitar crimes. Na internet a que a maioria dos usuários tem acesso, a relação é semelhante. As empresas mais populares, como Google, Facebook, Amazon ou Apple, limitam o tráfego pela rede às suas próprias regras e monitoram os internautas. É uma forma de dar segurança, de evitar que crimes sejam cometidos, mas é, também, uma barreira para a privacidade.

Só que existe, fora da vista dos usuários regulares, uma internet escondida, em que não há controle, e tudo é permitido. Ela se chama deep web (web profunda): uma região da rede que teria até 400 vezes o tamanho da web visível e onde a privacidade está acima da segurança. Ou seja: o que o internauta comum consegue enxergar em seu dia a dia de navegação representaria 0,25% do volume de dados que está disponível na rede.

O termo foi criado pelo cientista da web Michael K. Bergman, em 2001, no artigo "The deep web: surfacing hidden value" ("A rede profunda: trazendo à tona valores escondidos"). Nele, Bergman explica que os dados aos quais temos acesso pelos mecanismos de busca tradicionais compõem a chamada "web da superfície". A maior parte da rede, na verdade, seria composta por páginas que não podem ser encontradas facilmente, e, por isso, considera-se que estão nas profundezas. Na deep web .

- As páginas da web da superfície podem ser rastreadas e indexadas pelos mecanismos de busca tradicionais, como o Google, porque são ligadas umas às outras por links. Já as páginas que estão na deep web residem em bases de dados pesquisáveis, mas somente podem ser descobertas por uma consulta direta. Sem isso, seus resultados não são publicados - explica Bergman, em entrevista por e-mail.

O acesso a essas profundezas é feito por programas específicos, que escondem a identidade do usuário. A navegação é mais lenta e segue uma lógica distinta. Você não encontra um dado na deep web simplesmente procurando uma página no Google e clicando em seu link. É preciso saber o que procurar e como procurar - há, contudo, algumas experiências criadas para facilitar o acesso aos sites, como a Hidden Wiki (uma espécie de listagem de páginas, num visual como o da Wikipédia, mas "escondido"). Em geral, as páginas são simples, sem muitos recursos, mas com muita informação.

O diferencial da deep web é justamente reunir tudo o que não se encontra na web tradicional. Só que o "tudo" às vezes é um problema. Um uso positivo dessa rede profunda acontece em países com regimes ditatoriais, que tentam controlar a troca de informação na internet, como Irã, Coreia do Norte e China. É comum, por exemplo, que correspondentes estrangeiros se comuniquem pela deep web para não serem descobertos. Trata-se da privacidade que a rede tradicional não fornece. Por outro lado, o anonimato permite a troca de conteúdos ilícitos, como os mais diversos tipos de parafilia, entre elas a pedofilia. Além disso, suas páginas são espaços para testes de vírus.

A web profunda, assim, tanto pelo lado positivo quanto pelo negativo, desenvolveu-se como uma resposta à internet da superfície.

- A deep web subverte as regras da internet tradicional, onde, em tese, temos segurança e conveniência, mas abrimos mão de nossa privacidade - explica Carlos Affonso, vice-coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da FGV Direito Rio. - Na deep web , a segurança fica de lado em favor do anonimato e da liberdade de seus usuários, algo que é o extremo oposto da internet comercial.

Na esfera negativa, nela encontram-se diversos fóruns para práticas ilícitas. Trocam-se imagens e vídeos de menores nus ou de situações extremamente violentas, como estupros e assassinatos. Há espaços para venda de drogas, exploração do turismo sexual e até compra de armas. Num fórum, havia, esta semana, uma mensagem de um usuário - anônimo, claro - pedindo dicas para a compra de um passaporte brasileiro na Europa.

Ao mesmo tempo, cidadãos comuns, ativistas, organizações não governamentais e até jornalistas usam a deep web para se comunicar de forma livre da censura ou mesmo discutir assuntos controversos preservando a sua privacidade. Por causa dessa característica, é lá que organizações como a WikiLeaks e grupos de ciberativismo como o Anonymous atuam, se articulam e publicam seus documentos.

- Pensando em revoluções, como as da Primavera Árabe, a deep web teve um papel fundamental para a articulação política de civis que, de outro modo, não seria possível por causa do controle dos governos - diz Affonso.

Entre os recursos mais usados para acessar a deep web está o navegador Tor, que permite manter o anonimato durante a navegação. Originalmente criado pelo Laboratório de Pesquisa da Marinha dos EUA, com o objetivo de proteger as comunicações do governo americano, atualmente o software faz parte da ONG Tor Project, uma iniciativa independente que visa a possibilitar a privacidade pela rede.

Para garantir a navegação anônima, o Tor depende de sua comunidade de usuários, todos voluntários. Cada usuário de internet tem um protocolo que identifica de onde está sendo feito o acesso: é o IP, uma espécie de identidade do internauta. No Tor, os voluntários oferecem seus IPs para outros usuários poderem maquiar a origem do acesso.

Riscos para usuários

Só que isso pode trazer complicações. Em novembro, a polícia bateu na casa do austríaco William Weber, de 20 anos, acusando-o de repassar imagens de crianças nuas. O jovem desde então vem tentando provar que o que ele fazia era apenas fornecer seu IP para o Tor, a fim de ajudar outros usuários. "É muito ruim que o Tor possa ser usado por criminosos, mas não há nada que eu e o Tor Project possamos fazer quanto a isso", disse Weber, em entrevista ao jornal americano "Wall Street Journal".

- Essa dualidade é justamente o que faz a deep web ser o que ela é - diz Pedro Augusto, pesquisador do CTS da FGV-Rio. - Seus lados positivo e negativo estão atrelados. Não é possível ter um sem o outro. Nesse sentido, a deep web é um retrato muito próximo do que a internet era há 20 anos, em termos de controle e monitoramento.

O caso de Weber, porém, mostra que o anonimato pode não ser absoluto - da mesma forma que a segurança na web da superfície. Hoje, qualquer país tem uma divisão policial dedicada a crimes virtuais. A web tradicional, por isso, está sempre sendo rastreada, com a aprovação das empresas estabelecidas. Se alguém provar à Google que um vídeo do YouTube fere as normas daquele país, ele é imediatamente tirado do ar. No caso da deep web , nada sai do ar com essa facilidade. Mas são usuais os boatos de que policiais entram na rede atrás de informações sobre ilegalidades. E o próprio grupo de ciberativismo Anonymous já cuidou de expor as identidades reais de usuários que frequentavam fóruns de pedofilia.

Para além de seu lado obscuro, a web profunda também possui um grande interesse comercial para uma série de empresas que buscam, em seu imenso conteúdo, informações que podem ser importantes para seus clientes, sejam eles políticos ou corporações.

- Com a nossa tecnologia, conseguimos buscar referências que a própria Google não consegue - afirma Jamie Martin, investigador da empresa americana Bright Planet, especializada em buscas na deep web . - É importante que as pessoas compreendam que a deep web é muito mais do que seu lado obscuro.