Zuckerberg já negocia com grandes estúdios e contrata profissionais de produção como Mina Lefevre, ex-MTV, para aquisição e financiamento de conteúdo
"O objetivo é
que, quando as pessoas quiserem acompanhar seu programa favorito, acompanhar o
conteúdo que assistem em episódios semana a semana, elas possam vir ao Facebook
e ir para um lugar que vai mostrar isso."
É Mark Zuckerberg,
presidente do Facebook, apresentando há duas semanas os resultados da empresa
em 2016, para investidores, e apontando a estratégia para dominar também a
televisão –e a publicidade que ela gera.
Na noite de terça
(14), fez o seu primeiro movimento: anunciou um aplicativo para assistir vídeo
em aparelhos de TV. O app sai inicialmente para os adaptadores Apple TV e
Amazon Fire TV e para as smarTVs da Samsung.
Chegará "logo", em algumas semanas,
às respectivas lojas de aplicativos. E tem "mais plataformas a
caminho", ou seja, outras marcas de adaptadores e smarTVs e consoles de
videogame.
Zuckerberg não está
entrando na tela maior, do televisor, só para mostrar vídeos curtos e GIFs que
congestionam o "feed" no celular. Quer programação regular, séries de
sucesso das TVs aberta e paga, "em episódios".
"Muitos dos
melhores conteúdos episódicos são criados profissionalmente", afirmou ele
aos investidores, "e esses caras precisam receber uma boa quantidade de
dinheiro de maneira a poder sustentar seu modelo de negócios."
O Facebook já negocia
com grandes estúdios, em princípio oferecendo a divisão da receita com
publicidade. Mas também vem fechando negócios de licenciamento, ou seja,
adquirindo direitos.
Na segunda (13), a
rede social assinou com a Univision um contrato para apresentar ao vivo, para o
público americano, o campeonato mexicano de futebol. O primeiro dos 46 jogos
será domingo (19).
E no sábado (11)
havia enviado executivos para os encontros sobre licenciamento com as
gravadoras que acontecem no entorno da entrega do Grammy. O alvo, no caso, são
os vídeos musicais.
Também vem
contratando profissionais de produção como Mina Lefevre, na semana passada. Ela
era vice-presidente da MTV e vai trabalhar no desenvolvimento de programação
original, por aquisição ou financiamento.
CORRIDA
Lefevre escreveu no
próprio Facebook que sempre quis "construir alguma coisa, e a ideia de
fazer parte da equipe que está erguendo o ecossistema de conteúdo do Facebook é
um sonho".
Em seu conselho de
administração, que estabelece estratégias, Zuckerberg tem um nome ainda mais
estelar, o presidente da Netflix, Reed Hastings –o que começa a levantar
questionamentos sobre ética concorrencial.
A TV que o Facebook
está montando não prevê receita com assinaturas, como faz a Netflix, e sim
publicidade, o que evita a concorrência direta com a gigante de TV por demanda
e atinge mais os canais de TV aberta e paga.
Com o novo
aplicativo, o Facebook, que afirmou há três meses estar no limite de sua
capacidade de veicular publicidade no "feed", quer entrar no mercado
publicitário da TV americana, avaliado em US$ 70 bilhões.
A disputa pela
carcaça da TV atrai outros gigantes de tecnologia. Também falando a
investidores, o presidente da Apple, Tim Cook, anunciou que vai agora priorizar
conteúdo de TV, na busca de novas fontes de receita.
"Colocamos o pé
na água fazendo algum conteúdo original, estamos aprendendo e avançaremos a
partir daí", disse. "Creio que as mudanças na indústria de mídia vão
se acelerar com os pacotes de cabo começando a quebrar."
Para Cook, a TV paga
está perdendo o controle da distribuição. Dias depois, a Apple reforçou sua
equipe para licenciamentos e programas originais com um executivo de TV tirado
da Amazon.
Correndo por fora, no
final do ano o Spotify chamou para seu conselho o diretor de conteúdo da
Netflix, Ted Sarandos, visando melhorar sua estratégia de TV. E o Snapchat
passou a privilegiar licenciamento de conteúdo das produtoras, abrindo
concorrência direta com o modelo usado pela TV.
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