segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Produção em parceria com o leitor é tendência para revistas



Evento em São Paulo discute novas tendências para o setor

SÃO PAULO - Na era digital, as editoras de revistas se transformaram em empresas de mídia e hoje trabalham num ciclo de 24 horas durante os sete dias da semana. Estão investindo para conhecer melhor seus consumidores, estimulando a sugestão de ideias por parte deles e criando uma cultura de "coprodução", em que o leitor ajuda na elaboração do conteúdo. Também trabalham para descobrir os melhores modelos de distribuição de conteúdo pelo celular, considerando que dos 7,2 bilhões de habitantes do planeta, 6,1 bilhões possuem um aparelho.

Essas são algumas das tendências que estão na pauta das editoras de revistas e foram discutidas durante o congresso da FIPP, maior associação de revistas do mundo, realizado em outubro passado, em Toronto, no Canadá. Essas ideias foram apresentadas nesta segunda-feira pelo presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e diretor-geral da Editora Globo e da Infoglobo, Frederic Kachar, durante o IX Fórum Aner de revistas, "Em Busca de um Novo Modelo", realizado em São Paulo. Assim como os jornais, as revistas passam por uma revolução digital e procuram novas fontes de receita, além da circulação, como as assinaturas digitais e a realização de eventos.

— O que fazemos de melhor é produzir conteúdo de qualidade, que não é uma commodity. E parte desse conteúdo consegue ser monetizado. Os eventos também não deixam de ser conteúdo e as editoras estão usando sua expertise para criá-los — disse Kachar.

Ele citou o exemplo do jornal americano "The New York Times", que em agosto passado já atingiu a marca de 1 milhão de assinantes digitais. Também lembrou o exemplo do "Wall Street Journal", que trata seus leitores como associados, uma espécie de 'membership'. O WSJ oferece, além da assinatura, uma série de vantagens, como acesso privilegiado a eventos, ao próprio jornal e contato com seus jornalistas.

Em sua apresentação, Kachar destacou a importância que os celulares ganharam no acesso ao conteúdo. Embora, 90% do tempo gasto pelos usuários de celulares seja em aplicativos, as editoras terão que criar uma experiência móvel que corresponda à expectativa dos leitores.

— É preciso investir na criação de sites mobile first (plataforma móvel primeiro) e incrementar a utilização do conteúdo — afirmou Kachar.

Ele citou uma experiência da revista francesa Paris Match criada exclusivamente para o mobile. O leitor recebe por volta de 18h uma espécie de resumo do que aconteceu no dia, com números, fotogaleria, vídeo, slide show, além de notícias. Tudo em apenas três minutos.

Kachar lembrou que é preciso apostar em formatos atraentes, mais agradáveis e menos invasivos nas plataformas digitais, para desestimular os leitores a usarem o chamado 'ad blocking', softwares que evitam que os banners publicitários sejam carregados. Por isso, destacou ele, atualmente o papel do editor de revistas é o de um malabarista, “girando vários pratos ao mesmo tempo”.

- Este profissional deve trabalhar mais próximo à área comercial, deve ser revolucionário ao contar histórias, engajar e monetizar os consumidores, e garantir que o conteúdo flua entre as diversas plataformas — afirmou.

REVISTA MENSAL VIROU SEMANAL NA ITÁLIA

Além do presidente da Aner, também participaram do IX Fórum Aner, nesta manhã, Luca Dini, diretor editorial da Vanity Fair Condé Nast italiana, que contou a experiência de transformar a revista americana mensal numa revista italiana semanal. Ele destacou a importância da interação da revista com o leitor através das redes sociais.

— Aceitamos críticas e sugestões pelo Facebook e pelo Twitter e temos um processo muito interativo. Tratamos nossos leitores como nossos pares. Nossa revista é feita para mulheres, que se interessam por assuntos como acne e o Afeganistão — disse Dini, lembrando que a revista impressa já tem mais de 200 mil exemplares semanais e 1,2 milhão de leitoras. Nas redes sociais, a Vanity Fair italiana é seguida por 1,8 milhão de pessoas.

Os jornalistas Bruno Astuto, colunista da editora Globo e de edições Globo Nast, e André Lahoz, diretor de redação da revista Exame, falaram sobre o papel do jornalista nesta época de revolução digital. Para eles, essa revolução não é inimiga do jornalista. Ao contrário, ela tornou possível as revistas falarem com seus leitores várias vezes no mês, intensificando uma relação que era apenas esporádica. Bruno lembrou que a revista Vogue, por exemplo, tem 1,1 milhão de seguidores no Instagram.

- É uma revolução (digital) positiva, um exercício de renovação - disse Astuto, lembrando que a revista Vogue, por exemplo, já tem 1,1 milhão de seguidores no Instagram.

Pedro Silva, presidente do IVC, que mudou sua marca e agora se chama Instituto Verificador de Comunicação, disse que isso já é um reflexo da necessidade de auditoria de mídia multiplataforma. Silva observou que o instituto já audita dados de acesso a conteúdo em tablets, celulares, vídeos, eventos, newsletters, além do impresso.

ARTE PELO CELULAR

Diretor criativo da Set Experimental, Giuliano Chiaradia, contou sua experiência de ensinar jovens e crianças a fazer arte a partir do celular. O projeto sem fins lucrativos já passou por sete países. Ele observou que, embora ainda não se tenha chegado a um modelo exato de distribuição e monetização de conteúdo pelo celular, já existem várias experiências nesse sentido. Ele lembrou que a revista Time, por exemplo, contratou colaboradores para cobrir a passagem do furacão Sandy apenas por imagens publicadas no Instagram. Segundo ele, existe a possiblidade de contar histórias apenas pelo SMS ou criar novelas para o celular, experiência que virou febre no Japão.

O CEO da editora Caras, Edgardo Martolio, defendeu mudanças na lei trabalhista brasileira para aumentar a produtividade dos jornalistas. Segundo ele, a lei engessa as relações entre trabalhadores e patrões, negando o direito à livre negociação de salários. Segundo ele, o 'home office' facilitaria a vida dos empregados, especialmente em São Paulo, 'onde uma pessoa acorda às 4h30 para chegar às 9h no trabalho'

Nesta tarde, em palestra sobre a estratégia de plano de publicidade no século 21, o diretor de marketing institucional do Itaú-Unibanco, Eduardo Tracanella, disse que momentos de crise não são adequados para se apagar uma marca, mas "fortalecê-la e oferecer outra experiência para ela".

- Embora, durante muito tempo tenha sido possível construir marca com esforços de mídia clássicos, principalmente TV, nos dias de hoje, isso mudou. Não temos mais um tiro certeiro que resolve as coisas - disse o executivo, para quem o desafio maior das marcas, no momento, é se conectar às pessoas "na hora e no lugar certo".

Para Tracanella, são as pessoas que decidem, nos dias de hoje, "o jeito e a forma como vão receber informação. Por isso as marcas precisam estar presentes, em sua opinião, "de forma mais contínua e relevante".

- Um meio não está competindo com o outro. A construção e a conexão com o outro que precisa ocorrer de forma multifacetada - afirmou o executivo.


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