IBGE diz que leitura ocupa só 6 minutos do dia; 61% fazem atividades simultâneas
RIO - Tempo, o bem mais precioso, mas, afinal, como gastamos as 24 horas do dia? Estudo piloto feito pelo IBGE em quatro estados (Pará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco) mais o Distrito Federal, com mais de 5 mil pessoas com 10 anos ou mais, dissecou essa repartição do tempo, e a leitura ocupa fatia residual no dia do brasileiro: apenas seis minutos em média por dia, enquanto ficamos 2h35m na frente da televisão. O estudo, inédito, mostrou também o que a percepção das pessoas já comprovou. Fazemos várias coisas ao mesmo tempo: 61% dos entrevistados praticaram atividades simultâneas, o que aumenta o dia em quatro horas e 52 minutos. O estudo será apresentado hoje no 35º Congresso Internacional de Uso do Tempo, que acontece no Rio desde quarta-feira, promovido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, IBGE, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ONU Mulheres.
Esses seis minutos, segundo Cíntia Simões Agostinho, economista e demógrafa do IBGE, uma das autoras da pesquisa, são ainda menores quando a comparação é feita por idade. Entre 10 e 24 anos, a parcela cai para três minutos. Mas, um alento, esse tempo vai subindo conforme se envelhece. Entre os mais velhos, com 60 anos ou mais, o tempo dedicado é de 12 minutos. Os mais velhos também ficam mais na frente da TV: três horas e três minutos.
— E 85% desse tempo são gastos exclusivamente em frente à TV, o restante é dividido entre contatos com amigos e outras atividades como os serviços domésticos — afirma Cíntia.
Ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar o nível de leitura de países desenvolvidos. Pesquisa do Bureau of Labor Statistics dos Estados Unidos mostra que a dedicação à leitura por lá ocupa 31 minutos nos dias de semana e 37 minutos nos fins de semana. No tempo gasto em frente à TV, o comportamento é similar: americanos dedicam duas horas e 58 minutos do dia à atividade, um pouco a mais que o brasileiro (duas horas e 35 minutos).
Desigualdade de gênero é menor nos EUA
Na questão de gênero, a desigualdade é atestada no relógio nos afazeres domésticos e cuidado com filhos e idosos. Enquanto o homem ocupa 1h14m do seu tempo em afazeres domésticos, a mulher gasta 3h35m. No cuidado com a família, a relação é de 39 minutos para mulher, contra 12 minutos para o homem. E a pesquisa mostra a divisão desse trabalho, como cozinhar, arrumar a casa, fazer compras. Nos Estados Unidos, essa desigualdade entre homem e mulher também aparece, mas num patamar inferior. Lá, as mulheres reservam para casa 2h28m, enquanto os homens levam metade desse tempo (1h11m) no mesmo serviço.
— A única função que tem quase o mesmo tempo gasto por homens e mulheres em casa é o de compras. O homem gasta 11 minutos e a mulher, 14 minutos — afirma Cíntia.
Como a pesquisa foi feita em 2009, com as redes sociais ainda se consolidando por aqui, o uso de computador ocupou apenas 11 minutos em média, lembrando que naquele ano apenas 34,6% dos lares brasileiros tinham computador e somente 27,3%, com acesso à internet. A população entre 10 e 24 anos, como era de se esperar, lidera o ranking: essa faixa etária gasta 28 minutos na frente do computador, enquanto quem tem 60 anos ou mais dedicou apenas cinco minutos a essa atividade.
‘Passo o tempo fazendo hora’
A relojoeira Sueli Mendes, de 49 anos, acorda às 5h30m para chegar ao trabalho às 6h45m, na Cidade Nova, no Centro do Rio. Ao chegar em casa, na Ilha do Governador, por volta das 19h30m, ela confessa: usa o tempo livre para ver televisão e navegar nas redes sociais, os livros não são a preferência.
— Aqui, passo o tempo fazendo hora. Quando chego em casa, fico um pouco na internet. Na média, fico uma hora, vendo as novidades e lendo e-mails. Depois, vejo filmes e seriados. Adoro comédia. Gosto de rir. Agora, novela já não gosto muito.
De dieta, ela diz que já perdeu cinco quilos em um mês, aproveita o fim de semana para fazer exercícios e ir a museus. As atividades culturais e esportivas ocupam 48 minutos no dia dos brasileiros.
— Ando bastante. No último fim de semana, fui a vários museus em São Cristóvão, de graça, em um programa da Prefeitura — lembra Sueli.
Pesquisas sobre uso do tempo são raras por aqui. Segundo a professora da UFF, a economista Hildete Pereira de Melo, o primeiro aconteceu em 1973, conduzido por Amaury de Souza, ainda no Estado da Guanabara. O mais recente antes do piloto do IBGE fora da socióloga Neuma Aguiar, da Universidade Federal de Minas Gerais em 2001, uma das maiores especialistas do tema no Brasil. Ela distribuiu cadernos e relógios para 500 famílias em Belo Horizonte e mediu em minutos a rotina dos mineiros da capital. Agora temos o levantamento piloto do IBGE, que servirá para formatar a pesquisas futuras do órgão mas não há previsão de quando isso vai acontecer, segundo a presidente do Instituto, Wasmália Bivar:
— Já incluímos no questionário base da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mais perguntas sobre uso do tempo, como cuidados pessoais, lazer, cuidado dos filhos e idosos, convivência social, mas não há previsão de quando vamos apresentar esses resultados
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