domingo, 27 de maio de 2012

Bebês já nascem em busca de comunicação


Capacidade de interagir com os pais e outras pessoas é a primeira forma de manifestação da inteligência de
crianças

Natalie Angier
Do New York Times

Sentada em uma sala de monitoramento no Laboratório para Estudos de Desenvolvimento da Universidade
de Harvard, Elizabeth Spelke, professora de psicologia e pesquisadora dos elementos que formam o
conhecimento humano, olhava com expectativa enquanto seus estudantes preparavam uma menina de 8
meses de idade para a tarefa de assistir a desenhos animados. Os vídeos mostravam personagens pulando,
correndo e dançando de um grupo para o outro. O objetivo da pesquisadora neste projeto, assim como em
outros similares em andamento no laboratório, era explorar o que crianças entendem sobre grupos e
expectativas sociais.

No entanto, mesmo antes de a gravação começar, o bebê que participava da pesquisa deixou claro o escopo

do seu cérebro social. Ela acompanhava as conversas, fitava os recém-chegados e sorria. Elizabeth, que se
destacou no meio acadêmico ao determinar como as crianças aprendem sobre objetos, números e
configuração espacial, demonstrou todo o seu espanto:

- Por que demorei 30 anos para começar a estudar isso? Durante todo este tempo, eu estive dando às
crianças objetos para segurar ou observei como elas exploram um quarto, quando o que elas queriam fazer
era se envolver com outras pessoas - comentou.- Por que demorei 30 anos para começar a estudar isso? Durante todo este tempo, eu estive dando às crianças objetos para segurar ou observei como elas exploram um quarto, quando o que elas queriam fazer era se envolver com outras pessoas - comentou.

Linguagem é o nosso ingrediente secreto

Para Elizabeth, a melhor forma de determinar o que os humanos nascem sabendo, se há algo que nascemos
sabendo, é ir direto na fonte e consultar os recém-nascidos. Ela é uma pioneira no uso do olhar infantil como uma chave para suas mentes - isto é, identificar as expectativas inerentes a bebês com menos de uma
semana ou duas, medindo quanto tempo eles olham para uma cena em que tais pressupostos estão ou não
satisfeitos.

Considerada uma das maiores especialistas do mundo em desenvolvimento da inteligência, Elizabeth diz que
uma das coisas que os bebês sabem, geralmente antes de completar 1 ano, é o que é um objeto. Se você
mostra a um bebê uma haste que parece ser sólida e se move para frente e para trás, ele se mostrará
surpreso quando o objeto for removido e a haste se revelar como sendo, na verdade, dois fragmentos.
Crianças também sabem que os objetos não podem ultrapassar fronteiras sólidas ou ocupar a mesma
posição de outros corpos, e que eles geralmente viajam pelo espaço numa trajetória contínua.

O ser humano nasce com a capacidade de estimar quantidades e diferenciar entre mais e menos. Mostre a
bebês coleções de quatro ou 12 unidades e eles vão relacionar a cada número um som. Eles também usam
pistas geométricas para se orientar no espaço: "a sala é quadrada ou retangular? O brinquedo foi deixado em um canto esquerdo com parede curta ou longa?" Mas não se saem bem ao usar marcadores espaciais ou objetos de decoração para encontrar um caminho. Com 5 ou 6 anos, começam a aumentar as estratégias com questões como: "o brinquedo foi deixado num canto cuja parede esquerda é vermelha e não branca?".

Mais recentemente, Elizabeth e seus colegas começaram a identificar algumas das definições iniciais de
inteligência social infantil. Crianças com poucas semanas de idade mostram uma clara preferência por
pessoas que usam padrões de fala aos quais já foram expostas, e que incluem sotaques fortes. Um bebê olha por mais tempo para quem fala com o jeito específico de sua cidade. Ao guiar as primeiras tendências sociais, o sotaque é mais importante que a cor da pele. Um bebê americano branco aceitaria comida mais facilmente de uma pessoa negra que fala inglês do que de um francês branco, e uma criança de 5 anos preferiria ser amiga de uma criança de outra cor que soasse como uma local do que de uma da mesma cor e que tenha um sotaque estrangeiro.

Outros pesquisadores no laboratório de Elizabeth estão estudando se bebês esperam coerência
comportamental entre membros de um mesmo grupo - o personagem azul deve pular como os outros
personagens azuis, em vez de correr, como os amarelos; se esperam que outras pessoas se comportem de
forma sensata - se for tocar um brinquedo, vá direto a ele, em vez de tatear o ambiente; e como os bebês
decidem se um objeto novo tem relação com outros agentes - ele é pequeno, se move ou é inerte?
Elizabeth também está tentando entender como os domínios fundamentais da mente humana interagem para
produzir nossa inteligência. A pesquisadora propõe que a linguagem humana é o ingrediente secreto, o
catalizador cognitivo, que permite que nossos módulos numéricos, arquitetônicos e sociais unam forças,
troquem ideias e nos levem a fazer coisas incríveis.decidem se um objeto novo tem relação com outros agentes - ele é pequeno, se move ou é inerte?

Elizabeth também está tentando entender como os domínios fundamentais da mente humana interagem para
produzir nossa inteligência. A pesquisadora propõe que a linguagem humana é o ingrediente secreto, o
catalizador cognitivo, que permite que nossos módulos numéricos, arquitetônicos e sociais unam forças,
troquem ideias e nos levem a fazer coisas incríveis.

- O que é especial sobre a linguagem é seu poder de fazer combinações produtivas. Podemos usá-la para
combinar qualquer coisa com qualquer coisa - explica.

Ela diz que crianças começam a integrar o que sabem sobre o formato do ambiente e os marcadores de lugar apenas com a idade em que começam a dominar a linguagem espacial e palavras como esquerda e direita.

No entanto, reconhece, suas ideias sobre a linguagem como o consolidador central da inteligência humana
permanecem sem comprovação e contenciosas. Enquanto testa suas teorias, a pesquisadora conta com a
admiração de colegas do meio acadêmico:

- O que ela está fazendo é o que Descartes, Kant e Locke tentaram fazer - diz Steven Pinker, renomado
professor de Harvard.

Fonte: O Globo

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