domingo, 26 de maio de 2013

Roberto Civita - Império de 200 milhões de exemplares



A holding da família controla a Abril S.A., que publica 52 revistas para 4,7 milhões de assinantes

Roberto Civita, no Terraço Abril, com estante de mais de 50 títulos diferentes de revistas do grupo ao fundo Foto: Ana Paula Paiva / Agência O Globo


Roberto Civita, no Terraço Abril, com estante de mais de 50 títulos diferentes de revistas do grupo ao fundo Ana Paula Paiva / Agência O Globo
SÃO PAULO — Foi ao lado do pai, o americano de ascendência italiana Victor Civita (1907-1990), que o empresário Roberto Civita ergueu um dos maiores conglomerados de mídia e educação da América Latina. A origem foi o escritório aberto por Victor em 1950, no centro de São Paulo, e que teve como primeiro negócio a publicação de "O Pato Donald". Hoje, são mais de 9,5 mil funcionários e negócios espalhados por áreas que vão de revistas à TV segmentada, de educação à distribuição e logística, de mídias digitais em elevadores ao treinamento para concursos públicos.
A holding da família controla a Abril S.A. (substituindo a denominação antiga de Editora Abril), que publica 52 revistas para 4,7 milhões de assinantes e mais de 80 sites, com 59 milhões de internautas. Também estão sob esse guarda-chuva a MTV Brasil e a Elemidia. Outro braço do grupo é a Abril Educação, dona da editora Ática e do Sistema Anglo de Ensino, entre outros negócios. Em educação, a empresa é líder em provimento de conteúdo para alunos e professores.
A operação de maior prestígio é o de publicações. São mais de 200 milhões de exemplares por ano. Sete das dez revistas mais lidas do Brasil são da editora, incluindo a segunda maior revista semanal do mundo, a “Veja”, criada em setembro de 1968, que vende em média 1,1 milhão de exemplares por semana.
“Fazemos revistas em 25 segmentos. Se você fatiar o mercado – moda, automóveis, infantil, viagens, decoração, negócios, notícias – temos a revista número um em cada um desses segmentos”, disse Civita, em entrevista publicada pelo o jornal “Valor Econômico” no ano passado.
Quando “Veja” foi criada, o Brasil vivia uma ditadura militar. A revista foi alvo da censura pela primeira vez em sua edição de número 15, quando o então presidente Arthur da Costa e Silva fechou o Congresso Nacional e promulgou o Ato Institucional Número 5, o AI-5. Um censor foi mandado à redação para se certificar de que não haveria crítica à medida na revista.
Quando perguntou o que apareceria escrito na capa daquela semana, recebeu de Civita a seguinte resposta: "Nada". Diante da informação, o censor autorizou a circulação da revista. A capa saiu sem nenhuma palavra, com uma foto do presidente Costa e Silva sentado em uma das cadeiras do Congresso vazio. O Exército mandou apreender todos os exemplares de “Veja”.
A partir de 1974, “Veja” passou a ser submetida à censura prévia. Um censor lia todas as reportagens e entrevistas da revista antes do material ser impresso. A censura prévia a semanal só foi suspensa em junho de 1976.
“Existe uma indissolúvel interdependência entre a democracia, a imprensa livre e a livre-iniciativa. Sem uma, as outras também sucumbem. Os meios de comunicação independentes são a primeira vítima das tiranias. Sempre que estas se abatem sobre os povos e as nações, cuidam logo de amordaçar a imprensa livre”, escreveu Roberto Civita em artigo publicado na “Veja” em 27 de junho de 2012, defendendo a liberdade de imprensa e criticando projetos de controle social dos meios de comunicação.
Proibido de dirigir
No academia de ginástica no prédio da Abril, em São Paulo, Civita costumava fazer natação na hora do almoço e usava o elevador dos funcionários. Não dirigia desde 1980. A proibição veio do pai, que dizia que ele sempre se distraia ao volante conversando com o passageiro ou tentando ler algo que mantinha entre as mãos.
“Um dia fui parar em Osasco (região metropolitana de São Paulo) e não sabia como voltar. Aí, meu pai disse: 'Roberto, escuta, chega. Vou contratar o motorista e você para de dirigir. Você é um perigo público'. Aí eu parei”, contou Civita, que ia ao trabalho com seu motorista num Lexus preto, carro escolhido entre diversos modelos pelo conforto do banco traseiro.
Como bom italiano _ nasceu em Milão, em 9 de agosto de 1936 _, gostava de comer bem e de cozinhar. Apesar de ter guardado seus apetrechos de chef, panelas e facas, num sítio em São Lourenço da Serra, a cerca de 50 km de São Paulo, Civita desistiu do hobby no ano passado.
Apreciava filmes antigos, por achar a vida curta demais para ser desperdiçada com filmes ruins cheios de tiroteios e perseguições, considerados por ele “coisa de adolescente”. “Cidadão Kane”, de Orson Welles, era seu clássico favorito por retratar a vida, as dúvidas, os obstáculos e desafios de uma das grandes figuras da história da imprensa, o magnata americano das comunicações William Randolph Hearst.
Em agosto de 2011, deixou a presidência executiva da Abril, com a entrada do banqueiro Fábio Barbosa, ex-dirigente do Banco Santander.
Curso de Física Nuclear
Civita deixou a Itália com dois anos e meio de idade. Morou em Nova York até 12 anos, quando mudou-se com a família para o Brasil. Em São Paulo, formou-se na escola americana Graded. Ganhou uma bolsa de estudos para estudar Física Nuclear em Rice, no Texas, mas logo desistiu da ciência.
“Pensei: vou embora. Não quero ser só bom, quero ser grande. Me disseram que eu era maluco, pois era o segundo da turma”, lembrou na entrevista ao “Valor”. Disse que poderia ter sido cientista, mas não seria “muito bom, nem feliz”.
Formou-se em jornalismo na Universidade de Pensilvânia, ao mesmo tempo em que concluiu o curso de economia na Wharton Business School, da mesma universidade. Fez pós-graduação em Sociologia na Universidade de Columbia. Quando terminou as duas graduações, foi selecionado para estagiar na revista “Time”, onde trabalhou durante um ano e meio, passando por todos os departamentos. De volta ao Brasil, em 1958, propôs ao pai a criação do que viria a ser a quarta maior revista semanal de informação do mundo, a “Veja”, inspirada na “Times”, além da “Exame” (seguindo o modelo da “Forbes”) e da “Playboy”
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