Silvio Santos se uniu ao presidente da RedeTV! e ao bispo Edir Macedo, da Record, em um pacto de resistência às TVs por assinatura. Agora, é cada um por si
Uma batalha sem precedentes na história da televisão brasileira está em curso – e a grande maioria dos telespectadores, sentada no sofá, ainda não se deu conta disso. De um lado, o SBT de Silvio Santos, a Record do bispo Edir Macedo e a RedeTV!, dos empresários Marcelo de Carvalho e Amilcare Dallevo. De outro, as operadoras de TV por assinatura Sky, Net, Claro e Oi. A essência do embate é simples como o humor infantilizado dos quadros Câmera Escondida, do Programa Silvio Santos, mas a solução parece mais complicada do que as tramas das telenovelas mexicanas exibidas pelo canal.
As emissoras, basicamente, exigem receber pelo repasse de suas programações em sinal digital, mas as operadoras de canais por assinatura não querem pagar. A encrenca, ainda sem qualquer previsão de acordo, resultou na interrupção do sinal por parte das três empresas na Grande São Paulo, na quarta-feira 29, exceto para os assinantes da Vivo TV, que conseguiu adiar o rompimento aos 45 minutos do segundo tempo. “O que as TVs pagas fazem com a gente é uma p… sacanagem, porque pagam para ter acesso ao sinal da Globo e da Band, mas se recusam a conversar com a gente”, afirmou o executivo de uma emissora que participa das negociações.
Pelos cálculos das emissoras, elas deixam de receber, juntas, algo em torno de R$ 500 milhões por ano – dinheiro equivalente à metade da receita do SBT no ano passado, que somou R$ 1 bilhão. No mesmo período, a Record faturou R$ 1,8 bilhão, e RedeTV! recebeu R$ 400 milhões. As três empresas decidiram criar, em junho de 2016, a joint venture Simba, responsável por negociar a distribuição do sinal. “Na recessão que a economia brasileira atravessa, deixar de receber pelo nosso conteúdo é uma sentença de morte”, disse a fonte.
Por trás do impasse entre emissoras e operadoras de TV por assinatura existe um debate muito mais profundo e complexo: o de quanto vale a informação na era da notícia gratuita, da popularização do acesso à internet e do surgimento das transmissões on demand e streaming, como Netflix. É fato que produzir conteúdo, seja qual for, custa caro. E se for conteúdo de qualidade, mais caro ainda. Mas também é preciso saber o quanto se deve pagar por uma programação que, com a instalação de uma antena simples, é aberta e gratuita. Essa conta não é simples.
Por enquanto, os três personagens da trama estão no prejuízo. As operadoras de TV paga correm o risco de perder ainda mais assinantes. Só no ano passado, 364 mil deles cancelaram a assinatura. Sem sinal de SBT, Record e RedeTV!, os telespectadores correm o risco de não terem acesso à programação destes canais, já que o sinal aberto não pega em todo lugar. Já as emissoras, que perdem parte da audiência imediatamente, terão mais dificuldade para vender suas cotas publicitárias.
Seja qual for o desfecho dessa queda-de-braço, é inegável que a distribuição gratuita de conteúdo terá de ser repensada. Sabe-se que, nos bastidores, o bispo Macedo, o presidente da RedeTV!, Marcelo de Carvalho, e Silvio Santos fizeram um pacto de resistência contra as TVs por assinatura. Se não pagarem, nem que seja um valor bem menor do que o meio bilhão pleiteado, não terão acesso às suas frequências em sinal digital. Cada um por si. E com toda razão.
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