RIO - Quem assistiu ao Emmy em setembro se deparou com um feito inédito: mesmo sem nunca ter sido exibida na TV, a série “House of cards” deixou a cerimônia com três estatuetas. Mais do que o prêmio em si, a láurea ratificou a popularidade da Netflix, produtora e exibidora da série, que vem provando que o tal binge watching (o jeito de assistir a todos os episódios de uma só vez) está se consolidando como uma tendência.
— Entendemos que assistir à Netflix é como ler um livro: você escolhe qual capítulo quer ver, para, volta, lê de trás para a frente. A escolha está nas mãos do assinante — explica Kari Perez, gerente sênior de comunicação corporativa da Netflix.
Enquanto os serviços on demand constataram aumentos progressivos de assinaturas, o “Porta dos fundos”, canal de humor do YouTube, sagrou-se como sucesso absoluto. O coletivo, que completou um ano no meio de 2013, tem média diária de dois milhões de visualizações no mundo inteiro.
Se por um lado surgem novas formas de se assistir a programas que não são necessariamente exibidos pelo aparelho convencional, a grade da TV se expandiu. A Lei 12.485, ou Lei da TV Paga — que obriga canais por assinatura a exibir determinado tempo de produção nacional no horário nobre — garantiu um mínimo de três horas e meia semanais, nessa faixa, em 2013. Com isso, canais como Arte 1, Curta!, Music Box e Prime Box passaram a integrar os pacotes básicos das principais operadoras, com potencial de audiência de dez milhões de assinantes.
A obrigatoriedade também estimulou canais já conhecidos a investir em conteúdo nacional. Neste ano, o telespectador viu estreias como “Copa Hotel”, “Beleza S/A”, “3 Teresas”, “Surtadas na yoga” e “As canalhas” (GNT), “Uma rua sem vergonha” (Multishow), “O negócio” (HBO), “Jogos da paixão” (Canal Brasil), “Agora sim” (Sony), “Contos do Edgar” e “Se eu fosse você” (Fox), e “A menina sem qualidades” (MTV). Entre os canais abertos, as séries seguem em alta. Exibida como especial de fim de ano em 2012, “Doce de mãe” rendeu a Fernanda Montenegro uma estatueta no Emmy Internacional, em novembro. Foi a primeira atriz brasileira a receber o prêmio, numa cerimônia que também consagrou a novela “Lado a lado”, de João Ximenes Braga e Claudia Lage. Agora, em janeiro, “Doce de mãe” volta à TV como série.
Em meio a todos os altos e baixos está a despedida da MTV, com direito a chororô no ar, ao vivo, no fim de setembro. Após deixar o Grupo Abril, o canal renasceu na TV a cabo, em outubro, como parte da Viacom, conglomerado americano dono da emissora em vários países. Com a mesma proposta de atender aos jovens, a emissora investiu em realities, séries e artistas como Fiuk e Supla.
— O foco da MTV hoje são os millennials, um público um pouco mais jovem do que o telespectador do canal durante sua fase na TV aberta. E, em 2014, vamos seguir falando diretamente para eles, com atrações globais e locais que lhes interessam — diz Tiago Worcman, vice-presidente da nova MTV.
O mico do ano: Um dentista cheio de cáries
Nem a assinatura da dupla de roteiristas Fernanda Young e Alexandre Machado, a direção de José Alvarenga Junior e a presença de Marcelo Adnet foram suficientes para salvar “O dentista mascarado”. Exibida nas noites de sexta-feira, após o “Globo Repórter”, a história de um dentista que age como defensor dos fracos e oprimidos (papel de Adnet) não vingou. E, com audiência oscilante, em torno dos 13 pontos, não passou da primeira temporada. Talvez pela expectativa gerada em torno do humorista, revelação da MTV, em seu primeiro trabalho na Globo. Talvez pelo texto assaz malicioso, repleto de piadas escatológicas. Talvez pelo excesso de caras e bocas do elenco. Talvez pelo horário ingrato. Ou talvez ainda pela conjunção de todos esses fatores. Em entrevista ao GLOBO, Alvarenga disse que “aumentar a voltagem de sacanagem” foi um risco. E que “não é fácil contar a história de um babaca no país da malandragem”. Pode ser, mas ficou aquela sensação de frustração.
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