segunda-feira, 15 de outubro de 2012

No futuro, receita virá principalmente de leitores, diz analista de mídia


G1


 




Ken Doctor fala nesta segunda (15) em encontro de imprensa em SP.
Segundo ele, América Latina tem pouco tempo para se adaptar

Giovana SanchezDo G1, em São Paulo

O autor e analista Ken Doctor, que apresentará palestra nesta segunda (15), em encontro da SIP (Foto: Divulgação)O autor e analista Ken Doctor, que proferirá
palestra nesta segunda (15), em
encontro da SIP (Foto: Divulgação)
Há pelo menos 15 anos, falar de tablets, conteúdos digitais e mídias sociais era tão estranho quanto nos pareceria hoje ignorar a presença dessas tecnologias em nossa vida. Para o consultor de mídias digitais Ken Doctor, autor de "Newsonomics – doze novas tendências que moldarão as notícias e o impacto na economia mundial", o modo como nos comunicamos e compartilhamos as notícias é especialmente afetado por essa mudança analógico-digital.
"Se você olhar para os anos 1990, era tudo uma questão de pequenos experimentos em empresas jornalísticas e muito otimismo. Nos anos 2000, as previsões eram de tempos terríveis, de perdas, perdas em receitas. Agora, há um reconhecimento de que o mundo mudou completamente, mas que há um novo lugar para as empresas jornalísticas", disse Doctor em entrevista aoG1, por telefone.
O analista é um dos palestrantes presentes nos debates desta segunda-feira (15) na 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, que ocorre até o dia 16, em São Paulo.
Seguno ele, uma das principais tendências para os meios de comunicação no futuro próximo consiste na fonte da receita vinda diretamente dos leitores - e menos dos anunciantes. "O 'New York Times' hoje lucra mais com leitores do que com anunciantes. E isso é uma mudança enorme, e eu vejo essa mudança em empresas da América do Norte, da Europa, assim como da Ásia."
Leia a seguir a íntegra da entrevista com o consultor:
 G1 - Em seu livro, o senhor fala das leis que modelarão as notícias no futuro próximo. Como o senhor vê esse futuro? Qual seria o modelo desejável e possível?
Ken Doctor - 
Basicamente, as empresas de mídia estão enfrentando agora o que eu chamo de ponto de convergência, quando o mundo está se tornando principalmente digital e restam alguns impressos. E isso aconteceu nos últimos 15 anos, quando havia basicamente só impressos e poucos digitais. Os digitais vêm aumentando, mas agora é a convergência. Então eles estão aprendendo a ser basicamente digitais, planejar os dois, como produzir conteúdo, distribuir em smartphones e em tablets, e como servir os anunciantes.
Essa é a grande distinção da era em que estamos ingressando. Eu a vejo nos seguintes termos: se você olhar para os anos 1990, era tudo uma questão de pequenos experimentos em empresas jornalísticas e muito otimismo. Nos anos 2000, as previsões eram de tempos terríveis, de perdas, perdas em receitas. Agora, há um reconhecimento de que o mundo mudou completamente, mas que há um novo lugar para as empresas jornalísticas.
G1 - O senhor poderia resumir as principais leis que o senhor fala em seu livro?
Ken - 
Sim... Eu escrevi o livro há três anos, mas sigo atualizando bastante. As principais coisas que aponto agora são como os leitores e as receitas vindas de leitores - que chamamos de circulação no negócio de jornais - é realmente a tendência mais importante na nossa frente. O [jornal americano] "New York Times" hoje lucra mais com leitores do que com anunciantes. E isso é uma mudança enorme, e eu vejo essa mudança em empresas da América do Norte, da Europa, assim como da Ásia.
O apoio nos leitores para bancar a maioria dos custos para criar as notícias é um fenômeno que está realmente se lançando pelo mundo dos jornais. Agora, há duas razões para isso: uma é que os anúncios têm diminuído, e continuam diminuindo, mas a segunda razão é a circulação digital, que se chama paywall [sistema que bloqueia o acesso ao conteúdo caso não haja pagamento]. Acho paywall um termo bobo, já que os leitores estão acostumados a pagar por jornais há décadas e mais décadas, mas dada a mudança do acesso livre para o conteúdo na internet as pessoas usam o termo paywall. É só circulação digital. Toda a noção de ter leitores que estão realmente interessados em um certo título, em um certo jornal, seja um jornal nacional, local, semanal, e fazê-lo pagar tanto pelo acesso digital quanto pelo acesso impresso é uma grande ideia, e hoje há mais de 500 jornais diários pelo mundo que implementaram a circulação digital apenas nos últimos dois anos.
Acho que essa é a principal tendência a se observar enquanto avançamos e é parte do que falarei em São Paulo.
G1 - Uma das leis que o senhor cita é a de conteúdo darwinista. O senhor pode explicar do que se trata?
Ken -
 Basicamente é o que chamamos da morte das distâncias. Antes era assim: onde você morava, você tinha a opção de um ou alguns jornais ali, e eles te davam todas as notícias, não apenas as locais, mas as notícias nacionais, internacionais, de economia, tudo. E eram os editores nesses jornais locais que decidiam o que você veria a cada dia. Eles pegavam muito conteúdo por toda a grade, assim como em agências e de seus repórteres, e a maioria dos leitores recebia as notícias do dia pelos olhos dos editores locais. E, agora, em 15 anos isso mudou completamente.
As pessoas vão a fontes de notícias nacionais, no Brasil, em Nova York, em Berlim, ou em pequenas cidades, em todo lugar. Eles podem ter fontes internacionais de notícias, como a BBC, CNN, NYT, Wall Street Journal e Financial Times com um clique ou um toque em um tablet. As pessoas estão indo direto para notícias nacionais ou internacionais, sites específicos de esportes, de economia, e isso reduziu o mundo dos jornais locais, que estão voltando a serem locais. E é isso que as pessoas estão procurando, já que podem ter toda a notícia nacional e de esportes que querem diretamente.
Então, conteúdo darwinista significa simplesmente que o melhor conteúdo que vai ganhar. Se você não pode ser o melhor no que faz, você provavelmente não sobreviverá.
G1 - Em que estágio o senhor acredita que nós brasileiros, em particular, e os latino-americanos, no geral, estamos dessas mudanças que o senhor vê no futuro próximo?
Ken -
 O que tenho visto é que o crescimento das economias da América Latina e o crescimento da classe média têm ajudado as empresas de mídia a achar mais sucesso do que muitas empresas na Europa e nos EUA. Ao mesmo tempo, os mesmos desafios existem. São os mesmos desafios de quebra digital, de leitores querendo suas notícias em iPhones, tablets, assim como impressos, de leitores querendo cada vez mais vídeos - e eu sei que a televisão é particularmente forte em seu país, assim como na América Latina. Então é uma mistura, de um lado os editores latino-americanos têm mais tempo para se ajustar, mas só alguns anos a mais, dados os fatos únicos da América Latina. Ao mesmo tempo, para os editores de notícias, a necessidade de se mover muito mais rápido em direção ao vídeo online é muito importante, visto como a audiência gosta de receber suas notícias.
A programação do evento na íntegra está disponível na página da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa na internet
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