quinta-feira, 26 de setembro de 2019

'Temos de proteger a privacidade e a saúde mental das pessoas', diz Mark Zuckerberg


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Em entrevista exclusiva ao 'Estado', presidente executivo do Facebook assume responsabilidades, diz que empresa não tenta influenciar eleições, se defende de acusações de concorrência desleal e projeta futuro da computação com realidade virtual
26/09/2019 | 16h00
 Por Bruno Capelas, Menlo Park (EUA)* - O Estado de S. Paulo

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Conselho executivo Facebook

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O Facebook anunciou que formará, enfim, um conselho independente que será responsável pelas decisões mais delicadas referentes a moderação de posts e comentários. Este conselho será composto inicialmente por 11 membros que já estão sendo entrevistados e que recomendarão outros até chegar a um total de 40. Seus mandatos terão duração de três anos. No início, os ‘juízes’ avaliarão casos apresentados pela própria rede social. Mas, a partir do primeiro semestre do ano que vem, os usuários também poderão recorrer ao conselho quando se sentirem injustiçados. “Se alguém discordar de uma decisão nossa”, escreveu o CEO Mark Zuckerberg num post, “primeiro recorrerá a nós e, depois, ao conselho independente.” As decisões deste grupo serão finais. Um dos critérios pré-determinados é de que haverá jurisprudência. Ou seja: decisões passadas do conselho ditarão o curso das futuras.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Entrevista Ian McEwan

Ian McEwan: “Nunca previmos as redes sociais. Nunca imaginamos que os russos escolheriam o presidente dos EUA”

Escritor britânico enfrenta em convivência íntima ao homem e ao robô em sua novela 'Máquinas como eu', que se publica em espanhol, e lamenta o gerenciamento do Brexit do primeiro-ministro

Ian McEwan, em sua casa da região inglesa dos Cotswolds, nesta terça-feira após a entrevista com EL PAÍS
Ian McEwan, em sua casa da região inglesa dos Cotswolds, nesta terça-feira após a entrevista com EL PAÍS

A escrita de Ian McEwan (Aldershot, Reino Unido, 71 anos) já tem a destreza e o ofício necessários para dar a volta na História, fazer que Margaret Thatcher perca a Guerra das Malvinas, acelerar em décadas o desenvolvimento da inteligência artificial e criar um triângulo amoroso entre um homem, uma mulher e um androide perfeito. E que o leitor entre no jogo desde a primeira linha.

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Pergunta. inteligência artificial (IA) como o grande desafio que a humanidade enfrenta. Por que escolheu algo assim?
Resposta. É algo que vem de longe para mim. Nos anos setenta escrevi um roteiro para a BBC sobre um personagem de Bletchley Park, a instalação militar onde eram decifrados os códigos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, que tinha certa relação com Alan Turing. Foi então quando a IA me interessou, e durante muitos anos acompanhei as pesquisas. Nos anos oitenta e noventa houve uma parada. A mente animal, a mente humana, é muito mais complexa do que ninguém jamais imaginou. Os últimos anos foram uma espécie de idade de ouro, com avanços espetaculares, sobretudo na escrita de software.
P. Você não só introduz androides de inteligência perfeita como também o faz no Reino Unido da década de oitenta, e ressuscita o cientista Alan Turing como personagem de seu livro.
R. Turing foi o começo do meu interesse por esse assunto. Nos anos trinta, antes de decifrar o código Enigma, do Exército alemão, já havia estabelecido as bases fundamentais do que um computador poderia chegar a fazer. É uma das figuras heroicas da revolução digital. E, ainda por cima, foi perseguido e processado por ser homossexual. Suicidou-se para evitar a prisão ou a castração química. Senti que devia lhe devolver a vida que nunca teve e fazer dele um gênio proeminente da era digital. Nunca saberemos tudo o que poderia ter chegado a ser.
P. A realidade que propõe em seu livro já está tão perto?
R. Não, tudo está ainda num estado muito infantil. Pense no oceano Pacífico: é como se mal tivéssemos colocado um dedo do pé na água. Mas está se expandindo, e os horizontes são imensos. Já é interessante por si só que vejamos todo este assunto como uma ameaça ou como uma promessa. Provavelmente seja as duas coisas. Estamos no limiar de uma mudança de civilização, a ponto de criar inteligências superiores à nossa. Algo mais importante que a invenção da escrita ou da Revolução Industrial. Mas se chegarmos a uma fase em que a IA desenhe por si mesma a sua seguinte geração, poderia escapar das nossas mãos.
P. E a grande incógnita está em saber se essas criações inteligentes podem adquirir uma consciência.
R. Proponho um dilema moral no romance: se Miranda, uma das protagonistas, deve ou não ir para a prisão pelo que fez no passado. Você pode programar ou desenhar uma série de algoritmos para um ser artificial ao qual se imponha a ordem de não mentir e de respeitar a prevalência da lei, o Estado de direito. Mas os humanos têm essa habilidade de mentir em algumas ocasiões, quando sabemos que é algo bom. Como quando você diz a um amigo com uma doença terminal: “Você está com um aspecto melhor hoje”. Escrever os algoritmos que desenvolvam essa qualidade é muito complicado, exige empatia. Por isso no livro me pergunto o que aconteceria se esses seres artificiais fossem capazes de desenvolver uma inteligência emocional, se fossem capazes de se apaixonarem ou de experimentarem o desejo sexual. A tese de Turing estabelecia que se você for incapaz de determinar se uma máquina tem ou não consciência, então deve assumir que tem.
P. O androide do seu romance, Adão, recrimina o humano, Charlie, por lhe ter tanto medo e inveja, e por se subvalorizar.
R. E não deveríamos ter medo do que vem. Além disso, demonstramos ser uns inúteis na hora de prever o futuro. Nunca vislumbramos a chegada da Internet. E quando a Internet já existia, nunca previmos as redes sociais. E quando chegaram as redes sociais, nunca imaginamos que os russos seriam capazes de escolher o presidente dos Estados Unidos. Pode ocorrer que finalmente nós mesmos sejamos os robôs, e que acabemos interferindo em nossos próprios cérebros, seja através de microchips, de drogas ou através de técnicas que atualmente não podemos nem imaginar. Talvez dentro de cem anos a ideia de um androide perfeito chamado Adão seja algo pitoresco.
P. Margaret Thatcher perde a Guerra das Malvinas e a humilhação nacional leva ao poder Tony Benn, um trabalhista radical adorado pelos jovens. Você se inspira na realidade de seu país?
R. Não para este livro, mas continuo muito atento a tudo o que tem a ver com o Brexit. Enche-me de desespero, embora eu não possa simplesmente olhar para o outro lado. Acho que ficamos todos loucos.
P. E quem é o culpado?
R. O Partido Conservador, acima de tudo. Esta foi durante muitos anos sua guerra civil particular. E acabou trazendo todos nós para ela. Impulsionada agora, além disso, pela extrema direita e o nacionalismo inglês. Um nacionalismo que sempre esteve aí, e que agora viu a oportunidade de se reagrupar em torno do Brexit, como se fosse um ímã.
P. E encontra alguma explicação para tudo isto?
R. Nos últimos anos cheguei a ler 500 milhões de palavras sobre este assunto, tive centenas de horas de discussão e debate, e tenho lido e leio a imprensa de direita e a de esquerda, a que está a favor do Brexit e a que defende a UE. E ainda não escutei um só argumento a favor da saída do Reino Unido da União Europeia que me convença e que tenha solidez racional. Dizem que se preocupam com a perda de soberania, mas cada tratado internacional representa uma cessão de soberania, incluindo o pertencimento à OTAN.
R. Fico assombrado, porque é um homem educado e inteligente, com muito encanto pessoal. E virou um imbecil populista da pior índole. Comparo-o a um personagem de Sonho de Uma Noite de Verão, de Shakespeare. Acho que em algum momento o pó mágico cairá sobre seus olhos e a cabeça de burro desaparecerá. E de novo será Boris Johnson. Apesar de ser um homem culto, e como tal com um senso do que é a História, mostrou uma profunda ignorância sobre o funcionamento da democracia parlamentar. E nesse sentido foi uma grande decepção.

A digital dos Bolsonaro no projeto que quer mudar a TV paga (e pode afetar o streaming)

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Filhos do presidente fazem lobby para aprovar texto em tramitação no Senado que beneficia fusão da AT&T e Time Warner. Senador do PT estuda apoiá-lo, se incluir cota de produção nacional para empresas como Netflix


Vídeo de Eduardo Bolsonaro a favor da fusão.
Vídeo de Eduardo Bolsonaro a favor da fusão.
Depois de ver fracassada sua tentativa de pressionar a Agência Nacional de Telecomunicações para que a entidade aprovasse ainda neste ano a compra da Time Warner pela AT&T no Brasil, o Governo Jair Bolsonaro (PSL) aposta agora no Senado uma alternativa que vai beneficiar as duas empresas americanas. Na próxima quarta-feira, a Comissão de Ciência e Tecnologia pretende votar o projeto de lei 3.832/2019, que altera as regras da TV paga no país e suspende a proibição de propriedade cruzada, o que permitiria a fusão de quem produz conteúdo (Warner) com quem o distribui (AT&T, a controladora da Sky). A defesa do negócio das gigantes americanas no Brasil virou uma bandeira aberta do Planalto e, especialmente, do deputado Eduardo Bolsonaro, em campanha para ser o novo embaixador do Brasil nos EUA.
O texto, que se aprovado na comissão vai direto para a apreciação da Câmara, movimenta também as atenções e os lobbies da gigante local, Globo, e suas concorrentes Record, SBT e RedeTV, sócias da programadora de TV a cabo Simba —as últimas cultivam relações mais próximas como os Bolsonaro. Enquanto as nacionais ainda não chegaram a um consenso em pontos da matéria, como a prerrogativa de compra dos direitos de grandes eventos, outro tema embola o debate: a inclusão da Internet, o que pode ter impacto ainda mais amplo.
Caso uma emenda ao texto seja aceita, os canais de streaming, como Netflix e HBO GO, entrariam na lei e seriam equiparados aos canais de TV por assinatura e poderiam ser obrigados a exibir uma cota mínima de produção brasileira. Esse grupo é chamado de over the top (OTT – nomenclatura para transmissão não linear pela Internet). Hoje, os canais por assinatura têm de ter ao menos 3h30 de produção local por semana em sua grade de programação. No caso das OTTs, não está claro como seria essa cota, já que não é possível mensurar a sua grade pela quantidade de horas de transmissão. Tampouco a emenda ao projeto de lei deixa claro como seria feita essa contabilidade.
As iminentes alterações atingem um mercado em queda, o das TVs pagas, que registraram 17,5 milhões de assinantes no ano passado (550.000 assinantes a menos que em 2017) e um ascensão, das OTTs, que supera os 10 milhões no Brasil. Os dados são da Anatel e do mercado. A tendência é que as plataformas digitais superem em poucos anos as TVs por assinatura.
O rastro da família Bolsonaro nessa negociação está no lobby pela aprovação da proposta. O principal articulador para os Governos brasileiro e americano é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente que deve ser indicado para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, o que depende ainda da aprovação do Senado. A pedido da gestão Donald Trump, ele chegou a ir pessoalmente à Anatel para angariar apoio à fusão das companhias, já aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
O pedido do deputado foi ignorado por enquanto. Dos cinco conselheiros, dois votaram a favor da união da AT&T com a Time Warner,. Um pediu vistas de 120 dias no processo. Os outros dois ainda não votaram. Em Brasília, Eduardo é visto como um lobista aguerrido em favor do Governo Trump, o que ele nega. Seu irmão, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), é outro negociador junto aos congressistas na matéria. Flávio conversou com ao menos quatro dos membros da Comissão de Ciência e Tecnologia pedindo votos a favor da mudança legal.
Segundo especialistas, caso o projeto de lei seja aprovado de forma terminativa na comissão do Senado (não precisa passar no plenário) e, posteriormente, na Câmara, o processo que tramita na Anatel será extinto, já que a lei brasileira passaria a autorizar essa união. “Uma lei federal se sobrepõe a uma norma de agência reguladora”, explicou o advogado especialista em fusões e aquisições Paulo Bardella, do escritório Viseu Advogados.

“Tem gente querendo pegar carona”

O relator do projeto de lei na Comissão de Ciência e Tecnologia, senador Arolde Oliveira (PSD-RJ), um aliado de Bolsonaro, diz que as mudanças não são apenas direcionadas para a AT&T. “Queremos apenas destravar o problema da propriedade cruzada e permitir que o país tenha mais investimentos”, afirma.
Já o opositor ao bolsonarismo, Rogério Carvalho (PT-SE), afirma que, caso seja garantida a cota de produção local para as OTTs, a oposição deve votar junto com o Governo. “Desde que a lei da TV paga surgiu, diversos produtores independentes surgiram no país. Queremos que criar um marco para que a produção voltada para a Internet respeite essa produção local”, ponderou Carvalho. Ele é o autor da emenda que pode alterar as regras para as empresas de streaming.
Na opinião do senador Oliveira, contudo, o assunto ainda não está pacificado. “Tem gente querendo pegar carona em um projeto que é simples. Por mim, não mudamos nada de Internet agora”, afirmou. Sua ideia é incluir esse tema em um projeto de lei mais profundo, no qual todos os aspectos das OTTs seriam debatidos, desde a criação de limites de produção até eventuais cobranças taxas. Sairá vencedor do primeiro round dessa batalha quem obtiver ao menos 9 dos 17 votos dos senadores da comissão na próxima quarta.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Netflix começa a ficar sozinha em sua farra de séries

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Anúncio da Disney+ de que oferecerá os episódios de suas séries próprias semanalmente significa a confirmação de uma mudança de tendência


PABLO XIMÉNEZ DE SANDOVAL
Los Angeles 9 SET 2019 - 20:01 BRT

Na era da televisão infinita, a todo momento e à escolha do cliente, quando através das plataformas online é possível ver séries completas apertando um botão, o mundo inteiro esperou pacientemente o domingo 19 de maio, às 20h de Nova York (22h de Brasília), para ver junto o último episódio de Game of Thrones e, todos juntos, explodir as redes comentando-o. O episódio teve 19 milhões de espectadores somente naquele dia nos Estados Unidos. Os seis episódios da temporada geraram uma conversa mundial. A experiência coletiva não foi muito diferente de outros finais legendários da velha televisão, como Dallas, Cheers e Friends.

Os novos jogadores que entram no campo do streaming de vídeo perceberam. Com o surgimento da Disney+, Apple TV+ e outros, nesse semestre começa a guerra para destronar a Netflix. E a primeira batalha, surpreendentemente, é sobre a grade de programação. Durante a última convenção D23 da Disney, os executivos da empresa revelaram que planejam exibir suas principais séries com episódios semanais. Grandes apostas como The Mandalorian (Star Wars) e Loki (Marvel) serão vistas como sempre. Talvez exibam os três primeiros episódios de uma vez e depois o restante semanalmente, como faz o Hulu e às vezes a Amazon.

De acordo com uma nota da Bloomberg de agosto, o serviço de streaming da Apple também planeja fazer o mesmo com suas séries originais. Não há confirmação oficial sobre isso. Na Espanha, a plataforma da Atresmedia também planeja exibir os capítulos semanalmente, ainda que estudem cada caso em particular.

A Netflix revolucionou a televisão de muitas maneiras, mas especialmente em sua decisão de colocar à disposição do espectador as temporadas inteiras das séries, em vez de capítulo a capítulo. O chefe de conteúdo da plataforma, Ted Sarandos, justificou a decisão dizendo que na realidade o público já estava acostumado às maratonas em formato DVD. Era verdade. O público que a Netflix queria ficou anos passando de um para o outro cofres de discos de Família Soprano, The Wire e Breaking Bad que eram devorados em duas semanas. A ficção na televisão estava em pleno boom e os fãs já haviam inventado o binge-watching (maratona) sozinhos. A Netflix a tornou oficial. Exibir de uma vez as temporadas inteiras de House of Cards era natural e lógico frente à velha televisão.

O prime time de sua série favorita já não era das oito às nove em um dia concreto da semana. Era quando você quisesse e durava até você não aguentar mais. E no dia seguinte, outra série. Em 2017, um estudo da Deloitte calculou que 70% dos clientes da Netflix nos EUA faziam maratonas de séries e que a média eram cinco capítulos de cada vez. Na época, começaram até mesmo a sair estudos sobre a falta de sono e consequências à saúde da nova tendência. “Na verdade, nossa concorrência é o sono”, chegou a dizer o CEO da empresa, Reed Hastings. “E estamos ganhando!”, acrescentou.

Mas isso era 2017, uma eternidade. A estratégia da Netflix funcionava quando era o único serviço de streaming com conteúdo próprio. O resto deveria ser visto na televisão tradicional e em DVD. Agora, até a própria Netflix parece estar mudando. Por exemplo, já existem dois programas que estão sendo colocados semanalmente na plataforma: os concursos do The Great British Baking Show (exibido dessa forma originalmente na rede britânica Channel 4) e Rhythm & Flow. Se não o fizesse, parte da emoção das eliminações de concorrentes desapareceria.

A HBO não exibe episódios semanalmente por uma questão estratégica. Não tem outro remédio, porque tem milhões de assinantes em seu canal. “A HBO continua sendo essencialmente um canal linear que está pouco a pouco passando ao digital”, diz o consultor sobre meios digitais Tim Hanlon, do The Vertere Group. “Em qualquer serviço de streaming, a ideia é manter as pessoas assinantes de um mês para o outro. Essa é a verdadeira questão. Porque é fácil assinar, ver o que você quer ver e apagar o serviço depois.”.

A Netflix cativa as pessoas estreando conteúdo novo sem parar. Em seis anos criou uma gigantesca videoteca. Seus competidores produzem muito menos e sua estratégia, por enquanto, parece ser manter os assinantes ligados esperando o próximo capítulo, não a próxima temporada.

O que está sendo definido, diz Hanlon, “é a próxima geração das janelas de exibição”. “A indústria está tentando decifrar qual é o modelo econômico, que não está claro. Acho que realmente depende de qual tipo de programa será, se é uma série original nova ou de videoteca. A forma como as duas coisas são monetizadas é diferente. Na verdade, estão tirando do manual habitual da televisão: encontre um conteúdo que seja novo e que só esteja disponível nesse canal e plataforma”. E depois, “crie uma carência artificial” que faça as pessoas pedirem mais.

Para isso é preciso criar a necessidade no espectador. A HBO criou seu serviço de streaming simplesmente para publicar online os programas à medida que os exibia em seu canal linear. Mas de alguma forma demonstrou que essa é também uma boa maneira de conquistar um impacto maior nas séries, mais conversa, transformá-las em eventos para desfrutar coletivamente. A Netflix precisa gastar milhões em marketing para que suas estreias sejam eventos. Séries como Euphoria e Chernobyl (ambas da HBO) construíram uma audiência semana a semana, enquanto a última temporada de Stranger Things foi uma sensação em julho, mas está praticamente esquecida nas conversas poucas semanas depois.

Com 140 milhões de assinantes em todo o mundo e 60 nos Estados Unidos, a Netflix é o rival a ser batido na guerra do streaming que virá. Hanlon acredita que alguns deixarão a Netflix para assinar outro dos novos serviços, mas em geral “a batalha é pelo número dois”, ou seja, por ser o outro além da Netflix. “A Disney+ tem muitas possibilidades de acabar sendo o número dois, especialmente com o pacote da Disney, mais o Hulu, mais a ESPN”, como será oferecido nos Estados Unidos.

A Disney+, que teve tempo para observar e tomar uma decisão com calma, decidiu que estreará semanalmente os episódios de suas séries. Não precisa se adaptar a nenhum programa linear, como a HBO. Não depende dos anunciantes. É uma decisão que só se explica porque acha que a experiência será melhor e, principalmente, porque enfrenta um gigante e a primeira coisa que precisa é construir uma audiência fiel, que pague mês a mês e se acostume a tê-lo ali. “A chave dos canais tradicionais é conseguir que os clientes se esqueçam de que são assinantes”, diz Hanlon. “Uma maneira de consegui-lo é estreando as séries de acordo com uma grade de emissão”.