Operação dará origem ao maior grupo editorial de produtos ao consumidor do mundo, deixando para trás a News Corp
NOVA YORK e RIO – O grupo britânico Pearson e o conglomerado alemão Bertelsmann fecharam acordo para unir suas editoras, respectivamente Penguin e Random House. A fusão cria o maior grupo editoral do mundo, com vendas anuais estimadas em 2,4 bilhões de libras (cerca de US$ 3,8 bilhões), superando a francesa Hachette, e entre 25% e 30% do mercado de livros. O acordo foi anunciado nesta segunda-feira de manhã — um dia depois de o jornal “Sunday Times” noticiar que a News Corp., de Rupert Murdoch, faria uma proposta de 1 bilhão de libras (US$ 1,6 bilhão) para levar a Penguin. A joint venture vai se chamar Penguin Random House, sendo que a Bertelsmann ficará com 53%, e a Pearson, com o restante. Sua sede ficará em Nova York. Para alguns analistas, esse anúncio é um sinal de uma nova onda de fusões e consolidações no mercado editorial. Não foi divulgado o valor do negócio.
O diretor financeiro da Pearson, Robin Freestone, disse à BBC que as empresas têm confiança de que o acordo será aprovado pelas autoridades reguladoras. A fusão vai unir as operações das duas editoras nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Índia e África do Sul, bem como as operações da Penguin na China e as unidades da Random na Espanha e na América Latina. Thomas Rabe, diretor-executivo da Bertelsmann, afirmou em nota que uma das vantagens da fusão será o aumento da presença editorial nos mercados de Brasil, Índia e China. No Brasil, a Penguin tem 45% da Companhia das Letras.
Apesar de os grupos afirmarem que a fusão proporcionará sinergias em custos operacionais e que os selos de cada editora continuarão autônomos, há receio no mercado de um enxugamento editorial, o que reduziria a oferta de títulos e a concorrência. A editora de livros do “Guardian”, Claire Armistead, afirmou no site do jornal que os autores vivos temem uma redução em adiantamentos e royalties.
Para o jornalista e editor brasileiro Felipe Lindoso, consultor de políticas públicas para a leitura, a fusão faz parte de um processo global de consolidação de empresas de mídia, que foi muito forte no fim do anos 1990 e início dos 2000 — a própria Bertelsmann comprou a Random House em 1998 — e é retomado, em grande parte, por causa do crescente mercado de livros digitais.
— Agora está havendo um processo de modificação muito grande no mercado editorial internacional. Não à toa Thomas Rabe, da Bertelsmann, disse que isso vai acelerar a transformação digital do mercado — afirma Lindoso, que compartilha o receio em relação à possibilidade de fusão de selos. — Acredito que diminua a possibilidade de haver mais jogadores fazendo oferta pelos grandes autores. Se bem que o panorama está mudando muito rapidamente com o digital. Agora ninguém mais está pagando milhões por um livro, é tudo mais modesto.
Para Lindoso, mesmo que a efetivação da fusão demore a ocorrer na prática, o negócio está consolidado, porque a única possibilidade de o acordo ser suspenso é a não aprovação das agências reguladoras. O diretor-executivo da Penguin, John Makinson, disse ao jornal britânico “Guardian” que não há cláusula de rompimento do acordo, descartando a hipótese de aceitar uma contraproposta da News Corp. As empresas preveem concluir a fusão no segundo semestre de 2013.
Lindoso ressalta ainda que, apesar da grandiosidade do negócio, há setores das duas editoras que não participam da fusão.
— A Random House alemã, a maior editora da Alemanha, ficou fora do negócio. A fusão é nos mercados em inglês e no resto do mundo. Argumenta-se que foi uma decisão estratégica da Bertelsmann, que é um gigante, tem música, edição, uma infinidade de negócios na área de conteúdo, e obviamente seu mercado natural é a Alemanha. As outras operações da Pearson, sem ser a Penguin, também não entram no negócio — afirma Lindoso.
A Pearson controla o diário de negócios britânico “Financial Times” e tem 50% da revista “The Economist”. O grupo também tem forte presença no mercado de educação, e em 2010 comprou o Sistema Educacional Brasileiro (SEB), que tem escolas e trabalha com distribuição de material didático.
Brasil como ponto estratégico
Para Sônia Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), a formação do novo grupo editorial pode ser vista como resposta à crise mundial. Pelo mesmo motivo, o Brasil pode ocupar um lugar mais importante na estratégia dos grandes grupos editorais.
— Imagino que poderemos ver outras uniões nos países que estão sofrendo com a crise, principalmente na Europa. O (megainvestidor) Warren Buffett já dizia que é na crise que se fazem grandes negócios — disse a presidente do Snel. — A situação no Brasil é bem melhor do que lá fora, ouvimos muito isso na Feira de Frankfurt (maior evento literário do mundo, ocorrido no início do mês). Creio que os grupos estrangeiros podem colocar o Brasil como ponto estratégico nos seus planos de crescimento. Já observamos leilões de aquisição de direitos de publicação de autores e obras bem movimentados aqui, com valores altos, mais próximos de patamares internacionais.
Para o colunista do jornal “The Indian Express” Pratik Kanjilal, a própria News Corp. deve buscar outra editora para comprar depois de ver frustrada sua ambição pela Penguin. E, apesar de a Penguin Random House já nascer como a maior editora do mundo, ela não é páreo para a Amazon, cujas vendas anuais giram em torno de US$ 48 bilhões.
Fazer frente a uma megavarejista como a Amazon foi uma das razões para a fusão. Rabe disse à BBC que “o perigo quando se é pequeno é que os revendedores pedem mais e mais descontos”. A Penguin vende em torno de 100 milhões de livros (físicos) por ano. Já as vendas da Random House, que incluem os livros digitais, chegam a 400 milhões de unidades por ano. A Penguin publica George Orwell, Raymond Chandler e Stephen King, entre outros; a Random House tem entre seus autores Richard Dawkins, Ken Follett e Orhan Pamuk.
Também se estima que a oferta da News Corp, tenha precipitado o anúncio da fusão. Duas fontes da Pearson disseram ao “Financial Times” que a venda da Penguin geraria passivos fiscais significativos, o que a tornaria menos atraente, do ponto de vista financeiro, que a fusão com a Random House.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/tecnologia/pearson-confirma-fusao-entre-penguin-random-house-6572224#ixzz2AlqsG794
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