sexta-feira, 27 de julho de 2012

A forra do vinil


ARTHUR DAPIEVE

 Com essa, a indústria não contava


Não, crianças, a grande subversão na reprodução da música gravada não foi a popularização do MP3 ou outros arquivos digitais. O que a indústria fonográfica perde com downloads gratuitos é troco perto do que ela ainda ganha e, sobretudo, ainda almeja ganhar com a venda on-line. Ou alguém acha que a Apple, dona do iTunes, é uma instituição de caridade? Não, é capitalismo tão avançado que vende o capitalismo como estilo de vida libertário. A grande subversão, então, foi a sobrevivência dos LPs.

Com isso, sim, a Indústria Cultural, o Sistema, a Mídia, a Grande Imprensa — ou qualquer outra dessas designações paranoicas que subestimam a capacidade de o indivíduo fazer escolhas e pensar por si próprio — não contava. Era para o CD ter transformado o LP em celacanto, sobrevivente das profundezas. Era para o MP3 ter transformado o CD em Tiranossauro Rex, outrora poderoso, hoje morte de pedra. A história, porém, não foi essa. O bolachão preto está mais forte agora do que estava há vinte anos. E, suspeito, o disquinho prateado também jamais irá desaparecer.

Pesquisa encomendada pela revista “Billboard” sobre o mercado fonográfico americano, o maior da Terra, revelou que no primeiro semestre de 2012, a venda de discos de vinil cresceu 14,2% em relação ao mesmo período do ano passado, contra um aumento de 13,8% dos álbuns digitais e uma queda de 11,3% dos CDs. O capitalismo pode até já estar se reorientando diante desses dados (afinal, a capacidade de adaptação é a chave de sua sobrevivência), mas o buraco da faca continua bem ali, nas suas costas.

Lá por 1992, nem executivos nem consumidores casuais apostariam um centavo na sobrevivência do LP frente ao CD. Era suporte caro de produzir, difícil de carregar, necessitado de cuidados e dependente de aparelhos de reprodução mais caros. Apenas os colecionadores e um ou outro comerciante intuíram que a história não terminaria aí. Lembro-me de Pedro Passos, da Modern Sound, mostrando o “bunker” do subsolo onde haviam se refugiado os LPs. Ele acreditava que, cedo ou tarde, aquilo constituiria um tesouro. Infelizmente, a sua clarividência não bastou para evitar o fechamento da loja.

Durante muito tempo, era quase impossível achar um lançamento musical feito também em vinil e, mais até, achar toca-discos e agulhas para reproduzir discos antigos. Quando meu aparelho quebrou, passei anos sem ter onde ouvir meus LPs — mas incapaz de me desfazer da maior parte deles, inclusive por razões sentimentais. Finalmente, decidi desembolsar uma quantia considerável por um Gradiente usado, comprado, claro, na saudosa Modern Sound. Embora (ainda?) não se encontrem toca-discos em redes de eletrodomésticos do Brasil, hoje está mais fácil encontrá- los, bem como os novos álbuns em vinil. Haja vista uma matéria de capa recente na revista “Rio Show”.

Como ou por quê, contra quase todos os prognósticos, o bolachão sobreviveu? Graças, certamente, aos colecionadores, que sustentaram as pequenas gravadoras que lançavam joias de 180 ou até 220 gramas (o peso do disco influencia a qualidade do som). Acredito, entretanto, que quem salvou mesmo o LP foi a cultura dos DJs, com suas mesas e seus scratchs. Assim como os árabes preservaram os clássicos gregos durante a Idade Média, foram os DJs que tomaram conta do vinil até a sua renascença.

A pesquisa encomendada pela “Billboard” é nova, mas seu resultado não é nada surpreendente. Cinco anos atrás, quando a última fábrica de LPs do Brasil, a Polysom, estava fechando (seria comprada e reaberta por João Augusto, da Deckdisc), o resto do planeta já testemunhava o aumento do espaço destinado ao vinil nas lojas sobreviventes. Quando deixaram de ser um fenômeno apenas na internet e chegaram ao primeiro disco, em 2006, os Arctic Monkeys espantaram os lojistas da sua Grã-Bretanha: “Whatever people say I am, that’s what I’m not” vendeu mais como LP do que como CD.

Sinal de que o vinil não era só o fetiche de velhos nostálgicos ou o material de trabalho de profissionais da noite, mas também tinha apelo para jovens ouvintes em busca de uma relação diferente com a música. Pela má qualidade média dos arquivos digitais e pela disseminação dos tocadores, o MP3 praticamente exige a audição apressada, individual, com fones. Pela pressão sonora e pelo aparato necessário, o vinil pede, se não uma reunião de amigos, uma cerimônia caseira, vagarosa. Pôr um LP no prato e em menos de meia hora trocá-lo de lado implica prestar atenção no que se está a fazer. Ou seja, em nossos tempos corridos, era mesmo para o LP ter desaparecido.

No romance “Juliet, nua e crua” (2009), Nick Hornby escreveu que o MP3 guarda uma relação mais pura e poética com a música gravada, enfim libertada de lastros materiais. É uma visão interessante, embora, na prática, a maioria das pessoas use o arquivo digital como trilha sonora do cotidiano, a música de fundo da limpeza da casa ou da malhação. Além disso, um arquivo digital não se toca sozinho, sem a concretude do iPod ou do computador. Certo, crianças, a praticidade do CD não raro também o tornava parte da paisagem, apesar de ele ainda ser imbatível para reproduzir a dinâmica da música clássica, por exemplo. Já o LP... Ele transforma a música no centro da vida.

FOLHA DE S.PAULO
27/07/2012

Rupert Murdoch deixa a direção de jornais britânicos


21/07/2012 18h19 - Atualizado em 21/07/2012 18h19



Empresário saiu de publicações como The Sun, Times e Sunday Times.

Do G1, em São Paulo
Rupert Murdoch, da News Corp, se demitiu do cargo de diretor de uma série de publicações da companhia como The Sun, os jornais Times e Sunday Times no Reino Unido, de acordo com um memorando interno da empresa divulgado neste sábado (21).
Magnata Rupert Murdoch, em imagem de 2009. (Foto: Reuters)Magnata Rupert Murdoch, em imagem de 2009. (Foto: Reuters)
As demissões seguem o anúncio, em junho, de que a News Corp seria dividida em duas empresas distintas: uma divisão menor de publicação e um grupo muito maior e de entretenimento de TV. "Eu queria que vocês soubessem que Rupert Murdoch renunciou ao cargo de diretor de uma série de empresas, incluindo o NI Group Limited, conhecido para a maioria de vocês como News International e a Times Newspapers Holdings Limited", disse Tom Mockridge, o chefe da divisão de jornais de Murdoch, no e-mail visto pela Reuters.
"Como vocês devem estar cientes, Rupert pediu demissão de inúmeros cargos do Reino Unido, incluindo os jornais do News Group e Times Newspapers, há algum tempo. Ele deixou mais de uma dúzia de conselhos de empresas com interesses nos EUA, Austrália e Índia." Mockridge disse que a decisão é parte da preparação do negócio para a reestruturação em duas empresas. "Ele (Murdoch) se mantem comprometido com a nossa empresa como presidente do que será o maior grupo de jornal e no mundo digital."
No ano passado, surgiram especulações de que a News Corp poderia tentar vender os jornais britânicos na sequência dos escândalos de grampos de telefone no agora extinto tablóide News of the World, que manchou a reputação e o valor da empresa no país.
No entanto, a devoção de Murdoch aos jornais e os processos jurídicos em curso decorrentes do escândalo, formaram uma barreira a essa opção.
James Murdoch, o filho do magnata das comunicações Rupert Murdoch, rnunciou à presidência da empresa britânica de TV a cabo BskyB, em abril deste ano. Em maio, legisladores britânicos disseram que Murdoch não está apto a conduzir uma empresa de porte internacional, responsabilizando-o por uma cultura de grampos telefônicos que abalou seu império midiático News Corporation.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O dilema em torno do ‘furo’, na era da internet


Diante de um novo fato, jornais precisam decidir entre publicar no site de imediato ou no impresso somente no dia seguinte

Publicado:

No debate, realizado na sede do GLOBO, discussões sobre como plataformas digitais e jornal impresso têm a aprender um com o outro: pressa da internet não pode se sobrepor ao compromisso da correção da notícia
Foto: Guito Moreto / O Globo
No debate, realizado na sede do GLOBO, discussões sobre como plataformas digitais e jornal impresso têm a aprender um com o outro: pressa da internet não pode se sobrepor ao compromisso da correção da notíciaGUITO MORETO / O GLOBO
RIO - Com a chegada dos sites de notícias, sejam eles produzidos ou não pelas equipes dos grandes jornais impressos, o “furo” — a informação exclusiva a que um jornal tem acesso antes dos concorrentes e dá em primeira mão — enfrenta um dilema. De posse do fato, o que fazer? Ceder à urgência e publicá-lo o mais rapidamente possível na versão on-line do jornal, atendendo à avidez cada vez maior do novo público que se forma com o avanço das plataformas digitais? Ou trabalhar a informação e surpreender os leitores e concorrentes no dia seguinte? Eis a questão.
— Se o “furo” não é perecível, vai ser guardado para o papel, se temos a segurança de que a informação é só nossa e que ninguém a terá antes do dia seguinte. O papel tem a primazia na “Folha de S.Paulo”. E quem vai nos dizer isso é o repórter — disse o editor executivo da “Folha”, Sérgio Dávila, mas com ressalvas. — Há furos e furos. Tem o tradicional. Mas também tem aquela informação mais de rotina, que é uma commodity, que a gente pode trabalhar para o dia seguinte, com um recorte especial.
Reportagens com mais investimento e produção
Já o diretor de Redação do GLOBO, Ascânio Seleme, observou que a questão já teve um peso maior na rotina do jornal, quando, num certo momento, chegaram a ser estabelecidas cotas diárias de flashes (notícias que deveriam ser colocadas na versão on-line do jornal) para tentar criar uma cultura de inserção da internet na produção jornalística diária.
— Hoje não. Gostamos muito de dar “furo” na internet. Mas também separamos matérias boas, exclusivas, para o dia seguinte e para o domingo. O domingo é muito importante e há muita compra em banca. Chegamos a vender cem mil exemplares — afirmou, lembrando que a versão para o iPad exige ainda um esforço extra para garantir que o material publicado às18h seja exclusivo e de grande qualidade.
Internet dá aos jornalistas lição de humildade
Ao responder à pergunta de um convidado da plateia, se todos os novos desafios surgidos com a internet não implicariam também um esforço maior dos profissionais, Ascânio afirmou, com bom humor:
— Isso já faz parte do nosso DNA. Já nascemos para trabalhar em multiplataformas.
O diretor de Conteúdo do “Estado de S.Paulo”, Ricardo Gandour, afirmou que o jornal tem avançado em outra direção, dando preferência a publicar as chamadas “breaking news” na internet. Ele disse ainda que a experiência tem sido bem-sucedida, vencendo um certo receio que havia dentro da redação do jornal. No dia seguinte, há a apresentação da notícia com uma outra cara, com prospecção etc.
No “Valor”, especializado na cobertura econômica, em que as notícias podem ter um impacto direto na vida não só pessoal, mas também financeira dos leitores, a diretora de Redação do jornal, Vera Brandimarte, avalia que a questão do “furo” tem que considerar também alguns aspectos importantes.
— Na verdade, guardar para o dia seguinte uma informação que pode mudar a vida da pessoa é muito complicado. Ela paga o jornal para estar bem informada e isso é sempre considerado.
Gandour observou que a palavra “guardar” a notícia não é a melhor para explicar as decisões que são tomadas a cada momento quando as redações se deparam com o problema. Ele disse que algumas reportagens exigem mais investimento e produção e são feitas para serem publicadas no dia seguinte ou numa edição especial:
— Não se trata de guardar, mas de produzir um material que será publicado na hora certa, quando está pronto para isso.
Uma lição que a internet nos dá a cada dia, lembrou Gandour, é a da humildade. É o fato de que o leitor, muitas vezes, sabe muito mais sobre alguns assuntos do que o próprio jornalista. E, com a interatividade, esse fato fica evidente com frequência. Por outro lado, a chegada mais rápida da informação através dos meios digitais também deixou clara a importância da notícia fixada.
— Há um valor na informação editada e fixada e as pessoas estão voltando a perceber isso. É preciso refletir. Na internet é fácil ter o próximo update. Mas é preciso um tempo para se pensar, para se refletir sobre o fato — argumenta.
Segundo Vera Brandimarte, há uma grande contribuição que os jornais podem dar para os sites.
— Com a integração das redações, os jornais estão caminhando para ter uma identidade maior com o site. O princípio de hierarquizar a notícia e priorizar o que é mais relevante deveria ser levado para o site. Ele precisa recuperar essa identidade com a edição impressa — avalia Vera.
Dávila disse que se convive diariamente com um paradoxo nas redações:
— São plataformas diferentes, com leitores próprios. Ao mesmo tempo, temos que reforçar a marca. O desafio é manter a unidade da marca, respeitando as características das plataformas.
“Integração das redações é o melhor dos mundos”
Independentemente do “furo”, plataformas digitais e jornal impresso têm muito a aprender um com o outro. Ascânio Seleme chamou a atenção para uma questão que nunca deve sair de pauta quando se trata de se fazer um jornalismo de qualidade. A pressa que a internet impõe não pode se sobrepor ao compromisso da correção da notícia, que deve estar sempre em primeiro lugar.
— A notícia tem que ser rápida, mas dada com correção. Não se pode errar porque o tempo urge. Não podemos atentar contra a reputação alheia por causa disso. Os jornalistas preferem levar um “furo” do que dar uma “barriga” (jargão jornalístico para a publicação de notícias equivocadas). Levar um “furo” compromete a reputação do jornal, dar “barriga” compromete a reputação alheia — alertou o diretor de Redação do GLOBO. — A integração do GLOBO com sua versão on-line soprou um ar novo na redação. Um aprende com o outro. O melhor dos mundos é a integração das redações.
Como se viu, os desafios são muitos e o futuro já chegou.


http://oglobo.globo.com/rio/o-dilema-em-torno-do-furo-na-era-da-internet-5579305#ixzz21dtQyjCE
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No O Globo, um debate sobre o futuro do jornal


Diretores de redação de quatro diários dizem que futuro do impresso é apostar em análise e aprofundamento das notícias

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RIO - Num mundo cada vez mais rápido e em que as informações se disseminam por múltiplos meios — graças à internet, aos tablets, ao celular e às mídias sociais —, o jornal de papel tem futuro. O desafio do jornalismo impresso é se adaptar aos novos tempos e descobrir como fazer a notícia chegar ao leitor não como uma coisa velha, mas como algo novo, instigante, com conteúdo, projeções e análises. Para discutir o papel do jornal e debater a realidade criada pelo avanço tecnológico e pelas multiplataformas, os diretores de Redação dos quatro principais jornais do país se reuniram no GLOBO nesta terça-feira. O encontro histórico — pela primeira vez ocorreu na sede de um dos jornais — aconteceu às vésperas do lançamento do novo projeto gráfico do jornal, cuja primeira edição sairá domingo. A data marca o aniversário de 87 anos do GLOBO.
O debate sobre o tema “O papel do jornal” teve a participação do diretor de Conteúdo de “O Estado de S.Paulo”, Ricardo Gandour, do editor executivo da “Folha de S.Paulo”, Sérgio Dávila, da diretora de Redação do “Valor Econômico”, Vera Brandimarte, e do diretor de Redação do GLOBO, Ascânio Seleme. A conversa foi mediada pelo editor executivo da Primeira Página do GLOBO, Luiz Antônio Novaes (Mineiro).
Vera Brandimarte, do “Valor”, começou lembrando uma previsão que ouviu do próprio Bill Gates, mago fundador da Microsoft, na reunião anual da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) em 2007:
— Ele não dava cinco anos de sobrevida para os jornais. Só que esses cinco anos já se passaram e estamos todos aqui. Não são só os economistas que fazem previsões erradas — brincou Vera. — Mas muito do que Bill Gates falou está de fato acontecendo. O lançamento de equipamentos, como o iPad, trouxe um jeito novo de as pessoas se informarem de maneira amigável. Isso, sem dúvida, alterou profundamente o nosso trabalho. Com a explosão da internet, chegou-se a pensar que todo cidadão seria um produtor de notícia e que o trabalho dos jornalistas se tornaria dispensável. Mas a profusão de informação na internet tornou mais relevantes os jornais, com sua tarefa de buscar a veracidade, filtrar o que é relevante, analisar os fatos. Tanto que os sites que as pessoas mais buscam para se informar são os das grandes empresas de comunicação.
Sérgio Dávila, da “Folha”, começou contando uma história de um professor indiano, afeito a apresentações performáticas, durante uma aula na Universidade de Columbia, em Nova York, no ano 2000. Ao falar sobre novas tecnologias, o professor se arriscou a prever como as pessoas receberiam as notícias em alguns anos, no lugar do jornal de papel.
— Depois de falar, ele tirou um CD-Rom do bolso e disse que era a mídia do futuro. Hoje, essa mídia não existe mais, e estamos falando de jornal impresso — afirmou Dávila.
Em contraponto, ele disse que a experiência tem mostrado que inovações tecnológicas têm contribuído para a melhoria da qualidade do jornalismo impresso:
— O rádio fez os jornais tirarem edições vespertinas, a televisão fez os jornais colocarem mais fotos na primeira página. Cada inovação teve uma resposta à altura. A popularização da internet obriga os jornais a uma atualização constante. Mas ainda não inventaram um meio que ofereça o prazer tátil que o jornal proporciona e a portabilidade, que os tablets têm, embora os jornais ainda saiam ganhando.
Dávila também apresentou números do IVC (Instituto Verificador de Circulação), mostrando que o jornal impresso ainda é um negócio de sucesso. De acordo com ele, houve um crescimento de 5% na circulação de jornais este ano em relação a 2011. Pelo IVC, hoje são impressos por dia 4,5 milhões de jornais no Brasil. Como metade dos jornais é auditada, são 9 milhões de exemplares impressos por dia, que atingem cerca de 27 milhões de brasileiros.
— Estamos colocando na casa das pessoas um campeão de audiência — afirmou.
O diretor de Redação do GLOBO, Ascânio Seleme, disse que também é um otimista em relação ao futuro do jornal impresso. Ele, no entanto, afirmou que é preciso apostar cada vez mais em qualidade e em reportagens com conteúdo e análises.
— O leitor espera mais desdobramento, análise, mais debate e mais profundidade. Há quem só acredite na notícia quando ela está no papel. As pessoas dependem da gente para análises. A notícia de hoje no jornal de amanhã tem que tratar do depois de amanhã e explicar o porquê. O jornal é mais perene. Ele transfere para as outras plataformas, sobretudo as que nasceram dentro do jornal impresso, mais responsabilidade e reverência com a notícia. Isso é bom para as empresas, para o jornalista e para o leitor. O vital é uma apuração rigorosa e meticulosa, seja qual for a plataforma. O nosso trabalho começa na apuração, mas não se encerra nela. Há a edição que não pode ter exageros, artificialismos e sensacionalismos — observou. — Por mais urgente que seja a notícia, ela tem que ser dada com correção. Não se pode errar apenas porque a plataforma é rápida.
Ascânio enumerou ainda outros aspectos fundamentais, além do apuro técnico, como ética e humildade:
— A humildade é outra questão fundamental. As críticas nos ensinam muito. É preciso corrigir erros sem sentir vergonha por isso. A correção nos dá mais credibilidade. E, acima de tudo, os nossos jornalistas devem estar comprometidos com a ética, pois, sem ela, não se faz um jornal de boa qualidade.
Sobre a importância do redesenho do GLOBO, Ascânio destacou que o novo projeto gráfico é uma forma de tornar a leitura mais agradável e mais prazerosa para o leitor . Não há, de acordo com o diretor de Redação, relação direta com as vendas, que dependem mais do conteúdo oferecido.
— O redesenho do jornal é uma aposta nesta plataforma, em sua personalidade e caráter.
Para Ricardo Gandour, do “Estadão”, há uma relação de semelhança entre jornais e as redes sociais.
— De uma certa forma, a carteira de assinantes é algo parecido com os seguidores e curtidores das redes sociais. Nós sempre estivemos no negócio de curtidores, mobilizadores e seguidores. Nós, jornalistas, sempre fomos os intermediários entre a informação e o leitor. Nos últimos dez, 15 anos, esta hiperconexão permite às pessoas terem acesso direto à informação, sem intermediação. Qual é o antídoto? É agregar valor à informação. A hiperconectividade leva à abundância, que é a antessala da saturação e da dispersão total. A abundância pode levar à alienação, em que a pessoa não sabe como se posicionar.
Nesse mundo abundante e saturado, acrescenta Gandour, o papel dos jornais é de ser guias, ou seja, de selecionar, contextualizar e servir ao ser humano:
— O GLOBO redesenhado vai prestar um serviço público, é um esforço para melhorar o servir. Vamos conviver por muito tempo com o jornal impresso até onde a vista alcance. A tecnologia não pode nos fazer esquecer que, do lado de lá, tem um ser humano. O meio é digital, mas a vida é analógica. O meio digital tem que estar a serviço da vida. 

domingo, 22 de julho de 2012

O papel do jornal













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RIO - A imprensa enfrenta no mundo permanente batalha de credibilidade, que volta e meia é perdida. Embora aqui no Brasil ainda apareça entre as instituições mais respeitadas pela opinião pública, há um desconforto na relação da imprensa com a sociedade. Se de um lado ela ainda depende da imprensa para ter seus direitos respeitados e para que denúncias sejam investigadas pelos governos, de outro há questionamentos persistentes quanto à irresponsabilidade do noticiário, sobre as acusações veiculadas — o que muitos classificam de denuncismo — ou quanto ao superficialismo do noticiário.

















A imprensa aqui, mais que em outras partes, se transforma em poder por uma disfunção dos demais poderes. Ao produzir um primeiro nível de conhecimento dos fatos — o que muitos definem como um rascunho da História —, exerce o papel socialmente relevante de ser um canal de comunicação que liga Estado e nação, mas também os muitos setores da nação entre si. É sua atribuição fazer com que o Estado conheça os desejos e as intenções da nação, e com que esta saiba os projetos e desígnios do Estado.

No sistema democrático, a representação é fundamental, e a legitimidade da representação depende muito da informação, que aproxima representados e representantes. Nunca é demais relembrar o grande jornalista americano Jack Anderson, considerado o pai do jornalismo investigativo, segundo quem a necessidade de a imprensa ocupar um lugar antagônico ao governo foi percebida com clareza pelos fundadores dos Estados Unidos, e por isso tornaram a liberdade de imprensa a primeira garantia da Carta de Direitos.
“Sem liberdade de imprensa, sabiam, as outras liberdades desmoronariam. Porque o governo, devido à sua própria natureza, tende à opressão. E o governo, sem um cão de guarda, logo passa a oprimir o povo a que deve servir”. O presidente americano Thomas Jefferson entendeu que a imprensa, tal como o cão de guarda, deve ter liberdade para criticar e condenar, desmascarar e antagonizar.
Não obstante todos os novos recursos tecnológicos e as mudanças na sociedade que colocam o cidadão como protagonista, é o jornalismo, seja em que plataforma se apresente, que continua sendo o espaço público para a formação de um consenso em torno do projeto democrático. E os jornais ainda são a fortaleza maior do jornalismo de qualidade, tão importante para a democracia. A tese de que as novas tecnologias, como a internet, os blogs, o Twitter e as redes sociais de comunicação, como o Facebook, seriam elementos de neutralização da grande imprensa é contestada por pesquisas.
Uma, recente, da Associação de Jornais dos EUA (NAA na sigla em inglês) mostrou que os jornais tradicionais são marcas confiáveis para as quais o leitor corre quando algo importante acontece. A pesquisa mostra que ¾ de todos os usuários da internet têm os jornais como principal fonte de notícias, e os leem em várias plataformas.
Não é à toa que os sites e blogs mais acessados tanto nos EUA quanto no Brasil são aqueles que pertencem a companhias jornalísticas tradicionais, já testadas na árdua tarefa de selecionar e hierarquizar a informação. O jornalismo profissional tem uma estrutura, uma forma profissional de colher e checar informações que a vasta maioria dos blogueiros não tem. Não há dúvida de que, com o surgimento das novas tecnologias, os jornais perderam a hegemonia da informação, mas continuam sendo fatores fundamentais para cidadania.
São novos desafios, como o de explorar uma intensa variedade de meios de levar informação ao leitor sem ao mesmo tempo sufocá-lo com informação demais, produzindo a desinformação, que surge da profusão da informação, de seu encantamento, de sua repetição em círculos, na definição do filósofo francês Jean Baudrillard.
O filósofo alemão Jürgen Habermas define como a dupla função do que chama de “a imprensa de qualidade” atender à demanda por informação e formação. No texto “O valor da notícia”, ressalta que estudo sobre fluxos de comunicação indica que, ao menos no âmbito da comunicação política, a imprensa de qualidade desempenha papel de “liderança”: o noticiário político de rádio e TV depende dos temas e das contribuições provenientes do que chama de jornalismo “argumentativo”.
Sem o impulso de uma imprensa voltada à formação de opinião, capaz de fornecer informação confiável e comentário preciso, a esfera pública não tem como produzir essa energia, diz Habermas.
Texto tirado de palestra proferida na Academia Brasileira de Letras

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Jornais sempre se reinventaram



Evolução é marca da imprensa e do GLOBO, que aposta no papel ao fazer reforma gráfica, que estreia no próximo domingo

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Antigas rotativas do GLOBO, pioneiro no uso de tecnologias na mídia no Brasil Foto: Arquivo

Antigas rotativas do GLOBO, pioneiro no uso de tecnologias na mídia no BrasilARQUIVO
RIO - Quando Gutenberg criou a impressão com tipos móveis, por volta de 1439, calculava-se que o acervo mundial de informações se reduzia a 30 mil manuscritos guardados em conventos e igrejas. Um século e meio após a invenção, já havia 1,25 milhão de títulos publicados na Europa, segundo dados do livro “O contexto dinâmico da informação”, de Kevin Mc Garry.
Mais de cinco séculos depois, em 2002, ambicioso estudo realizado pela Universidade de Berkeley mediu a avalanche informativa que desaba sobre nossas cabeças nos dias de hoje. Os números impressionam: foram 70 milhões e 31 milhões de horas de nova programação transmitidas, respectivamente, pelo rádio e pela TV; cinco bilhões de mensagens instantâneas enviadas por telefone e 31 bilhões de e-mails trocados naquele ano. Só a internet gerou 170 terabytes de informação, o equivalente a 17 bibliotecas do Congresso dos EUA. De lá para cá, os professores desistiram de atualizar a pesquisa. Afinal, projeções sobre o crescimento da internet costumam falhar porque são sempre mais modestas que a realidade.
Nessa enxurrada de informações na web, muitos passaram a questionar a utilidade do jornalista. À medida que a internet permite o acesso direto à informação e até mesmo à publicação, haveria ainda sentido para o jornalismo?
— Há pessoas que acham que, com tanta informação disponível, não há mais necessidade de jornalismo. Elas estão erradas. Quanto mais informação houver, mais difícil será achar o que você quer. Será preciso alguém para organizar, avaliar e priorizar a informação. Os jornais não só fornecem as notícias, eles as organizam numa ordem de importância. E as interpretam. A demanda por explicação e interpretação será maior do que nunca — afirma Philip Meyer, autor do livro “Os jornais podem desaparecer?”, que hoje está convencido que não.
Um mergulho no passado da profissão mostra que o jornalismo sempre se deparou com avanços tecnológicos e soube se apropriar deles. Foi assim com o rádio e com a TV. E, indo ainda mais longe, com o telefone. Fábio Pereira, professor da Escola de Comunicação da UnB, lembra que a invenção redividiu as funções nas redações: passaram a coexistir os leg men (repórteres que iam até as fontes) e os rewrite men (redatores que recebiam as informações pelo telefone).
— O jornalismo está sempre se reinventando, independentemente do suporte. Mas seus valores são imutáveis. O bom jornalismo continuará sendo bom, seja em que suporte for veiculado. A qualidade do texto é mais importante do que saber operar ferramentas multimídia — afirma Pereira.
Há também argumentos históricos para se defender a crença na sobrevivência do jornalismo. Afinal, os antepassados dos jornais foram anteriores às rotativas. Na árvore genealógica da imprensa, estão as lettere d’avvisi (cartas de aviso), manuscritas e distribuídas na Itália desde o século XIII. Elas veiculavam notícias sobre colheitas, cotações de produtos e relatos de guerra. Os primeiros jornais que viriam a ser publicados com regularidade seriam o “Aviso” e o “Relation”, ambos na Alemanha, em 1609. De lá para cá, as inovações tecnológicas na imprensa fizeram as empresas se modernizarem continuamente.
Paralelamente ao emprego de modernas técnicas, as redações também se profissionalizaram, passando a empregar jornalistas em tempo integral.
— O jornalismo segue firme com sua capacidade de publicação e análise dos fatos. Ele não perde credibilidade. Ele perde o monopólio da informação, mas não perde sua capacidade de mediação — diz o professor Caio Túlio Costa, de Informação e Comunicação na Era Digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing-SP.


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