Teórico britânico vai contra a maré e ataca a "ilusão" de ferramentas como o Twitter e o Facebook, critica Julian Assange e relativiza a força das redes na Primavera Árabe
André Miranda andre.miranda@oglobo.com.br Voz crítica. Andrew Keen: "Caí fora do Facebook, e eu me senti melhor" Pedro Kirilos Analista afirma que usuários deixam de ser cadáveres ao abandonar plataformas como o Facebook O teórico britânico Andrew Keen, polêmico pensador sobre o mundo digital, acaba de lançar no Brasil o livro "#vertigemdigital" (editora Zahar). Keen conversou com O GLOBO sobre a influência das redes sociais na cultura atual. Em seu livro "#vertigemdigital", o senhor diz que as redes sociais são uma ameaça às liberdades individuais. Mas os usuários não têm a opção de ignorá-las? Acho que podemos. Mas não é tão simples. É óbvio que, de um lado, podemos tentar ser mais maduros, evitar o narcisismo e deixar de lado a sedução digital. Porém, quando a internet se torna a plataforma onde vivemos, responsável por construir marcas e fortalecer nossas redes de relacionamento, é extremamente difícil não estar nas redes sociais. Todos construímos nossas marcas nessas redes e acabamos varridos para esse mundo. O senhor tem conta no Twitter, mas não está no Facebook. Nunca se interessou pela rede de Mark Zuckerberg? Eu usei, mas acabei me tornando um dissidente do Facebook. Se eu estivesse no Facebook, a primeira pergunta que você me faria seria: como você escreve um livro para criticar as redes sociais e está no Facebook? Mas a questão é que, para entender as mídias sociais, você precisa estar nelas. Então usei o Facebook por um tempo, como pesquisa, mas caí fora antes de o livro ser publicado. E eu me senti melhor. Tenho um amigo que cancelou sua conta no Facebook e ouviu da filha que ele tinha cometido suicídio. Eu diria o contrário. Quando você cancela sua conta, você retorna à vida e não é mais um cadáver. O senhor fala muito sobre Julian Assange, em boa parte criticamente. Fora as acusações de assédio sexual, qual o maior crime de Assange? Acho que ele é um ideólogo da transparência radical. Só que é errada a ideia de que todos os governos devem ser inteiramente transparentes. É preciso haver um nível de segredo e privacidade. A transparência radical é impossível e perigosa. Ela destrói a autoridade do governo. As redes sociais não podem aumentar o hábito de leitura nas crianças? É, pode ser. Em meu livro, tento não ser tão reativo em dizer que as redes sociais estão destruindo o mundo. Eu uso a metáfora dos cadáveres, mas faço isso de uma maneira lúdica. As redes sociais têm seu valor, mas há muitos problemas. Um dos propósitos do livro é desmistificar essa dominância das redes sociais. As rede sociais não foram importantes para eventos como a Primavera Árabe e o Ocupem Wall Street? Concordo, mas acho que há alguma caricatura. Esses movimentos refletem os pontos fortes e os fracos das mídias sociais. O fraco é que eles não permitem agregar de verdade as pessoas. |
Jornal: O GLOBO | Autor: |
Editoria: Economia | Tamanho: 525 palavras |
Edição: 1 | Página: 28 |
Coluna: | Seção: |
Caderno: Primeiro Caderno |
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