sexta-feira, 17 de maio de 2013

Internet cresce entre os mais pobres e cai entre os mais ricos, aponta IBGE



No topo da pirâmide, recuo pode estar relacionado à troca de computador por smartpho


Num puxadinho numa das entradas da Favela de Paraisópolis – a segunda maior de São Paulo – ficam José Francisco Rodrigues, de 51 anos, e seu computador de mesa conectado à internet. Pela rede ele paga contas, faz compras, acessa e-mail e define o preço dos tênis, bonés e camisetas esportivas que vende na Rodrigue's Sports.
“Se eu colocar um produto a um preço maior do que está na internet, perco o cliente”, diz ele, que no mês passado dobrou a velocidade da conexão – pelo triplo preço. Ultimamente, Rodrigues tem pensado em divulgar a loja pelas redes sociais. “A última ação de marketing que fiz foi com um carro de som”, lembra.
Quando o critério é o uso da internet, a pirâmide social brasileira tem se tornado cada vez menos desigual. Em 2011, a população com renda per capita de até 1 salário mínimo (R$ 678,00) – caso de Rodrigues – passou a representar 38% dos internautas do País, ante 32% em 2005, segundo estudo divulgado nesta quinta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O crescimento mais rápido, entretanto, ocorreu entre pessoas com o perfil como o Taísa Nascimento Carvalho, de 19 anos, – outra moradora de Paraisópolis –, que têm renda domiciliar per capita inferior a um quarto de salário mínimo, hoje R$ 169,50. Em 2005, apenas 3,8% dessa população havia usado a internet nos três meses anteriores à pesquisa. Em 2011, esse índice saltou para 21,4% – mais de 5 vezes mais (veja tabela).

Brasil conectado

Proporção da população que acessa a internet, por faixa de renda
fonte: IBGE


Segundo Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto Datapopular, na população mais jovem já não existe diferença entre ricos e pobres no acesso à internet.
“Nas classes C e D há um grau razoável de analfabetismo funcional, então os mais velhos acessam menos. Mas todos os que têm 14 anos são internautas, independentemente da renda”, diz Meirelles.
Marília Almeida
José Rodrigues, 51 anos, se baseia na internet para definir preços da sua loja em Paraisópolis
No conjunto da população, porém, o fosso ainda existe. Em média, 30% dos que têm renda domiciliar de até 1 salário mínimo per capita usa a internet, ante 46,5% da média brasileira. Já entre os que ganham de três a cinco salários mínimos, o índice sobe para 76%.
“Obviamente, comparado com os estratos mais altos, ainda é bem pequena [a utilização da internet entre os mais pobres]. Ainda existe uma associação entre acesso a internet e renda, mas a disseminação e o barateamento da tecnologia têm permitido que até mesmo pessoas com rendimento de até um quarto de salário mínimo usem a rede”, afirma Adriana Beringuy, técnica do IBGE.
Uso ‘cai’ entre mais ricos
Já entre os mais ricos, aponta o estudo do IBGE, o uso de internet teve um leve recuo nos últimos dois anos – um fenômeno inédito na história da pesquisa. Em 2011, 67,9% da população com renda familiar com mais de cinco salários mínimos per capita (R$ 3.390) usava internet, ligeiramente abaixo dos 68,3% de 2009.
Segundo Adriana, essa menor utilização tem relação com a idade. A população mais rica tende a ser de uma faixa etária mais elevada, que usa menos a internet. Há porém, uma outra hipótese: o abandono dos computadores em favor de tablets e smartphones, cujas conexões não são levadas em conta pelo IBGE. A supervisora de vendas Vanessa Montoza, de 37 anos, fez essa migração do computador para o dispositivo móvel na hora de navegar na internet em janeiro passado, quando ganhou seu primeiro celular inteligente.
Arquivo Pessoal
A supervisora de vendas Vanessa Montoza, 37 anos: smartphone 'aposentou' notebook
“Dá desânimo de ligar o computador. Só uso para mexer em fotografias”, diz ela. “"O celular está ligado o tempo todo, envia notificações em tempo real e acaba sendo mais prático.”
A migração também tem ocorrido, entretanto, em franjas mais baixas e mais velhas. O professor João Ronaldo Soares, de 55 anos e com renda na casa dos cinco salários mínimos, ainda usa o netbook para preparar aulas. Mas sonha com o dia em que usará seu smartphone – seu único portal para o mundo on-line há seis meses – em rede com os dos alunos.
“O abandono do computador pelo smartphone foi inconsciente. O que me chamou a atenção foi a praticidade”, diz ele, que leciona na Legião Mirim de Bauru, cidade do interior paulista. “Gostaria de poder transformar o celular, que hoje é um inimigo do professor em sala de aula, em um aliado.”
Adriana, do IBGE, acredita que a população que aposentou os computadores seja minoria. A partir da PNAD 2013, essas pessoas também começarão a contar como usuários da internet.
“Hoje em dia é difícil pegar alguém que exclusivamente acesse a internet por smartphone. Não é que não exista. Existe e tende a crescer, mas ainda é grande o número de pessoas que acessam por todas as modalidades”, diz ela.
O crescimento do uso de internet móvel tem sido mais expressivo entre as classes mais baixas, afirma Leonardo Contrucci, diretor de Pré-Pago da Telefônica Vivo.
“[O público das classes C, D e E] só não usa hoje internet como classe A e B porque ainda é um serviço considerado caro e não tão essencial”, diz.
Taísa, a moradora de Paraisópolis, paga R$ 17 por mês para acessar a rede. É barato, mas sempre estoura a cota de dados. Mais um motivo para visitar a casa do namorado, onde aproveita uma conexão aberta de algum vizinho desavisado. “Ali fico horas”, diz.

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