segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Os ‘Writing Dead’ estão por toda a parte



Com o assustador avanço das redes móveis, usuários trocam o ‘olho no olho’ pelo ‘olho na telinha’



Trocar mensagens por celular ocupa cada vez mais tempo na vida das pessoas
Foto: Bloomberg
Trocar mensagens por celular ocupa cada vez mais tempo na vida das pessoasBLOOMBERG
RIO — A cena já é familiar: na rua, em shoppings, no ônibus, nos bares, um rápido olhar encontra pessoas concentradas em seus celulares, lendo e enviando mensagens de texto ou atualizando seu feed numa rede social. Recentemente, um meme (postagem que velozmente se torna popular na internet) circulou pelo Facebook comparando os viciados no “texting” a zumbis da era digital. Uma espécie de “Writing Dead”, numa alusão ao seriado “The Walking Dead”. E até mesmo o primeiro-ministro da Bélgica, Elio Di Rupo, parou seu discurso no parlamento do país semana passada para ler uma mensagem que acabara de chegar.
— É um tanto desagradável estar com uma pessoa e ver que ela não consegue deixar de checar mensagens — admite a advogada e designer Andréa Augusto, que já passou pela situação. — Acho que o ‘tête-à-tête’ é insubstituível.
Os números, entretanto, revelam que a adesão aos diálogos por escrito só aumenta. Quase 8 trilhões de mensagens de texto foram enviadas por celulares, smartphones e tablets no ano passado, segundo dados da consultoria Portia Research. Este ano, espera-se alcançar a marca de 9,6 trilhões de SMS. As mensagens multimídia (MMS — com foto, por exemplo) somam 207 bilhões anualmente, enquanto o tráfego de mensagens instantâneas está em 1,6 trilhão e deve alcançar 7,7 trilhões em 2016. E os usuários de e-mail pelo smartphone são hoje 670 milhões, devendo ultrapassar 2,4 bilhões em quatro anos.
Isso tudo sem falar das mensagens oriundas de aplicativos como Skype, Whatsapp e afins, conhecidas como over the top (OTT). Já são 3,4 trilhões no mundo, segundo a consultoria mobiThinking. E não esqueçamos as redes sociais. Do 1 bilhão de usuários do Facebook, líder inconteste do setor, 604 milhões escrevem mensagens e posts via smartphones.
Prática invasiva
Para Esteban Clua, professor do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e gerente do Media Lab, enviar mensagens por via móvel se tornou um comportamento comum hoje em dia, afetando nossas vidas de maneira negativa.
— Enquanto no computador pessoal os e-mails e as redes sociais permitem que dediquemos horários e certos momentos do dia para ler e interagir, as mensagens de celulares acabam sendo mais invasivas — admite Clua. — Raras são as pessoas que ao receberem um SMS esperam terminar o que estão fazendo para olhá-lo. A reação é ler imediatamente, interrompendo e distraindo-se do seu afazer momentâneo.
Uma fonte que preferiu não se identificar conta que na empresa em que trabalha o fenômeno é tão pronunciado que os funcionários só se comunicam por SMS ou e-mail, quase não falando entre si.
— O hábito é agravado porque há certos chefes que tendem a explodir quando recebem uma notícia ruim verbalmente — diz a fonte. — Assim, os funcionários preferem lidar com eles virtualmente, mandando mensagens de texto, para evitar o clima de “mate o mensageiro” que se estabelece quando relatamos pessoalmente algum problema.
Se nos celulares comuns o SMS reina, quem já tem um smartphone mais avançado, com boa conexão à internet, fica ainda mais propenso a mandar mensagens. É o que acontece com o advogado Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio.
— A informação está ocupando os “tempos mortos” da vida, como esperar em uma fila, ou até mesmo esperar pelo elevador — reconhece Lemos.
Para ele, essa “colonização” mesmo dos pequenos espaços da vida pela informação vai ser tornar cada vez mais comum nos próximos anos.
— Hoje ela acontece no smartphone. Mas amanhã, quem sabe? Pode ser através dos óculos conectados da Google. Ou de objetos que já saem de fábrica com conexão à internet — diz

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