Por Altamiro Borges, no Sul 21
A visita do papa Francisco à Bolívia nesta semana deve ter desagrado os barões da mídia. Não é para menos que vários veículos tentaram desviar a atenção destacando o factoide do “crucifixo comunista” dado de presente ao pontífice pelo presidente Evo Morales. Num dos discursos mais incisivos do seu papado, ele disse: “A concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adota o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Como dizem os bispos da África, muitas vezes pretende-se converter os países pobres em ‘peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigante'”.
No seu conjunto, o discurso do papa foi bastante enfático. Ele tratou da mídia ao abordar as variadas formas do colonialismo na atualidade. “Às vezes, é o poder anônimo do ídolo dinheiro: corporações, credores, alguns tratados denominados ‘de livre comércio’ e a imposição de medidas de ‘austeridade’ que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres… Noutras ocasiões, sob o nobre disfarce da luta contra a corrupção, o narcotráfico ou o terrorismo – graves males dos nossos tempos que requerem uma ação internacional coordenada – vemos que se impõem aos Estados medidas que pouco têm a ver com a resolução de tais problemáticas e muitas vezes tornam as coisas piores”.
Esta não é a primeira vez que o papa Francisco crítica a mídia monopolista. Em março de 2014, ele já havia apontados alguns “pecados” da imprensa. Numa audiência para as emissoras católicas da rede Corallo, o pontífice afirmou: “Hoje o clima midiático tem suas formas de envenenamento. As pessoas sabem, percebem, mas infelizmente se acostumam a respirar da rádio e da televisão um ar sujo, que não faz bem. É preciso fazer circular um ar mais limpo. Para mim, os maiores pecados são aqueles que vão na estrada da mentira, e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação”.
Naquela ocasião, a mídia internacional e nativa também abafou as críticas do papa. Como ele mesmo havia realçado, um dos maiores “pecados” da imprensa é a desinformação. “A desinformação é dizer as coisas pela metade, aquilo que é mais conveniente. Assim, aquele que vê televisão ou ouve rádio não pode ter uma opinião porque não possui os elementos necessários”. Agora, novamente, jornais, revistas e emissoras de rádio e tevê ofuscam suas reflexões mais profundas e destacam apenas alguns factoides.
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