A fita cassete faz 50 anos resistindo à era digital através de pequenos selos, aplicativos e produtos de consumo pop
Carlos Albuquerque
carlos.albuquerque@oglobo.com.br
Uma charge que circula pela internet mostra um walkman de capa e capacete pretos falando para um iPod branco: “I am your father” (Eu sou o seu pai), numa alusão à célebre frase de Darth Vader para Luke
Sywalker no filme “O império contra-ataca”, de George Lucas. A brincadeira ganha um sentido todo especial em 2012, quando a fita cassete completa 50 anos. Enquanto o aparelho criado da Sony parou
de ser produzido no Japão em sua versão original em 2010, a pequena
fita cassete, inventada pela Philips em 1962 e carinhosamente
apelidada de K7, resiste ao seu fim várias vezes anunciado.
Em pleno reinado dos players digitais, ela respira sem a ajuda de
aparelhos, mantendo-se através de pequenos selos no Brasil (como o
mineiro Pug Records) e no exterior, sempre em tiragens
limitadíssimas. Além disso, sua imagem e seu formato ainda inspiram
de aplicativos — como o Stereolizer, que simula um rack de gravação
em cassete — a obras de arte — como as criações da artista americana Erika Iris Simmons, feitas com pedaços de fita —, além de vários
produtos de consumo pop.
— Sou louco por fitas cassete e tenho uma grande coleção que escuto
no toca-fitas que ainda tenho no carro. Meus caronas nem acreditam
quando descobrem isso — garante o cantor americano de folk rock Kurt
Vile, que se apresenta no dia 13 de abril, no Circo Voador, ao lado de
Thurston Moore, do Sonic Youth, autor do livro “Mix tape: The art of
cassette culture”, lançado em 2005. — Quero fazer como os meus
amigos do Dinosaur Jr. e relançar meus discos em cassete. Esse
formato é parte da História da música.
Vile se refere à iniciativa do Dinosaur Jr, um dos mais amados grupos
de rock alternativo dos Estados Unidos, que relançou, no fim do ano
passado, três álbuns no hoje inusitado formato de fitas cassete.
Intitulada “The cassete trilogy”, a caixa, de apenas 500 cópias, trazia
os discos “Dinosaur”, “You’re living all over me” e “Bug”.
Em 2011, outros dois grupos também entraram nessa onda retrô. O
Animal Collective lançou uma fita cassete com quatro músicas inéditas.
O Of Montreal foi mais longe e lançou, em outubro, uma caixa (de
madeira) contendo dez discos da banda em versão cassete. As
iniciativas replicam, de certa forma, uma outra, bem anterior, feita
pelo Radiohead, que, em 1997, quando os CDs já dominavam o
mercado, lançou “Ok Computer” também nesse formato — a fita pode
ser encontrada, ainda hoje, na Amazon.
Dois anos depois, já escasseando nas lojas, a fita cassete foi o meio
encontrado por um grupo brasileiro para se lançar para o estrelato
indie.
— Na época, uma cópia em CD não era tão fácil ainda. Marcelo
(Camelo) e eu colecionávamos fitas-demo das bandas de que
gostávamos; esse era, então, o meio mais natural para a gente lançar
o Los Hermanos — conta Alex Lerner, produtor do grupo. — As fitas
eram feitas manualmente num double-deck lá de casa. Todo o dinheiro
que ganhávamos com a venda era reinvestido na compra de novas TDK
60.
— Lembro que lançamos três fitas: duas com cinco músicas inéditas em
cada e uma coletânea das duas — completa o baterista Rodrigo Barba.
— Eu tenho um 3 em 1 no qual ainda dá para escutar todas essas fitas.
Carlos Albuquerque
carlos.albuquerque@oglobo.com.br
Uma charge que circula pela internet mostra um walkman de capa e capacete pretos falando para um iPod branco: “I am your father” (Eu sou o seu pai), numa alusão à célebre frase de Darth Vader para Luke
Sywalker no filme “O império contra-ataca”, de George Lucas. A brincadeira ganha um sentido todo especial em 2012, quando a fita cassete completa 50 anos. Enquanto o aparelho criado da Sony parou
de ser produzido no Japão em sua versão original em 2010, a pequena
fita cassete, inventada pela Philips em 1962 e carinhosamente
apelidada de K7, resiste ao seu fim várias vezes anunciado.
Em pleno reinado dos players digitais, ela respira sem a ajuda de
aparelhos, mantendo-se através de pequenos selos no Brasil (como o
mineiro Pug Records) e no exterior, sempre em tiragens
limitadíssimas. Além disso, sua imagem e seu formato ainda inspiram
de aplicativos — como o Stereolizer, que simula um rack de gravação
em cassete — a obras de arte — como as criações da artista americana Erika Iris Simmons, feitas com pedaços de fita —, além de vários
produtos de consumo pop.
— Sou louco por fitas cassete e tenho uma grande coleção que escuto
no toca-fitas que ainda tenho no carro. Meus caronas nem acreditam
quando descobrem isso — garante o cantor americano de folk rock Kurt
Vile, que se apresenta no dia 13 de abril, no Circo Voador, ao lado de
Thurston Moore, do Sonic Youth, autor do livro “Mix tape: The art of
cassette culture”, lançado em 2005. — Quero fazer como os meus
amigos do Dinosaur Jr. e relançar meus discos em cassete. Esse
formato é parte da História da música.
Vile se refere à iniciativa do Dinosaur Jr, um dos mais amados grupos
de rock alternativo dos Estados Unidos, que relançou, no fim do ano
passado, três álbuns no hoje inusitado formato de fitas cassete.
Intitulada “The cassete trilogy”, a caixa, de apenas 500 cópias, trazia
os discos “Dinosaur”, “You’re living all over me” e “Bug”.
Em 2011, outros dois grupos também entraram nessa onda retrô. O
Animal Collective lançou uma fita cassete com quatro músicas inéditas.
O Of Montreal foi mais longe e lançou, em outubro, uma caixa (de
madeira) contendo dez discos da banda em versão cassete. As
iniciativas replicam, de certa forma, uma outra, bem anterior, feita
pelo Radiohead, que, em 1997, quando os CDs já dominavam o
mercado, lançou “Ok Computer” também nesse formato — a fita pode
ser encontrada, ainda hoje, na Amazon.
Dois anos depois, já escasseando nas lojas, a fita cassete foi o meio
encontrado por um grupo brasileiro para se lançar para o estrelato
indie.
— Na época, uma cópia em CD não era tão fácil ainda. Marcelo
(Camelo) e eu colecionávamos fitas-demo das bandas de que
gostávamos; esse era, então, o meio mais natural para a gente lançar
o Los Hermanos — conta Alex Lerner, produtor do grupo. — As fitas
eram feitas manualmente num double-deck lá de casa. Todo o dinheiro
que ganhávamos com a venda era reinvestido na compra de novas TDK
60.
— Lembro que lançamos três fitas: duas com cinco músicas inéditas em
cada e uma coletânea das duas — completa o baterista Rodrigo Barba.
— Eu tenho um 3 em 1 no qual ainda dá para escutar todas essas fitas.
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