sexta-feira, 18 de março de 2016

A mídia empresarial e a corrosão dos valores democráticos



O Brasil prova a frase de Joseph Pulitzer: 'Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma'


Gaudêncio Frigotto*
Latuff
Um dos temas mais cruciais hoje para a vida democrática no Brasil é a necessidade inadiável de assumir o debate sobre as corporações empresariais que detém o monopólio da informação. Não por acaso, um tema que, de imediato, essas próprias corporações esgrimam em suas redes de TV, rádio e seus jornais, no esforço de convencer mentes e corações que a censura voltou  e  se está cometendo o maior atentado contra a democracia. Democracia por elas entendida como defesa do mundo privado.
 
O filme documentário de Camilo Galli Tavares – O dia que durou 21 anos,mostra o quanto foi decisiva a grande mídia no golpe civil e militar de 1964. O que se revela no documentárioé que estamídia agiu nos bastidores com políticos brasileiros e dos Estados Unidos e, diretamente, com as pautas diárias induzindo a opinião da classe média e das grandes massas, a respeito da suposta ameaça comunista, que estaria às nossas portas]
 
Mas valeria, também, analisar os tempos que precederam a morte de Getúlio Vargas.  Esse retrospecto pode nos ajudar a ver com meridiana clareza que esta mesma mídia está implicada diuturnamente em fomentar asmassas para manter privilégios de grupos e, no momento, legitimar o golpe institucional que está em processo e que representará um retrocesso pior, porque mais profundo, do que o golpe de 1964.
 
As consequências sociais e políticas podem ser dramáticas, pois as três décadas de frágil ordem democrática permitiram formar sindicatos, organizações científicas, culturais e movimentos sociais e populares que não existiam em 1964 e que certamente não se calarão. Osefeitos podem não ser no dia seguinte ao golpe se consumado, mas logo quando  grandes massas se perceberem da manipulação a que foram submetidas por uma minoria rica, cínica e prepotente representada em todas as esferas institucionais do país.

Pela Constituição brasileira, os meios de comunicação são concessão do Estado e deveriam atender aos interesses universais e não privados. Portanto, interesses democráticos. Mas a imprensa empresarial privada e monopolizada é, por definição, anti democrática. Vale dizer, atende aos interesses  de grupos e não aos interesses da  sociedade no seu conjunto.  O argumento de que o controle social da mídia é censura dissimula o caráter de censura da grande mídia empresarial ao pensamento divergente, fermento da ordem democrática.
 
Os estudosacadêmicos sobre o caráter parcial, direcionado, seletivo da grande mídia monopolizada são abundantes. No plano internacional, as análises de um dos maiores sociólogos do Século XX, o francês Pierre Bourdieu, e do linguista e cientista político Noam Chomsky, mostram o quão parcial e demolidora dos direitos à informação livre é a mídia monopolizada mundialmente.  
 
No Brasil poucas vozes de juristas, políticos e intelectuais  têm  se manifestado sobre o risco da manipulação midiática para a manutenção e aprofundamento da ordem democrática e, conseqüentemente,  para avanços  nas reformas estruturais historicamente postergadas e que nos constituem como uma  sociedade das mais desiguais do mundo.  Desigualdade que está na origem de todas as formas de violênciatão banalizadas pela mídia empresarial.
 
O que se está presenciando pela pauta dominante da grande mídia empresarial, sem dúvida o maior partido ideológico atual no Brasil, torna mais que atuais as afirmações feitas pelo jornalista húngaro Joseph Pulitzer. “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma (grifos meus).”
 
Na mesma direção, de candente atualidade, é o destaque que o Eric Hobsbawm dá  em seu livro Tempos Fraturados (Companhia das Letras, 2013)  ao que o escritor  alemão Karl Kraus observou sobre o papel da mídia no contexto da primeira  Guerra Mundial. Hobsbawm destaca que “a imprensa não só expressava a corrupção da época, mas era, ela própria, a grande corruptora, simplesmente pelo “confisco dos valores através da palavra”. E apoiado em Confúcio sublinha que quando não “se diz tudo o que deve ser dito e se quer dizer, o que precisa ser feito não será feito; se isso não é feito, a moral e a arte se deterioram; se a justiça se extravia, o povo esperará em impotente confusão”( p.162)
 
Por fim, em meados do século XX, na coletânea de textos de Pier Paolo Pasolini, publicada em 1990 pela editora  Brasiliense com o título  Jovens Infelizes , este autor de vasta obra, observando o papel da imprensa no pós Segunda Guerra Mundial assinalava que o fascismo arranhou a Itália, mas o monopólio da mídia arruinou. O magnata da mídia Berlusconi é a expressão políticamais candente da ruína a que foi submetida a Itália.
 
Há sim que denunciar e combater a corrupção, mas não seletivamente e sim sob todas as formas e todos os envolvidos. Corrupção por propinas a políticos, corrupção por evasão fiscal, corrupção da dívida pública, etc. Para aqueles que lutam pela efetiva democracia e o esforço de construir uma nação não é termos uma imprensa monopólio estatal ou empresarial, mas uma imprensa com controle social de forma institucionalizada para que, sobre todos  os temas  de interesse universal, não se diga  apenas meias verdades, pois isto é pior que a mentira.
 
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* Filósofo e doutor em Educação, História e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de  São Paulo. Atualmente professor na Faculdade de  Educação e no Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro





Créditos da foto: Latuff

terça-feira, 1 de março de 2016

Quem são os políticos que lideram nas mídias sociais?




POR FÁBIO VASCONCELLOS
Aécio e Dilma




























Nunca os políticos tiveram tantas alternativas para falar diretamente com os eleitores, podendo dispensar, muitas vezes, a mediação dos tradicionais meios de comunicação. Num clique, eles podem ser vistos, avaliados, admirados e, muitas vezes, também odiados por milhões de usuários das redes. Apesar dos riscos inerentes da maior exposição, as mídias sociais ampliaram as possibilidades de contato dos políticos, permitindo que eles se posicionem diretamente para suas audiências sobre os temas polêmicos do dia a dia. Muitos ainda dão pouca atenção para esse canal de comunicação porque conseguem manter capital político, mesmo sem nunca ter entrado na internet. Mas um grupo vem se destacado pelo uso intenso dessas redes. São os líderes das mídias sociais, aqueles políticos com mais chances de influenciar e mobilizar correntes de opinião no ambiente da web.
Uma pesquisa recém concluída pela Vértice, uma empresa incubadora da Universidade Federal Fluminense (UFF), mapeou, em fevereiro, os políticos com maior presença nas mídias sociais, aqueles que hoje podem ser considerados os mais hábeis em ocupar e mobilizar audiências. O estudo foi coordenado pelo professor Afonso de Albuquerque, da Pós-Graduação em Comunicação e Política, e contou com a participação dos pesquisadores Carolina de Paula, Marcelo Alves e Eleonora Magalhães.
Segundo o estudo, dez políticos são considerados líderes nas mídias sociais e, entre eles, estão Aécio Neves (PSDB), Romário Faria (PSB) e Eduardo Cunha (PMDB). Para identificar esse grupo, os pesquisadores analisaram as páginas do Facebook dos políticos com o maior número de curtidas, engajamento (comentários e compartilhamentos) e graus de entrada, ou seja, o quanto a página é seguida por outros políticos. Este foi o principial critério usado para produzir o ranking  porque o grau de entrada, segundo o estudo, representaria melhor a relevância de cada político no Facebook.
Líderes no Facebook
A pesquisa foi dividida em três fases. Na primeira, foram identificados os deputados federais com maior presença no FB. Os grafos indicam a existência de três grupos: um grupo formado por parlamentares governistas e também deputados de esquerda. Nesse grupo se destacam Jandira Fenghali (PCdoB/RJ), Maria do Rosário (PT/RS), Jean Wyllis (PSOL/RJ), Chico Alencar (PSOL/RJ) e Paulo Teixeira (PT/SP). Um segundo grupo é formado por parlamentares de oposição, entre eles, Carlos Sampaio (PSDB/SP), Mara Gabrili (PSDB/SP), Bruno Araújo (PSDB/PE), Ônix Lorenzoni (DEM/RS) e Antônio Imbassahy (PSDB/BA).
O terceiro grupo é estrutura entorno do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Para os pesquisadores, "Eduardo Cunha é, dentre todos os deputados, aquele que apresenta maior número de conexões, mas paradoxalmente isto não se traduz em uma rede sólida de apoio. Isto acontece por dois motivos: ele está bastante isolado dos dois grupos principais da Câmara (embora mais próximo do grupo oposicionista); seus seguidores são inexpressivos na rede, e portanto não potencializam sua liderança".
Líderes no Facebook
A segunda etapa da pesquisa concentrou o monitoramento entre os senadores. Nesse caso, o senador Aécio Neves se destaca e, no entorno dele, gravitam Aluysio Nunes (PSDB), Ronaldo Caiado (DEM), Álvaro Dias (PV) e Romário. A rede se estrutura em dois polos. Um mais de oposição ao governo e outro formado por senadores que apoiam o governo. Nesse grupo, se destacam Lindbergh Farias (PT/RJ) e Gleise Hoffman (PT/PR).
Líderes no Facebook
O estudo testou ainda o grau de influência dos políticos no Facebook (independentemente dos cargos). Nesse caso, a rede estrutura-se entorno de Dilma Rousseff e Aécio Neves. Para os pesquisadores, a forte participação de Aécio pode ser reflexo da visibilidade que ele teve durante a campanha presidencial de 2014, além também por ser um dos políticos com participação no debate sobre o possível impeachment da presidente. Essas características fazem Aécio Neves um dos principais líderes do Congresso Nacional. O interessante desses resultados é que o formato da rede (Dilma x Aécio) reproduz o mesmo cenário da disputa eleitoral 2014, um indicativo da polarização que muita gente pode facilmente perceber nos debates travados nas redes sociais.
Líderes no Facebook