‘Sambabook João Nogueira’ chama atenção para modelos alternativos de financiamento
RIO - O lançamento do "Sambabook João Nogueira" — que reúne CDs, DVD, livro e fichário de partituras — reafirma a força de um caminho para o mercado da música que tem se mostrado consistente e em expansão. Com o encolhimento da área de ação das gravadoras, empresas como Natura, Oi, Vivo, Petrobras e Itaú (as duas últimas são as patrocinadoras oficiais do "Sambabook") estão investindo na área com regularidade — com ou sem mecanismos de isenção fiscal, fora da indústria fonográfica ou em parceria com ela. No modelo, cabem discos de estreantes e consagrados, turnês, festivais e projetos baseados em pesquisa.
A lista de projetos em andamento — com lançamento previsto ao longo dos próximos 12 meses — é tão abrangente quanto respeitável: CDs de artistas como Tom Zé, Otto e Tulipa Ruiz; festivais como No Ar Coquetel Molotov, Se Rasgum, Música Pra Todo Mundo e Levada Oi Futuro; turnê comemorativa dos 50 anos de carreira de Milton Nascimento; "Sambabook" de canções sobre o Rio (incluindo ensaios fotográficos para cada uma); show em Nova York celebrando as cinco décadas da histórica noite da bossa nova no Carnegie Hall; documentário sobre a matriarca do samba paulistano Dona Inah.
Empresa responsável pelo "Sambabook", a Musickeria é fruto exatamente desse modelo de financiamento da música. Misto de produtora, agência de conteúdo e selo musical, a companhia foca na criação de produtos artísticos para atrair patrocinadores. Sua filosofia, portanto, não se prende à ideia do disco como objetivo final — seus trabalhos podem passar por edição de livros e conteúdo audiovisual para a internet, por exemplo.
— É um negócio voltado para o estabelecimento de parcerias com patrocinadores, mais do que para a venda de produtos físicos, que é como se estruturaram as gravadoras — explica Luiz Calainho, sócio da Musickeria, ao lado de Afonso Carvalho e Sérgio Baeta. — A venda é importante, mas nosso negócio não está ancorado aí. O mercado encolheu, as gravadoras se veem limitadas na hora de investir, e a conta não fecha mais no antigo modelo. Somos uma plataforma para empresas que buscam posicionar suas marcas se vinculando à cultura, a produtos artísticos de qualidade.
Os próximos lançamentos da Musickeria são o "Rio Sambabook", em setembro, com 21 artistas interpretando canções como "Samba do avião" e "Cariocas". Além de CD, DVD e Blu-ray, o projeto terá um livro de ensaios fotográficos. Para o ano que vem, a Musickeria planeja o "Bossa nova no Carnegie Hall — 50 anos", com a participação de nomes como Sérgio Mendes, Roberto Menescal e Diana Krall. Em abril de 2013, sai o "Sambabook Martinho da Vila". A empresa negocia ainda com uma cervejaria o apoio para um projeto que adequará o "Sambabook" a medalhões do pop rock nacional, além do lançamento de um novo artista por ano.
O programa Natura Musical, lançado em 2005 (a edição de 2012 está com inscrições abertas), apoia projetos musicais que podem ir do show de um artista estreante, como Marcelo Jeneci, a uma grande vendedora de discos, como Vanessa da Mata. Ou mesmo a trabalhos de interesse bem específico, como a caixa "Mestres navegantes", com manifestações como folia de reis, calango e jongo. Tom Zé, Milton Nascimento e Otto estão entre os atuais contemplados
— Os programas de patrocínio cresceram bastante na lacuna deixada pelas gravadoras — acredita Karen Cavalcanti, gerente de marketing institucional da Natura. — Em 2005, começamos o edital com 500 inscrições. Hoje temos 1.400.
Mudança de foco
Do lado do artista, Betão Aguiar — idealizador da caixa "Mestres navegantes", músico e produtor de nomes como Arnaldo Antunes — comemora o fortalecimento do modelo:
— Meu pai (Paulinho Boca de Cantor, dos Novos Baianos) ganhava luvas para ficar na gravadora. Hoje elas não pagam nem o disco. Se você conseguir uma divulgação legal já é muito. Se o negócio do disco não é mais rentável, é ótimo que exista essa possibilidade de as marcas se atrelarem a coisas legais.
Para Claudio Jorge Oliveira, coordenador de Patrocínio a Música e Patrimônio da Petrobras, uma mudança de foco se anuncia no mercado da música. Ele diz ser perceptível, pelas inscrições no programa Petrobras Cultural (lançado em 2003 e que patrocina de festivais a discos como o recém-lançado "Avante", de Siba), que existe um aumento de projetos de turnês além dos tradicionais pedidos de verba para gravação de discos.
— No início do Petrobras Cultural, identificamos uma demanda grande por projetos fonográficos. Agora, há uma migração da demanda para a circulação, as turnês. Nos dois últimos editais criamos uma linha específica para turnês. A quantidade de projetos inscritos aumentou na edição 2008/2009 as inscrições para patrocínio em turnês foram 16% maiores do que as para produção de CDs. Em 2010, o número cresceu para 26%) — diz Oliveira, que vê no "Sambabook" um exemplo perfeito desse novo momento. — Ele congrega o investimento em memória e o conceito atual de transmídia, com produtos em várias plataformas.
Atuando em frentes como o portal Oi Novo Som, o selo Oi Música (que lançou novos talentos como Qinho e Tono), Oi Rdio (serviço de streaming de música) e Oi Futuro (palco para shows), a operadora vê no segmento, mais do que uma ação de marketing, um negócio rentável.
— O selo foi criado não só por uma questão de marca, mas também para dar retorno financeiro, movimentar o mercado e gerar rentabilidade para a Oi, com a venda de downloads — diz Roberto Guenzburger, diretor de Produtos e Mobilidade da operadora, anunciando um novo projeto: — O Oi Novo Som, através do Oi Futuro, está apoiando o Música Pra Todo Mundo. É um concurso no qual os quatro vencedores participarão de um festival no Circo Voador, no segundo semestre, e terão seus CDs lançados pelo Oi Música, com shows individuais, distribuição e produção de videoclipes, entre outras iniciativas.
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