Universal Music, por exemplo, acaba de lançar um plataforma de vendas diretas para os fãs; aproximação cada vez maior com o público é um dos pontos fundamentais para as companhias
Adriana Del Ré, O Estado de S.Paulo
14 de julho de 2019 | 03h00
Há tempos, o mercado fonográfico passa por profundas mudanças. E esse foi um processo especialmente difícil para as gravadoras, que, por um período, tentaram entender como proceder diante do avanço digital e da queda das vendas físicas. Isso envolveu até ações judiciais contra pirataria e contra quem fazia download de músicas na internet. As companhias, no entanto, se deram conta que, mais do que combater ou relutar, era preciso se reinventar.
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Afinal, não se vendem mais milhões de cópias de discos como outrora. Os lançamentos agora estão nas plataformas de streaming. A forma de lançar música também mudou. Um disco pode ser lançado de uma vez só, ou de surpresa, modelo já experimentado por nomes como Beyoncé e Tribalistas, ou pode ser mostrado aos poucos, single a single, antes de chegar ao streaming, caso do novo trabalho de Madonna, Madame X. Além disso, o artista encontrou muito mais autonomia na sua carreira: tanto para gravar um disco no próprio estúdio quanto para divulgar o trabalho nas redes sociais e no YouTube. É um novo cenário.
E qual foi o caminho encontrado pelas gravadoras para se enquadrar nessa nova era? Ir além do lançamento de discos, ampliando seu leque de ações, serviços e produtos. Nessa toada, entre outras ações, a Universal Music acaba de estrear uma plataforma de vendas diretas ao consumidor, no www.umusicstore.com. Ali é o espaço dos produtos físicos da gravadora, incluindo, claro, CDs, DVDs, vinis e boxes, mas também peças de decoração, como almofadas e quadros; moda, como bonés e camisetas; e acessórios, como canecas e coolers. “Com o crescimento do digital, a gente viu uma necessidade maior de manter o físico aceso, só que agregando valor e entrando em novos mercados: de decoração, moda e acessórios. Essa indústria movimenta muito dinheiro no Brasil”, diz Paulo Lima, presidente da companhia. “No fundo, a gente entende que os artistas são grandes marcas e que seus fãs querem ter produtos físicos dessa marca do artista.”
Além de itens de Charlie Brown Jr., Zeca Pagodinho, Guns N’Roses, Rolling Stones, entre outros, o site traz a loja oficial de Sandy & Junior, incluindo caixa de CDs da dupla, Nossa História, e reúne relançamentos preciosos, entre eles, Domingo, de Gal e Caetano, de 1967; Tim Maia, terceiro disco do cantor, de 72; o clássico Elis & Tom, de 74. “A gente vem com uma linha de produtos que são colecionáveis, são relançamentos de vinis importantes, que não existem mais no mercado”, afirma Paulo Lima, que sentencia: “Assumi a Universal há 3 anos e digo que não sou presidente de uma gravadora, sou presidente de uma empresa de conteúdo, de mídia e de entretenimento. Até porque, muitas vezes, nem gravar mais a gente grava, o artista grava no próprio estúdio. O que a gente faz é traçar uma estratégia desse conteúdo, potencializando através dos nossos canais de comunicação, da nossa mídia, e gerando entretenimento com novos modelos de negócio.”
A Sony Music também criou uma plataforma de vendas diretas, no www.fanstagestore.com.br. Quem inaugurou a loja online foi o trio pop BFF Girls, com artigos que levam sua marca e, em breve, segundo a gravadora, estarão disponíveis produtos de Fernando e Sorocaba e da banda Natiruts. A ação faz parte da Business Development da Sony, criada para desenvolver um novo modelo de negócios para a companhia e ampliar sua atuação. Essa área tem dois pilares: um atua em contato direto com as marcas e o outro, na promoção de shows, festivais e propagação da marca Filtr Live.
Aliás, a Sony terá um palco da Filtr Live no Rock in Rio, reunindo novos nomes da música. E a escolha do nome do palco será feita pelo público, nas redes sociais do festival. “Num primeiro momento, a diversificação foi uma opção para o declínio das vendas. Mas, no mercado de hoje, bastante competitivo e que cresce à taxa de 30%, ela passa a ser uma questão de diferenciação, de oferecermos aos artistas serviços mais completos junto às marcas e ao público em geral”, afirma Wilson Lannes, vice-presidente da Sony. “Temos hoje também o desafio de conectar nossos artistas às linhas de negócio de shows, sincronização publicitária, branding e prover uma solução completa ao mercado, de conteúdo artístico e musical.”
Para Sergio Affonso, presidente da Warner Music, “em geral, a indústria toda está indo mais ou menos nas mesmas frentes, de abertura de novos mercados”. “Temos trabalhado nas nossas próprias playlists, no nosso canal de YouTube, tentando não só conteúdos clássicos musicais, mas também criando novos produtos, novas formas de comunicar a carreira do artista. Por exemplo, a gente fez a Lucy Alves cozinhando na Toca do Bandido, onde ela também cantava as músicas. Então, são movimentos que toda a indústria está fazendo em conjunto”, diz Affonso.
E, nesse novo trilhar, os canais diretos com o público são fundamentais. “O fã-clube, por exemplo, é algo de vital importância, porque é ali que a gente identifica todos os pontos mais fortes e mais fracos de um projeto que estamos colocando na rua. Então, essa aproximação com o público é crucial hoje, através de Instagram, Twitter, YouTube.” Entre as ações recentes da gravadora, estão o evento Warner Pride, para celebrar o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, no Rio, com exposição, debates e pocket show; e, por causa do lançamento do álbum, No. 6 Collaborations Project, de Ed Sheeran, os produtos oficiais do projeto ficaram disponíveis apenas um dia em vários pontos de vendas pelo mundo – e, no Brasil, foram encontrados numa unidade da Saraiva, em São Paulo.
Para Jorge Lopes, diretor executivo da Biscoito Fino, que tem forte atuação nas vendas online, mas também segue trabalhando no mercado físico, diversificar é importante. E, nesse cardápio, podem ser incluídos o podcast da casa, Biscoito para Ouvir, e séries exclusivas como Encarte, com entrevistas com artistas, no YouTube.
“Estamos fazendo acordos para fabricarmos quantidades menores de produtos físicos, para seguirmos atuando nesse mercado. O mesmo acontece com as bookstores: estamos estabelecendo acordos com elas, buscando modelos de negócio viáveis”, diz ele. “Ao mesmo tempo, buscamos viabilizar a comercialização de outros produtos, além de CDs e DVDs. Essa não é uma tarefa simples, necessita de investimentos em pessoal e, principalmente, da aprovação prévia dos artistas.”
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