Avanços tecnológicos no setor de televisão, rádio e telecomunicações não chegam a várias cidades do país
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BRASÍLIA E RECIFE — As mudanças na legislação nos setores de rádio, TV e telecomunicações, aliadas ao avanço da convergência digital, terão grande impacto no dia a dia dos consumidores e das empresas nos próximos anos. Mas ainda há grandes barreiras regionais e tecnológicas para que as mudanças cheguem ao conjunto da sociedade, pois enquanto o governo trabalha para antecipar a universalização da TV digital no país, uma parte da população ainda nem consegue ver a “telinha” colorida.
Até 2009, cerca de 4,7% dos domicílios brasileiros da área urbana e rural contavam apenas com TV em preto e branco. Este percentual era ainda maior nas regiões Norte e Nordeste. No Norte, 9,5% das residências não tinham televisão colorida e no Piauí (NE) esse percentual chegava a 14,8%. No estudo inédito “Tudo o que você precisa saber sobre rádio e televisão — licenças, outorgas, taxa de penetração, receitas e receptores”, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) traça um panorama da radiofusão no país. O estudo revela que, nos estados do Nordeste, por exemplo, as disparidades ainda são muito grandes no acesso à televisão.
Do total de 107 milhões de aparelhos de TV em funcionamento no Brasil no fim de 2012, apenas cerca de 15%, ou 16 milhões, tinham acesso digital (com conversor embutido ou setup box). São vendidos por ano no país cerca de 15 milhões (14%) de aparelhos de TV. Isso significa que, sem incentivo, todos os equipamentos só serão renovados em 2020. Embora os números revelem que nas dez maiores regiões metropolitanas do país a TV está em 98,4% dos lares, segundo os últimos dados da PNAD/IBGE, ela ainda não chegou a cerca de 15% dos domicílios do Piauí, e quase 13% dos de Tocantins.
O governo quer que até meados de 2016 a TV digital esteja totalmente implementada nos 885 maiores municípios do país. Nestas cidades moram cerca de cem milhões de pessoas. O acesso às novas tecnologias não é problema em cidades com renda per capita alta, como Brasília. No sítio onde mora nos arredores da capital, o administrador de empresas Eli Valter Gil Filho aponta a sala de TV como seu cantinho predileto. O home theater não tem cabos. Um único aparelho lê Blu-Ray e DVDs e comanda a distribuição do som. Ele ainda pode ver filmes salvos em pendrives. E pode assisti-los em 3D.
— Acompanho os lançamentos, mas tenho a consciência de que os fabricantes têm coisas guardadas e ficam esperando a gente comprar o que está nas lojas para mostrarem as novidades — disse.
Há poucas emissoras no país
Nas cidades menores, o governo pretende prorrogar o prazo para a transição do sistema analógico para o digital até 2018. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, informou que está em avaliação a possibilidade de concessão de subsídio ou mesmo doação de conversores para que a TV analógica possa captar o sinal digital. Esses equipamentos seriam doados para a população carente ou para as famílias cadastradas no Bolsa Família.
As dificuldades para que esses avanços se concretizem são muitas. Uma delas é o número de emissoras no país, muito menor do que o seu potencial, segundo a Abert. Até o fim de 2011, o país contava com 514 emissoras de TV licenciadas pelo Ministério das Comunicações, sendo 311 comerciais e 203 educativas. Para a associação, há um déficit no país de cerca de mil geradoras de televisão, que poderiam ser instaladas em cidades menores.
Com base na receita do setor publicitário, a estimativa dos radiodifusores é de que num município com cem mil habitantes, por exemplo, podem funcionar duas geradoras de TV. Para a instalação de uma emissora deste porte são necessários cerca de R$ 2,5 milhões em investimentos. Estes financiamentos estão disponíveis no BNDES ou no Banco do Brasil. Uma das grandes dificuldades, porém, é que nos últimos anos não foram abertas licitações para novas emissoras.
Em cerca de 20% das cidades brasileiras não há estação retransmissora de televisão (RTV). Para ter acesso à programação, a população usa antenas parabólicas. A Abert estima que, dos 22 milhões de domicílios que têm antenas parabólicas, dez milhões de domicílios têm apenas este recurso para acessar a TV aberta por estarem situados em zonas rurais ou em municípios que não têm sinal de RTV. Em 2012, havia cerca de dez mil retransmissoras e repetidoras no país. (Colaborou Gabriela Valente)
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