segunda-feira, 6 de junho de 2011

Não é nuvem passageira

O GLOBO - RJ                                                                                              06/06/2011


Mundo on-line, com potencial de US$ 1,4 trilhão, terá 15 bilhões de conexões em 2015
 
André Machado
Embora ainda nos agarremos a nossos HDs locais e arquivos que acumulamos ao longo dos anos, como músicas, textos e vídeos, já estamos todos voando dentro da grande nuvem de internet, derivada do conceito de computação em cloud. Nossas vidas pessoais e profissionais se misturam em arquivos no webmail, em redes sociais e blogs/microblogs, serviços de mensagens instantâneas e mesmo viajando nas redes wireless de smartphones e tablets. A cloud já é tida por experts como um mercado potencialmente trilionário.

O e-universo social e corporativo comporta hoje 2 bilhões de usuários que acessam a internet por computadores. Os portadores de dispositivos móveis já são 5,3 bilhões de pessoas. Serviços que já estão aí há algum tempo, todos baseados em nuvem, têm números milionários: Skype, com 663 milhões de usuários; Facebook, com 629 milhões; Windows Live Hotmail, com 384 milhões; Messenger, com 330 milhões; Twitter, com 200 milhões; Gmail, com 193 milhões; e um grande etc.

— Na verdade, nós estamos na nuvem há mais de 15 anos, e se você contar só as ferramentas Microsoft, tudo começou quando adquirimos o Hotmail. E o Messenger também é nuvem — lembra Paula Bellizia, gerente de Marketing e Negócios da Microsoft Brasil. A empresa lançou há pouco seu serviço de nuvem para pequenas empresas, o Windows Intune.

Amit Singh, vice-presidente mundial de Vendas e Negócios da Google, que já tem 30 milhões de empresas usando seu serviço de aplicativos on-line Google Apps, diz que esse é um mercado para lá de gigante.

— O potencial do mercado de nuvem é de US$1,4 trilhão (ao ano), o dobro do mercado de publicidade on-line — afirma Singh.

Vulnerabilidade num caminho sem volta 
Pesquisa divulgada na semana passada pela Cisco projeta que, em pouco mais de três anos, os internautas serão 3 bilhões no mundo, e o número de equipamentos com conexão à rede chegará a 15 bilhões — com pelo menos duas conexões a essa nuvem por pessoa. De acordo com o estudo, no mesmo prazo atingiremos 1 zettabyte — ou um trilhão de gigabytes. Já de acordo outro estudo, da Avanade, esse zettabyte se multiplicará por 35 em 2020, segundo Tyson Hartman, diretor de Tecnologia da empresa.

E esses 35 zettabytes de nuvem poderiam ser comparados a quê? O professor de Linguística Mark Liberman, da Universidade da Pensilvânia, fez uma conta: uma versão digital de tudo o que a humanidade já falou desde o início dos tempos exigiria um armazenamento de 42 zettabytes. Ou seja, estamos chegando lá... Esse é justamente o grande potencial da nuvem: guardar uma quantidade quase infinita de informação (textos, dados, músicas, fotos, vídeos) e acessá-la de onde estivermos, via PC ou celular.

— A nuvem de internet já se encontra num estágio tal que não tê-la equivale a não ter um internet banking disponível. Não dá mais para viver sem isso — diz Gustavo Robichez de Carvalho, gerente de Tecnologia do Laboratório de Engenharia de Software (LES) da PUC-Rio. — Na verdade, nós já a usamos sem saber, mesmo que ainda não haja um amadurecimento, principalmente por parte das empresas, para gerir riscos corretamente dentro da nuvem. Mas o desconforto de não tê-la é pior do que a insegurança de tê-la.

De fato, a questão da segurança é um fator inquietante no conceito de nuvem, já que, se você pode acessar seus arquivos de qualquer lugar, eles também podem ser atacados de qualquer lugar. Entre os exemplos estão o ataque à rede do PlayStation, da Sony, e o “pau” na nuvem da Amazon com milhões de usuários solicitando a compra com desconto do disco de Lady Gaga.

— Novas tecnologias criam novas vulnerabilidades, e com a nuvem não seria diferente — diz Rafael Sampaio, presidente-executivo da Future Security. — A cloud computing de fato é sem volta, e botar informação sensível nela é como contar um segredo a alguém numa praça pública. É preciso se cercar de cuidados nessa praça: falar numa língua diferente (isto é, usar criptografia), não ficar parado num ponto da praça (isto é, fragmentar os dados), e por aí vai.

No Brasil, mais empresas estão usando a nuvem. Estudo da Impacta Tecnologia com 155 profissionais de 143 grandes e médias empresas do país mostrou que mais de 81,5% deles já estavam familiarizados com o conceito (quase 30% a mais que em 2010) e que houve um aumento de 50% no uso do armazenamento de dados on-line.

— Assim como os provedores de serviços puseram mais aplicativos e configurações direto na rede para os usuários finais, as empresas passaram a perceber as vantagens da nuvem — diz Nilson Ramalho, gerente de Tecnologia da Impacta.

Segundo Ramalho, algumas empresas ainda querem que seus dados fiquem hospedados em servidores no Brasil ou exigem saber onde eles estão geograficamente — mesmo que na nuvem possam ser acessados literalmente do mundo todo.

— Mas, à medida que adotam os serviços pagos, que têm cláusula que os obriga a garantir a segurança, a disponibilidade das informações passa a ser a maior preocupação.

Apesar de toda a badalação em torno da computação em cloud, um computador com tudo na nuvem ainda é uma experiência relativamente aflitiva. O Chrome OS, sistema operacional on-line do Google, recentemente testado pelo GLOBO, é totalmente baseado no navegador Chrome e não dá colher de chá para salvar nada localmente, só no Google Docs. No início, o usuário fica teclando Alt+Tab para voltar a uma área de trabalho que não existe. Melhor solução parece ter encontrado a Motorola, que usa o smartphone Atrix como alimentador do acessório-notebook Lapdock. Os serviços continuam na nuvem, mas com o conforto visual dos ícones do sistema Android. E isso sem falar do iPad e do iPad 2, da Apple, os tablets líderes do mercado (já foram vendidos mais de 15 milhões em 2010 e, segundo a consultoria Gartner, chegarão a quase 50 milhões este ano). Os tablets combinam nuvem com downloads locais, mas sua chave é, novamente, a disponibilidade da informação.

Mistura de vida pessoal e trabalho 
Para Paula Bellizia, da Microsoft, com a conexão ubíqua à internet, nossas vidas profissionais e pessoais ficarão cada vez menos separadas.

— Já uso minha rede social para funções de trabalho, e meu e-mail profissional para algumas coisas pessoais — diz. — E a comunicação entre as diferentes gerações vai se transformar, mudará a forma de dialogar e de escrever (de novo). E isso não quer dizer que nos tornaremos mais superficiais, pelo contrário.

Segundo Edison Borges, gerente de Marketing do Windows Intune, aos poucos o desenvolvimento do mercado de telecom e das tecnologias móveis só incrementará os serviços da nuvem. E ela nos levará de modo mais eficaz ao que sempre foi o coração da rede: o compartilhamento.

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