segunda-feira, 16 de abril de 2018

Mídia, religião e política: igrejas cristãs intensificam presença na esfera pública

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Igrejas ou de lideranças religiosas cristãs comandam nove dos cinquenta veículos de maior audiência no Brasil. Além de disputas na sociedade, mídias são utilizadas como instrumentos para que essas entidades avancem também na política institucional. Confira a seguir o quarto artigo da série sobre os proprietários da mídia no Brasil


Ao assumir a presidência da Câmara dos Deputados, em 2015, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-membro da igreja Sara Nossa Terra e atual integrante da Assembleia de Deus Ministério Madureira, afirmou que “aborto e regulação da mídia só serão votados passando por cima do meu cadáver”. A frase diz muito sobre a forma como igrejas cristãs têm atuado no Brasil nas últimas décadas.
Conquistando cada vez mais espaço nas mídias de massa e assentos no Congresso Nacional, lideranças evangélicas e católicas atuam na esfera pública em defesa de valores considerados por elas como cristãos, sob a justificativa de que estariam agindo “em nome de Deus” e do direito de terem seus interesses representados, em uma visão de democracia que a define mais como um governo da maioria do que como um governo de todos.[1]
O sistema de mídia brasileiro, que permite a concentração da propriedade e da audiência nas mãos de poucos proprietários, também beneficia os grupos religiosos. No texto “Igrejas cristãs no topo da audiência”, parte desta sérieque discute os resultados da pesquisa Monitoramento da Propriedade da Mídia, mostramos que, dos cinquenta veículos de comunicação de maior audiência no Brasil, nove são de propriedade de igrejas ou de lideranças religiosas cristãs. Além disso, a programação religiosa é o principal gênero transmitido pelas redes de TV aberta do país, ocupando 21% do total de programação, segundo dados de 2016 da Agência Nacional de Cinema (Ancine).
Diante disso, compreende-se a afirmação de Eduardo Cunha contra a regulação da mídia. Ele mesmo foi alçado a liderança política através dos meios de comunicação. Em 1995, ganhou um programa na rádio evangélica Melodia FM, uma das rádios regionais de maior audiência no país, segundo o Kantar Ibope, de propriedade do deputado federal Francisco Silva. Em 2002, foi eleito deputado federal pela primeira vez. Em sociedade com Silva, Cunha foi também dono da rádio Satélite, em Pernambuco, vendida em 2007.

Iurd: audiência e voto como fonte de poder
Cinco dos nove veículos de grande audiência comandados por religiosos são controlados pelo bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Quatro fazem parte do Grupo Record e o outro – a rede de rádios Aleluia – pertence à Iurd. Além da audiência, a Universal conquista muitos votos. Quarta denominação evangélica brasileira em número de fiéis (1,87 milhão), segundo dados do IBGE de 2010, lideranças da Iurd são maioria no Partido Republicano Brasileiro (PRB) e disputam com parlamentares da Assembleia de Deus o maior número de representação evangélica no Congresso Nacional.[2]
Macedo fundou a igreja em 1977 e, desde o início dos anos 1980, alugava horário de programação em emissoras de rádio e de TV. Em 1984, conseguiu sua primeira concessão de rádio e, em 1986, elegeu o primeiro candidato iurdiano, o deputado federal Roberto Lopes, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em 1989, deu um grande passo ao adquirir as redes de rádio e TV Record. A compra foi intermediada pelo então deputado federal e pastor da Iurd Laprovita Vieira. Em 1991, fundou a gravadora Line Records, que lançou no ano seguinte o primeiro EP do engenheiro, missionário, bispo, compositor e cantor Marcelo Crivella, hoje com quinze álbuns gravados. Sobrinho de Macedo, Crivella se tornaria a principal liderança política da denominação.
Segundo informações sistematizadas por Janaína Aires e Suzy dos Santos,[3] a participação da igreja no congresso foi crescente. Elegeram três deputados federais em 1990, quatro em 1994, treze em 1998; em 2002, além de dezesseis deputados, elegeram um senador, Marcelo Crivella, pelo Partido Liberal (PL-RJ). Em 2006, já com a sigla PRB, a igreja elegeu apenas quatro deputados federais, depois do escândalo de corrupção e desvio de verbas públicas envolvendo uma de suas principais lideranças, o Bispo Rodrigues. Mas o seu poderio político voltou a crescer: em 2010, elegeram nove e, em 2014, 21 deputados. Em 2016, elegeu Marcelo Crivella prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Atualmente, o partido conta com 1.627 vereadores, 104 prefeitos, 38 deputados estaduais, 22 deputados federais, 1 senador e 1 ministro.
Ainda segundo dados sistematizados por Aires e Santos, 19 dos 26 congressistas do PRB eleitos para a 55a legislatura têm vínculos com empresas de comunicação e 14 deles com a Record. Os veículos de comunicação do bispo Macedo ajudam a projetar diversas lideranças políticas. Em seu terceiro mandato como deputado federal, o pastor da Universal Antônio Bulhõesparticipou, por nove anos, do programa Fala que eu te escuto, o principal programa da Iurd, veiculado nas madrugadas da Record TV. Além disso, apresentou o programa Retrato de Família, na Record News.
Embora seja católico, outra liderança do PRB que se projetou na televisão foi Celso Russomanno. Sua carreira começou em 1986, nas rádios Manchete e Bandeirantes. Em 1991, tornou-se repórter do programa Aqui Agora, do SBT, no qual ficou conhecido por reportagens focadas no direito do consumidor. Em 1994, elegeu-se deputado federal, pelo PSDB. Passou pelo PFL (atual DEM) e pelo Partido Progressista (PP). Desde 2011, integra o PRB e a equipe de repórteres da Record TV, apresentando o quadro Patrulha do Consumidor, no Cidade Alerta. Em 2014, foi o mais votado deputado federal por São Paulo, puxando votos para outros deputados da legenda.

Outros grupos evangélicos na mídia e na política
Outros grupos evangélicos que aparecem na lista dos cinquenta veículos de maior audiência no país, segundo o MOM Brasil, são a Igreja Apostólica Renascer em Cristo e a Igreja Adventista do Sétimo Dia. A Renascer é dona da Rede Gospel de televisão, 11a em audiência. Já a Adventista é dona da Novo Tempo, 12a rede nacional de rádio.
Nenhuma das duas se articula em torno de um partido, mas a Renascer possui uma atuação política através de suas lideranças ou de parcerias com lideranças de outras igrejas. Geraldo Tenuta Filho, o Bispo Gê, presidente da Renascer e comentarista na Rede Gospel de televisão, foi deputado estadual e federal por São Paulo em diferentes partidos (foi filiado ao PSDB, ao PTB, ao então PFL e ao PMDB). Na Câmara dos Deputados, foi titular, entre outras, das comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
A Renascer também tem ligação com uma das principais lideranças evangélicas do Congresso Nacional, o senador Magno Malta (PR-ES). Membros da Assembleia de Deus, Magno Malta e sua esposa, a cantora gospel e ex-deputada federal Lauriete Rodrigues (PSC-ES), apresentam o programa de entrevistas Visão de Vida, na Rede Gospel. O senador é presença constante também na Marcha para Jesus, evento realizado pela Renascer, desde 1993, e que, tendo artistas da música gospel como principal atração, já chegou a reunir cerca de 2 milhões de pessoas em São Paulo, em 2013.
Já a Igreja Adventista do Sétimo Dia não possui candidatos oficiais, embora também tenha sido beneficiada com concessões de rádio e TV no processo Constituinte (a concessão de sua primeira emissora de rádio, embrião da rádio Novo Tempo, é de 1989). A igreja apresenta diretrizes para a atuação política de seus pastores e leigos, pelas quais declara que não apoia nem possui partidos políticos e candidatos oficiais, não permite a realização de reuniões políticas em seus templos e determina que políticos que sejam adventistas se licenciem de suas atividades da igreja. No entanto, orienta seus membros a participarem de eleições e escolherem candidatos “que defendam os princípios de temperança – o que inclui combate ao fumo e bebidas alcoólicas – questões de liberdade de expressão religiosa, separação entre Igreja e Estado e que efetivamente tenham propostas concretas para melhorar a qualidade de vida da população em geral especialmente nas áreas de saúde, educação e família”.[4]

Mídia e política na Igreja Católica
Se as TVs e os grandes eventos oferecem palanque para os políticos religiosos e suas propostas, é também graças à atuação política que as igrejas conseguem suas concessões públicas de rádio e TV. Segundo levantamento já citado de Aires e Santos, na última década o número de concessões de geradoras e de retransmissoras de televisão ligadas a entidades religiosas saltou de 1.687 para 2.841, um crescimento de 69%, acompanhando o crescimento do número de parlamentares religiosos na Câmara dos Deputados. A Igreja Católica, especialmente por meio da corrente da Renovação Carismática, detém 40% das emissoras religiosas de TV. Uma delas é a Rede Vida, 8a em audiência segundo o MOM Brasil.
A Rede Vida foi iniciativa do jornalista João Monteiro de Barros Filho, dono do Grupo Monteiro de Barros de Comunicação, em Barretos (SP). A concessão foi obtida em março 1990, no último mês do governo de José Sarney (PMDB, 1985-1990), com a ajuda de Augusto Marzagão, amigo pessoal de Monteiro de Barros Filho que ocupou o cargo de secretário particular do presidente da República. A operação de concessão teve a assessoria do jurista e professor Ives Gandra da Silva Martins, membro da Opus Dei, organização conservadora católica. A expansão da rede contou com a articulação entre religiosos e políticos e é gerida pelo Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã (Inbrac), cujo conselho superior é presidido por Dom Orani Tempesta, hoje arcebispo do Rio de Janeiro. Dom Orani foi presidente do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, entre 2012 e 2014, defendendo a mídia religiosa como “liberdade de expressão”.
Da mesma forma que as redes de TV evangélicas, a Rede Vida apresenta políticos em sua grade de programação. Gabriel Chalita apresenta o programa Caminhos. Atualmente no PDT, ele foi vereador de São Paulo (PSDB), deputado federal (PMDB), secretário municipal de Educação na gestão de Fernando Haddad (PT) e secretário estadual de Educação na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), além de candidato a vice-prefeito na chapa de Haddad em 2016. A política também está no cerne de programas de entrevistas, como o Anatomia do Poder, apresentado por Ives Gandra.

Outras lideranças religiosas na mídia de maior audiência
Se as redes de rádio e TV controladas por lideranças e instituições religiosas ajudam a projetar políticos cristãos, outras lideranças ganham visibilidade através de redes laicas de grande audiência, como a Rede TV! e a Band. Entre elas, o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC). Malafaia apresenta o programa Vitória em Cristo, transmitido pela Band aos sábados, ao meio dia. O pastor também é frequentemente ouvido por jornalistas como “representante” dos evangélicos,[5] embora os brasileiros que se declaram assim sejam heterogêneos e não possuam uma representação oficial.
Depois de apoiar o PT em 2002, Malafaia se tornou ferrenho opositor do partido a partir de 2006. Como mostra Christina Vital da Cunha, Paulo Victor Leite Lopes e Janayna Lui, tornou-se um dos articuladores do chamado “voto evangélico” a partir de 2010, sendo um dos articuladores da campanha do deputado federal Marcos Feliciano (PSC) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, em 2013, e para a candidatura presidencial do Pastor Everaldo (PSC), em 2014. Seu irmão, Samuel Malafaia, é deputado estadual (PSD-RJ), e o ex-diretor de eventos da ADVEC, Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ), é deputado federal.

Que “valores cristãos” são colocados em debate na esfera pública?
Os slogans de algumas redes de rádio e TV religiosas apresentadas na pesquisa, como Rede Vida – o “canal da família” – e Rede Aleluia – “a rede da família” –, e a programação voltada para a defesa de valores considerados como cristãos, coincidem com grande parte da atuação de igrejas evangélicas e católicas no sistema político brasileiro. A defesa de questões morais, da chamada “família tradicional”, a condenação da homossexualidade e do aborto são algumas pautas que reúnem grande número de evangélicos e católicos de diferentes correntes doutrinárias – especialmente pentecostais e carismáticos – em sua atuação no Congresso Nacional.
A Frente Parlamentar Mista Católica Apostólica Romana trabalha associada à Frente Parlamentar Evangélica em vários assuntos, como afirmou o seu coordenador, o deputado federal católico Givaldo Carimbão (Pros-AL), em entrevista ao programa Com a Palavra, da Rádio Câmara. A motivação da frente, segundo Carimbão, é impedir legislações que rasgariam, na sua visão, a “lei de Deus”, como a legalização do aborto e da eutanásia e a inclusão de “políticas de gênero” no Plano Nacional de Educação.
Mas a atuação religiosa na política também envolve outros temas de interesse das igrejas, como a isenção de impostos a igrejas e escolas religiosas, o financiamento para projetos culturais[6] e para veículos de comunicação religiosos e a distribuição das concessões da radiodifusão. Com diferentes ênfases, parlamentares investem nessas pautas que têm relação mais com seus interesses religiosos e institucionais do que com os assuntos de interesse de toda a sociedade. Segundo Ronaldo Almeida, enquanto a Assembleia de Deus atua principalmente em questões morais, dando grande atenção à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, os deputados da Iurd, que já causaram polêmica no mundo religioso ao defender o aborto, enfatizam projetos ligados a gestões dos negócios, principalmente nos meios de comunicação.[7]

Movimento ecumênico e outras visões sobre o cristianismo nas redes sociais
Os religiosos “midiáticos” de maior visibilidade pertencem a um pequeno grupo de cristãos evangélicos e católicos que também ganham espaço na esfera pública a partir de sua atuação política. O centro de sua atuação – e aquilo que os une, como disse o deputado federal Carimbão – é a defesa de determinados valores morais e o combate aos direitos conquistados por mulheres e LGBTs nos últimos anos. São essas mesmas lideranças que ganham visibilidade na cobertura jornalística dos veículos laicos.
No entanto, o mundo religioso cristão é mais heterogêneo e complexo do que a atuação dessas lideranças, chamadas de “extremistas” por Christina Vital da Cunha, Paulo Victor Leite Lopes e Janayna Lui. Pesquisas do Datafolha de 2014 e 2015 indicam, realmente, uma correspondência entre o que pensam os evangélicos na sociedade e os parlamentares evangélicos no Congresso Nacional em relação à homossexualidade: 40,3% dos protestantes e 44,9% dos pentecostais acham que “a homossexualidade deve ser desencorajada por toda sociedade”, correspondendo aos 41,9% dos parlamentares pentecostais e 46,2% dos parlamentares protestantes que concordam com a mesma afirmação. No entanto, em outros temas, como mostram os pesquisadores, as opiniões não coincidem. Nas eleições presidenciais de 2014, por exemplo, a maior parte dos eleitores do Pastor Everaldo (PSC) eram contra o Estado mínimo defendido pelo candidato.[8]
Além disso, outra forma de atuação pública de religiosos tem se disseminado. Como mostrou Tatiane dos Santos Duarte,[9] os movimentos ecumênicos cristãos de pautas progressistas não ganham espaço nas mídias de maior audiência nem nas reflexões acadêmicas, mas vêm construindo ações que se utilizam, principalmente, das redes sociais. Entre eles, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (Conic), a Koinonia e a Rede Ecumênica da Juventude (Reju). Essas entidades e coletivos já realizaram campanhas virtuais como “Religiosas e religiosos pela democracia” e uma campanha em defesa da laicidade do Estado que utilizava a hashtag #nãoemnomedeDeus. Realizaram também ações voltadas para o Congresso Nacional, como o envio de cartas públicas aos parlamentares e a realização de eventos com o apoio de parlamentares progressistas.

*Olívia Bandeira é jornalista, doutora em Antropologia e integrante do Intervozes

[1] Vital da Cunha, Christina; Lopes, Paulo Victor Leite; Lui, Janayna. Religião e Política: medos sociais, extremismo religioso e as eleições de 2014. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll Brasil & Instituto de Estudos da Religião (ISER), 2017.
[2] Nas eleições de 2014, o PRB elegeu 21 deputados federais e o Partido Social Cristão (PSC), mais ligado à Assembleia de Deus, elegeu 12.
[3] Aires, Janaína; Santos, Suzy dos. Sempre foi pela família: mídias e políticas no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2017.
[5] Este material do portal IG ilustra bem como a mídia ajuda a projetar determinadas lideranças como representantes de um grupo, no caso, os evangélicos: http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-10-11/pastor-silas-malafaia-se-consolida-nas-eleicoes-como-lider-politico-nacional.html.
[6] Em 9 de janeiro de 2012, foi aprovada no Congresso, a partir do trabalho conjunto de parlamentares evangélicos e católicos, a lei n.12.590 que reconhece o gospel como “manifestação cultural” passível de captar recursos através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
[7] Almeida, Ronaldo de. “Os deuses do parlamento”. Novos Estudos. São Paulo: Cebrap. Especial jun. 2017, p.71-79.
[9] Duarte, Tatiane dos Santos. “A militância política de grupos ecumênicos na construção da democracia brasileira”. In: Vital da Cunha, Christina; Lopes, Paulo Victor Leite; Lui, Janayna. Religião e Política: medos sociais, extremismo religioso e as eleições de 2014. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll Brasil & Instituto de Estudos da Religião (ISER), 2017.

4 Mídia, religião e política: igrejas cristãs intensificam presença na esfera pública
5 Afiliações políticas na mídia brasileira (abril)
6 Mídia antipetista: quem controla O Antagonista? (maio)
7 A expressão regional do monopólio midiático (junho)
8 Monopólios da mídia: o que mudou e o que não mudou com a internet? (julho)
9 Antigo, permissivo e ineficaz: o marco regulatório das comunicações no Brasil (agosto)

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