Fabricante do Kindle enfrentará ainda dificuldade para impor modelo de negócios
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SÃO PAULO — O mercado brasileiro de livros digitais deve ser chacoalhado pela chegada de três grandes livrarias on-line internacionais até o fim do ano. O destaque fica para a Amazon, maior varejista do mundo, que já anunciou seu site brasileiro para o quarto trimestre deste ano. Mas gigantes da tecnologia como Google e Apple também estão no páreo e devem passar a vender títulos de editoras brasileiras até dezembro. É o que prevê o cronograma dado pelo mercado editorial brasileiro, já que oficialmente as empresas não se pronunciam sobre o assunto.
Há um ano, a Amazon começou a prospecção de parceiros para desembarcar no Brasil. De acordo com uma fonte do setor, a empresa olha com atenção para pequenas empresas de distribuição.
Nove meses atrás, a companhia contratou uma empresa de seleção de executivos para encontrar o gestor da operação brasileira. Três brasileiros estariam no páreo. A escolha do nome deve acontecer até 1º de agosto. Segundo a fonte, o escritório brasileiro deve começar com estrutura enxuta. Com o tempo, pode comprar uma empresa brasileira que tenha de 30 a 40 pessoas, já de olho não só em livros digitais, mas no e-commerce de maneira geral.
A negociação para a entrada no país envolve a oferta de conteúdo local. Hoje, a empresa tem 5,5 mil livros em português (edições brasileiras e de Portugal), mas poucas editoras brasileiras vendem pela loja americana.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) estima que as editoras brasileiras ofertem hoje 10 mil títulos diferentes de e-books. Trata-se de um mercado pequeno se comparado ao americano, onde existem 950 mil títulos disponíveis. As editoras brasileiras lançaram, ano passado, 5.235 títulos no formato digital, que renderam R$ 862 mil em vendas, um valor ainda pequeno em relação ao faturamento de R$ 4 bilhões da venda de livros físicos, segundo pesquisa da CBL e Sindicato Nacional dos Editores de Livros.
Na Livraria Cultura, as vendas de e-book equivalem a 1% do total. Segundo a empresa, nos últimos 12 meses foram vendidos 2,5 mil títulos de 307,5 mil disponibilizados (300 mil internacionais ). Segundo Joaquim Garcia, diretor de TI da livraria, o faturamento com a venda de e-books este ano está 250% maior que no ano passado. Já a Saraiva diz que se a venda de e-books fosse considerada uma loja, teria o 42º maior faturamento entre as outras cem livrarias.
Apesar de pequeno, há potencial de crescimento neste mercado. Um dos motivos é a profusão de dispositivos de leitura. A consultoria IDC Brasil projeta a venda de 2,5 milhões de aparelhos este ano, 200% a mais que os 800 mil vendidos em 2011. Para 2013, a estimativa é que 4 milhões sejam comercializados.
Margem de 50% é considerada alta
A Amazon ainda não encontrou um meio termo no modelo de contrato para as editoras brasileiras, que consideram alta a margem estabelecida pela loja para os livros digitais — de 50%, contra uma média de 30% a 40% praticada por outras livrarias. Cláusulas que colocam nas mãos das editoras o custo de falha no processamento da transação, ou que exigem que promoções feitas na concorrência sejam replicadas na Amazon, também atravancam o fechamento de contratos.
— No começo, a gente entendia que a Amazon teria de chegar ao nosso mercado adaptando-se. Acredito que hoje o processo de negociação já tenha chegado num patamar diferente daquele que estava antes. Cada dia que passa eles conseguem fechar mais contratos — diz Karine Pansa, presidente da CBL.
Mesmo a Ediouro, uma das poucas editoras brasileiras que fornecem títulos em português para a Amazon, está em renegociação. A editora fornece cem de seus 500 títulos em formato digital.
— É um processo normal de negociação. Não temos crítica a eles — diz o diretor da Divisão de Livros, Antonio Araujo.
Enquanto as editoras negociam contratos, o mercado local já se prepara para a concorrência. Na média, o livro digital brasileiro é 30% mais barato que o impresso. Antecipando-se à chegada da rival, o Grupo Positivo abriu a livraria on-line Mundo Positivo. Há dois anos o grupo lançou o primeiro e-reader do mercado brasileiro (o Alfa, seguindo o exemplo da Amazon com o Kindle nos EUA).
— O que restringe o mercado local, no momento, é a oferta de títulos brasileiros, que ainda está pequena — diz André Molinari, vice-presidente de Negócios Digitais da Positivo.
A Livraria Cultura buscou ampliar o mix de produtos para se diferenciar. No fim de abril, lançou uma loja de games e objetos de colecionador, a Geek Etc Br.
— A estratégia é ampliar a oferta de produtos — afirma Joaquim Garcia, diretor de TI da Livraria Cultura.
Base de dispositivos já está formada aqui, diz Saraiva
A Livraria Saraiva, maior do setor no país, diz que a vinda da concorrente americana não altera planos de negócio a curto prazo. Isso porque a Amazon enfrentará no Brasil uma série de obstáculos que não encontrou no mercado americano, como a base de dispositivos já desenvolvida.
— Somos hoje o maior vendedor de livros no Brasil, como era a Amazon quando começou a sua loja on-line no mercado americano — diz Marcilio Pousada, presidente da Livraria Saraiva.
Os brasileiros que têm Kindle aguardam com ansiedade a chegada da Amazon. O assistente de conteúdo Felipe Ferreira, de 24 anos, usa o aparelho desde o ano passado e espera mais variedade de títulos e preços menores.
— Acho que é uma oportunidade de termos literatura com preços mais atrativos e com maiores facilidades — afirma.
Para especialistas, a entrada das estrangeiras atesta a importância que o país ganha no cenário global.
— Vai certamente estimular o crescimento do mercado brasileiro de livros digitais — diz Carolina Riedel, diretora Comercial da Editora Pensamento.
COLABOROU: Lino Rodrigues
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