quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Precisa ser mundial a luta por uma internet livre

Dilma fez bem ao defender na ONU um marco civil multilateral para a rede planetária de computadores. Precisa, no Brasil, impulsionar a votação de projeto semelhante

EDITORIAL

Na parte inicial de seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, terça-feira, a presidente Dilma Rousseff cumpriu o que prometera ao reagir às primeiras denúncias de que o sistema eletrônico de espionagem americano escolhera o Brasil como alvo, e alinhou algumas propostas para um “marco civil multilateral” de governança da internet. O que menos importa na questão é a espionagem institucional. Claro que toda invasão de privacidade precisa e deve ser reprimida, mas não será por tratados internacionais que esta secular atividade será contida. O Brasil e qualquer outro país — independentemente das necessárias reclamações e denúncias públicas — que tratem de investir em tecnologia para proteger seus segredos da bisbilhotagem neste mundo digital sem fronteiras e cada vez menor.

Espionagem à parte, há vários aspectos a serem abordados numa regulação do uso da internet, mas sempre com a preocupação de se preservar sua característica básica, a da liberdade de expressão, também abordada por Dilma.
Em alguns pontos, a presidente relacionou vários princípios que uma governança multilateral da internet deve preservar: ser democrática, estimular a “criação coletiva e a participação da sociedade, dos governos e do setor privado”; ajudar na construção de “sociedades inclusivas e não discriminatórias” e exercitar a diversidade cultural, sem impor crenças, costumes e valores. A não ser em regimes autoritários, não há quem possa se opor a estes predicados. Dilma incluiu, ainda, na sua lista de sugestões, a “neutralidade de rede”, a fim de que não haja restrições ao tráfego na internet “por motivos políticos, comerciais, religiosos ou de qualquer outra natureza”.
O termo é meio obscuro — “neutralidade de rede” — mas designa um vespeiro, em que se engalfinham grandes companhias de telecomunicações, provedores na rede mundial de computadores, de um lado, e, de outro, o usuário — da Google à pessoa que navega na internet em casa, à noite. A briga é mundial. Em busca de mais faturamento, as telecoms querem, no Brasil, nos Estados Unidos, onde for, cobrar tarifas maiores de quem trafega mais na rede e/ou necessita de mais velocidade e espaço para os seus arquivos.
Para Google e grandes sites jornalísticos, não haveria problema pagar mais. Mas não para pequenos empreendedores, por exemplo. Assim, acabar com a “neutralidade de rede” é erguer uma barreira de entrada a novos concorrentes no mundo digital. E, com isso, pulverizam-se duas características pétreas da internet: ser livre e aberta a todos. Parece ilusório levar esta discussão à ONU, como fez Dilma. Não parece, porque é preciso colocar este tema em todos os fóruns multilaterais. Não apenas nas Nações Unidas. A própria presidente deve defender internamente a “neutralidade de rede”, como fez em Nova York, por ser a inclusão deste conceito na proposta de Marco Civil para a internet no país que trava a tramitação do projeto na Câmara.

domingo, 22 de setembro de 2013

Procuram-se estadistas

Dorrit Hazarim


Não é de hoje que o mundo está depauperado de grandes estadistas. Há tempos o que se vê é uma mera sucessão de políticos mais ou menos qualificados para chefiar Estados ou governos. Gerentões de países, de crises, de problemas partidários.

Basta olhar para qualquer foto de reunião de cúpula dos chefes do G-20 para notar a desimportância histórica do grupo. Se fecharmos o foco nos líderes do G-8, e fizermos exceção à chanceler alemã Angela Merkel, que é um caso à parte, a avaliação será a mesma. E um retrato face a face dos chefes de Estado das duas grandes potências oficiais, Estados Unidos e Rússia, mostrar um Barack Obama reduzido à sua metade e um ardiloso Vladimir Putin assentado num mero poder pessoal.

Neste descampado, a oratória dos líderes mundiais foi ficando monótona e os discursos oficiais perderam importância.

Até que, na tarde de quinta-feira, sem aviso prévio, voltamos a ouvir palavras de impacto, lindamente desprovidas de retórica. Chamavam atenção pelo conteúdo universal, pela audácia natural, pela visão de progresso e liberdade dentro de sua tradição. Soavam as palavras de estadista visionário de um vasto rebanho. "Devemos encontrar um novo equilíbrio. De outra forma, até o edifício moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas", disse o Papa Francisco em longa e seminal entrevista à revista "Civiltà Cattolica".

Coincidentemente, no mesmo dia, uma carta aberta publicada no site da revista "New Yorker" forneceu exemplo de um castelo de cartas que mais cedo ou mais tarde vai cair. Tinha por título "Kafka em Bagram" e era assinada pelo advogado americano de um paquistanês que ele jamais viu.

Amanatullah, o paquistanês, está preso há mais de nove anos na base militar americana de Bagram, no Afeganistão. Não sabe do que é acusado pois jamais foi acusado de nada. O advogado tenta obter uma revisão do caso junto a uma corte federal. Segundo o governo dos Estados Unidos, Amanatullah foi preso por preencher os "critérios passíveis de detenção". E informa que sua soltura foi autorizada. O governo informa também que ele não foi solto. Só não informa por que o liberou nem por que ele não foi solto.

A partir da carta aberta, pelo menos o nome de Amanatullah, que é pai de cinco filhos, readquiriu alguma vida. Já para o portador do nome, a questão é sobreviver. Isso porque o complexo prisional de Bagram sempre foi e continua a ser um buraco negro à margem da justiça - está oficialmente situado numa "zona de guerra". Guantánamo, em comparação, é uma prisão amena - pelo menos em teoria, alguns detentos da ilha têm direito a requerer habeas corpus junto a tribunais americanos.

De tempos em tempos, o presidente dos Estados Unidos ainda aventa a possibilidade de desbastar o emaranhado de instrumentos do Patriot Act de 2001 que vai estrangulando liberdades civis. A lei aprovada pelo Congresso e pela opinião pública no rastro dos ataques do 11 de Setembro visava a "fortalecer e unir a América contra o terrorismo". Na prática, passou a ter poderes acima de direitos e a bisbilhotar cidadãos e nações amigas como se fossem suspeitos.

Foi em 1975 que o senador democrata Frank Church, ao apurar abusos da então quase desconhecida National Security Agency (NSA), lançou um alerta sobre a necessidade de haver controle e transparência em operações de espionagem. "Do contrário", alertou o senador, "a espionagem poderá se voltar contra o povo americano. E ao americano não restará privacidade, tamanha é a capacidade de se monitorar tudo: telefones, conversas, telegramas, o que for. Não haverá lugar para se esconder".

Passados 40 anos, a derrama de documentos secretos revelados em doses calibradas pelo especialista em sistemas Edward Snowden mostra que Barack Obama não tem mais como domar essa engrenagem, nem que quisesse. Ela há muito parece ter escapado de qualquer controle.

Mas o presidente americano terá uma chance - talvez a única e última chance neste seu segundo mandato - de deixar na biografia um marco diplomático à altura do "novo equilíbrio" imaginado pelo Papa Francisco. Trata-se do lento, difícil, mas possível, processo de reaproximação entre Estados Unidos e Irã.

Os dois países romperam relações diplomáticas há trinta e quatro anos e têm um histórico coalhado de conspirações e golpes, agressões, ódios culturais e desconfianças mútuas. Sem falar na crônica desconfiança dos Estados Unidos em relação às intenções nucleares do inimigo.

Nos próximos dias deverá desembarcar em Nova York, para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas, o novo presidente iraniano, Hassan Rouhani, um moderado.

Rouhani já afirmou em público que tem como prioridade diminuir o isolamento de seu país em relação ao Ocidente e parece estar seguro de contar com o apoio do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Obama, por seu lado, deu início a uma correspondência pessoal com Rouhani.

Para ambos, a possibilidade de alterar a geopolítica da região com a aproximação das duas nações exigiria extremos de flexibilidade e determinação. Seria o exercício da grande diplomacia. E a oportunidade rara para dois políticos mostrarem facetas de estadistas.

sábado, 21 de setembro de 2013

Estamos cegos

Endividados, ‘desbussolados’, sitiados eindiferentes, não vemos o tamanho,nem as causas, nem a força da indignação

CRISTOVAM BUARQUE

Os políticos brasileiros estão endividados com os eleitores, sem bússola para o futuro, sitiados pela população e indiferentes diante da indignação.

Endividados pelo passivo acumulado por décadas de descaso com os interesses do povo, por ações, omissões ou incompetência. Depois de mais de cem anos de república, construímos um país rico na renda nacional, mas pobre na renda per capita e injusto na sua distribuição; dividido entre privilegiados e excluídos; ineficiente em seus serviços públicos, como saúde e transporte; atrasado na educação de suas crianças; um país violento, onde 100 mil compatriotas morrem por ano na violência das ruas, assaltos ou acidentes de trânsito. E, não menos grave, uma imensa dívida financeira e moral pelo desvio de bilhões de reais drenados pela corrupção. A dívida vem da insensibilidade social e ética que leva à corrupção nas prioridades da política e no comportamento dos políticos.
A população percebeu esta dívida, indignou-se e está nas ruas cobrando o passivo de décadas, sobretudo dos governos mais recentes, que prometeram pagar a dívida dos anteriores. Esta indignação mantém os políticos sitiados, metafórica e literalmente, pela desconfiança, pelo desprezo, pela ocupação de prédios e ruas. Isto não teria sido possível sem a autonomia das pessoas e movimentos sociais que não precisam mais de líder, partido, sindicato, jornal, rádio ou televisão. Com a democratização propiciada pela internet, a população, especialmente os jovens, é capaz de fazer uma guerrilha cibernética que ocupa pontos estratégicos e inviabiliza o bom funcionamento da sociedade. A dívida e a indignação, por meio da internet, sitiaram os políticos.
Isso seria menos grave se diante deste quadro os políticos tivessem um rumo a apontar, em direção ao futuro distante e ao atendimento das reivindicações imediatas.
Mas além de endividados e sitiados estão perplexos, desarvorados, sem bússola, “desbussolados”. Percebe-se que o rumo do crescimento econômico não é sustentável ecologicamente, não satisfaz ao bem-estar da população, nem engana mais a consciência da opinião pública; as propostas utópicas de direita ou de esquerda faliram; a democracia passa imagem de corrupção; as demandas cresceram e os recursos fiscais ficaram insuficientes.
Este quadro assustador ainda poderia merecer algum otimismo, se apesar de endividados, sitiados e “desbussolados”, os líderes não estivessem indiferentes. Mas a sensação é de que há uma total insensibilidade dos que fazem a política, em relação à dimensão do que acontece nas ruas. Cada manifestação é vista como única, de grupos restritos em ações isoladas; não se percebe que há uma dinâmica e uma lógica, com base em profunda raiva e instrumentos mobilizadores de extrema eficiência.
Talvez o maior problema é que, além de endividados, “desbussolados”, sitiados e indiferentes, não vemos o tamanho, nem as causas, nem a força da indignação. Estamos cegos.
Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

'Você acha que usa a internet, mas está sendo usado por ela', diz Bernardo Carvalho

Um longo processo de percepção de Bernardo Carvalho, 53, virou urgência em seu novo romance, "Reprodução"(Companhia das Letras).
Aos 20 anos de carreira, o autor que se firmou entre os grandes ficcionistas do país com obras como "Nove Noites" (2002) e "O Filho da Mãe" (2009) escreveu aquele que considera seu título mais político, a partir do cenário "libertário" e ao mesmo tempo "cheio de ódio" da internet.

O protagonista, identificado como "o estudante de chinês", é o que Carvalho define como um típico comentarista de sites, que reproduz informações desconexas entendidas superficialmente.
Bruno Poletti/Folhapress
O escritor Bernardo Carvalho em seu apartamento no bairro de Higienópolis
O escritor Bernardo Carvalho em seu apartamento no bairro de Higienópolis
O personagem não terá chance de comentar sites ao longo do livro, já que, na maior parte dele, estará num depoimento à polícia, após se envolver num imbróglio que não entende bem.

Sua personalidade virá à tona num diálogo do qual só se ouve sua voz, transformando-se em monólogo com toques de humor, mas incômodo.

"A literatura passou a ser pautada pelo gosto da média. Mas literatura é reflexão, não só contar uma história. Sempre tive interesse em fazer uma literatura disfuncional", diz Carvalho. Leia trechos da entrevista com o autor.
*
Folha - Não é de hoje que você questiona uma "banalização" promovida pela internet. Como essa ideia virou livro?
Bernardo Carvalho - Tive um processo longo de percepção de uma fascistização do mundo, de um jeito ambíguo, porque as pessoas criam o fascismo achando que estão encontrando a liberdade. A internet é libertária, democrática, mas também faz você entregar sua privacidade e se relacionar com corporações como se fossem Deus ou a natureza. Elas dizem: "Você não precisa pagar nada". E você se entrega acriticamente, porque a ideia de não fazer esforço é sedutora. E há o narcisismo, a exposição no Facebook, que pega um ponto central. É perverso, a conquista vai em pontos frágeis da psique, você se sente uma celebridade. Do ponto de vista político, você acha que está usando, mas está sendo usado. O livro expressa esse desconforto.
Na sua opinião, a internet apenas reflete um comportamento humano ou o reforça?
Talvez tenha acirrado algo que sempre existiu em potencial. Você não tem privacidade, mas pode ter anonimato, o que permite uma manifestação de imbecilidade sob a proteção do anonimato. Estava incomodado com isso e pensei nesse narrador que representa o ódio absoluto, o anonimato da internet. No livro há uma frase do [filósofo espanhol] Ortega y Gasset: "Todo povo cala uma coisa para poder dizer outra. Porque tudo seria indizível". O personagem tem a informação absoluta, mas nada do que ele diz quer dizer muito. Não adianta você saber um monte de coisas, ser informado na superficialidade midiática sem uma compreensão do mundo. Você só reproduz, não consegue mais produzir.
Comentaristas de sites em geral focam a política nacional, algo que não aparece abertamente no livro, com apenas uma menção às manifestações. Você evitou tratar disso?
O livro não é jornalístico, não está atado ao presente. Poderia falar de Dirceu, Mensalão, mas o central para mim hoje são os evangélicos, a religião interferindo no poder, e isso é o cerne do livro. Sobre manifestações, fui a três. A primeira, da [avenida] Brigadeiro Faria Lima [em 17/6], era classe média, bonitinha, o Brasil não estava representado ali. Dias depois teve a da [avenida] Paulista e tinha de tudo, sobretudo uma plataforma contra a corrupção, o que é estranho, porque todos são contra a corrupção. Notei um ódio no qual reconheci esse anônimo da internet. Pensei: "Não quero ser identificado como um deles nem ser governado por quem eles queiram como representante". O ícone dessa gente é Marina Silva, e não quero ser representado por ela. A terceira manifestação, contra o Feliciano, não tinha nem mil pessoas. Era um tema urgente, gravíssimo, e aí a sociedade não participou.
O protagonista cita os "colunistas" da mídia, que, nota-se, alimentam o ódio dele. Pensou em alguém específico?
Isso resume várias pessoas. É uma grosseria de pensamento, gente que fala como se falasse com crianças. O problema não é ser colunista de direita, é o tipo de argumento primário e fácil de ser derrubado. O negócio é no grito porque é insustentável. E isso produz best-sellers no Brasil. Há uma espécie de inconsequência política que está no discurso desse personagem. A burrice era privada, mas agora é pública.
O modo como diz isso ao leitor é incômodo, nesses diálogos que surgem como monólogos. Por que optou por essa forma?
A literatura passou a ser pautada pelo gosto da média. Mas literatura é reflexão, não só produto de consumo, não só contar uma história. Tem um elemento de rebeldia, de criação. Não sei se incomoda, mas esse livro me deu prazer de fazer e me dá prazer de ler. Há uma coisa engraçada no discurso do ódio. Não tenho clareza do que o livro representa, mas é algo político como nunca fiz, tem um humor que nunca tive. Sempre fui contra a literatura política, atrelada, mas desta vez tinha uma urgência. O livro não busca uma solução. É uma visão trágica das camadas de possibilidades.
Faz 20 anos que você lançou seu primeiro livro, 'Aberração'. Como compara o escritor que é hoje àquele de 1993?
Quando comecei, queria tentar uma literatura que não reconhecia à minha volta. Minha literatura sempre teve uma coisa de briga, de ser do contra, mas também sempre tive a ambição natural de querer ser lido. Hoje vejo uma estruturação da recepção da literatura, baseada numa hegemonia do gosto e das vendas. Isso reduz no mercado a brecha de uma experimentação, a chance de erro, uma herança anglo-saxã, na qual experimental é um livro malfeito. A infantilização do público tem a ver com a internet e também com uma literatura que entrega o que você quer. Sempre quis criar algo disfuncional, isso continua comigo.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A guerra e a banalização do preço do livro



Há 35 anos, a Associação Nacional de Livrarias trabalha na busca de alternativas que permitam a subsistência do pequeno e médio livreiro em nosso país. No entanto, apostar nesse cenário não parece ser mais um negócio tão animador.

Infelizmente, nos dias atuais, este livreiro tornou-se meramente uma vitrine de luxo, para os principais lançamentos editoriais. O mercado encontra-se concentrado e apenas as grandes superfícies são beneficiadas - algumas, inclusive, nada têm a ver com livros e entraram nessa batalha para fisgar o consumidor - e as livrarias independentes são excluídas desse cenário, restando a elas somente o papel de "divulgadoras". Não somos contrários a que o leitor compre pelo menor preço, mas sim contra a guerra e banalização do preço do livro que se estabeleceu em nosso mercado.

Por mais que se esforcem para minimizar as despesas e maximizar suas receitas, já não se enxergam grandes vantagens em trabalhar com livros neste cenário. Essa é uma das razões por que muitas das livrarias acabam optando por outros produtos para sobreviver. Elas, que poderiam contribuir como agentes, para melhorar nossos sofríveis índices de leitura, estão cada vez mais encontrando dificuldades em se manterem ativas, principalmente fora dos grandes centros.

Alguns pontos desta cadeia do livro e da leitura necessitam de debates imediatos, para que de alguma forma consigamos reverter este cenário. Enquanto dois terços dos municípios brasileiros não dispõem de nenhum ponto de venda de livros, o mercado apresenta um número crescente de títulos, indicando uma concentração cada vez mais significativa na comercialização de livro. Será que somente grandes centros têm direito ao acesso ao livro e à leitura? A quem favorece esta concentração do mercado? Este formato permite, de fato, o acesso ao livro e à leitura, para nos tornarmos uma nação de leitores?

Não temos dúvida de que esta concentração varejista ameaça a liberdade de expressão, a criação e fruição da leitura, causando o fechamento de pequenas e médias livrarias, prejudicando a geração de emprego, o empreendedorismo e a própria arrecadação de receita aos cofres públicos.

Precisamos de um pacto nacional que garanta a distribuição mais igualitária até os mais longínquos pontos de vendas de nosso país; que alinhe o papel de cada um na cadeia do livro, com o reconhecimento de que a presença de livrarias, neste cenário, pode contribuir para formação de leitores.

Necessitamos de uma política de estado que reconheça esse papel social da livraria como difusora do conhecimento, garantindo a bibliodiversidade, extinguindo este comportamento antiético, ilegal e predatório de algumas editoras, danoso à saúde de todo o segmento do livro.

A sobrevivência do livro (físico e digital) como plataforma de conhecimento depende da sobrevivência das livrarias como elo fundamental entre a cadeia do livro: autores, editoras, gráficas, distribuidoras e leitores - razão de ser deste esforço civilizatório.

Estatuto da Juventude reconhece direito à comunicação no Brasil


O Estatuto da Juventude, sancionado pela Presidenta da República no último dia cinco de agosto, é a primeira lei brasileira a reconhecer, expressamente, o direito à comunicação. Apesar de termos em diversas normativas nacionais, internacionais e na Constituição

Fruto de um longo processo de mobilização e de uma tramitação de quase 10 anos no Congresso Nacional, o Estatuto assegura diversos direitos das e dos jovens de 15 a 29 anos, além de definir princípios e diretrizes para as políticas públicas de juventude. Uma das seções trata especificamente do direito à comunicação e à liberdade de expressão, definindo, no artigo 26, que "o jovem tem direito à comunicação e à livre expressão, à produção de conteúdo, individual e colaborativo e ao acesso às tecnologias de informação e comunicação".

Já o artigo 27 estabelece um conjunto de medidas que devem ser adotadas pelo poder público para a efetivação desse direito, que incluem "incentivar programas educativos e culturais voltados para os jovens nas emissoras de rádio e televisão e nos demais meios de comunicação de massa"; "promover a inclusão digital dos jovens, por meio do acesso às novas tecnologias de informação e comunicação"; "promover as redes e plataformas de comunicação dos jovens", "incentivar a criação e manutenção de equipamentos públicos voltados para a promoção do direito do jovem à comunicação"; e "garantir a acessibilidade à comunicação para os jovens com deficiência".

O texto, que agrega debates feitos na 2ª Conferência Nacional de Juventude, poderia avançar mais no detalhamento das políticas necessárias à concretização do direito à comunicação, mas da forma como está já é uma conquista histórica. O desafio agora é transformar as determinações da lei em realidade para os mais de 50 milhões de brasileiros e brasileiras que fazem parte da faixa etária contemplada pelo Estatuto - o que exige ainda mais mobilização e pressão para que o Estado, nos diferentes níveis, crie e implemente políticas públicas de comunicação e juventude.

Nos próximos dias 26 e 27 de setembro, em Brasília, o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), instância de formulação e proposição de políticas públicas, fará um seminário para debater os caminhos para efetivação das questões colocadas pelos artigos do Estatuto referentes ao direito à comunicação e à liberdade de expressão. Durante o evento também será realizado um ato político pela democratização da comunicação, com a assinatura de um termo de compromisso de apoio do Conjuve ao Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática.

Em 2012, o Conjuve soltou uma nota de apoio à Campanha Para Expressar a Liberdade, apontando que um dos reflexos do atual cenário midiático é que "assim como outros segmentos da população, a juventude não raras vezes é silenciada ou retratada de maneira discriminatória e estigmatizante pelos meios de comunicação, especialmente no caso de jovens negros, pobres e moradores de periferias, que em geral só ganham visibilidade quando o assunto está relacionado à violência, construindo-se assim uma representação social enviesada e que nega direitos".

A efetivação das previsões do Estatuto da Juventude pode ajudar a mudar este cenário. E nunca é demais lembrar o que determina nossa Constituição, no artigo 227: o Estado brasileiro deve dar prioridade absoluta aos direitos dos jovens - o que inclui, agora, nos termos do Estatuto, o direito à comunicação!

*Integrante do Intervozes e conselheiro do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013

O futuro da mídia impressa em debate no 'Encontros O GLOBO'

Ciclo de palestras comemora lançamento do acervo digital do jornal
Sérgio Matsuura

Desde o surgimento da internet comercial, ainda no século passado, o debate sobre o futuro dos jornais impressos esteve em pauta. Agora, com a popularização dos dispositivos móveis, o tema volta à tona com força. Reunidos na Casa do Saber, na Lagoa, representantes de três grandes veículos brasileiros de imprensa discutiram ontem os desafios colocados pelo avanço tecnológico, ressaltaram possibilidades e foram uníssonos em dizer: o papel ainda tem um longo caminho pela frente. O debate faz parte de um ciclo de palestras dentro da programação dos Encontros O GLOBO, com temas que passam em revista a realidade do país nas áreas de tecnologia, cultura, economia e política. Os painéis são realizados na Casa do Saber O GLOBO, a partir das 17h. - O papel ainda sobrevive por muito tempo, mas é evidente que o modelo de negócio vai ser complementado pelo digital. Sobrevive não pelo saudosismo, como os discos de vinil, mas porque ele é conveniente. O leitor recebe em casa um relatório impresso, da marca que ele confia, com os fatos e análises das últimas 24 horas. É um valor para o indivíduo - afirmou Ricardo Gandour, diretor de jornalismo do "Estado de S.Paulo". 

Modelo de cobrança on-line

O debate foi mediado pelo editor executivo do GLOBO Pedro Doria, que ressaltou a importância do jornalismo de qualidade, não importando o meio que é entregue, seja papel, tablet ou internet. Cumprindo a função de mediador, o jornalista destacou que os ganhos com publicidade na internet são menores comparados ao faturamento com anúncios no impresso. A pergunta colocada aos convidados foi como gerir uma grande redação caso o jornal impresso perca relevância. Um dos caminhos apontados foi o início da cobrança pelo acesso ao site. A editora de Tecnologia da "Folha de S. Paulo", Camila Marques Braga, contou um pouco da experiência do jornal paulista, que adotou o paywall há pouco mais de um ano. Segundo ela, apesar do limite imposto ao acesso ao conteúdo publicado na internet, a audiência vem crescendo, assim como o número de assinaturas digitais. - Ainda não consigo imaginar fazer o jornalismo que fazemos hoje sem o dinheiro da publicidade do papel, mas estamos tentando novas formas de faturamento. Nós estamos implementando o paywall no Brasil num momento confortável, diferente do que aconteceu nos EUA, onde os jornais estavam no vermelho. Com pouco mais de um ano de experiência, a audiência não caiu, as assinaturas digitais cresceram e a maior parte dos leitores elogia a medida - contou Camila. O GLOBO iniciou a cobrança pelo acesso ao site ontem. Segundo Gandour, "O Estado de S. Paulo" também planeja modelo semelhante. - O interessante é que o leitor passa a ser mais crítico. Quando ele paga, ele se sente mais proprietário da informação e faz mais ponderações, que nos ajudam a melhorar - destacou Camila. No embalo dos protestos de junho, o uso de novas tecnologias no fazer jornalístico também foi discutido. Gandour classificou como "equivocado" o antagonismo colocado entre "mídia tradicional" versus "novas mídias". - Há 30 anos, um cidadão ligava para o jornal e informava sobre um incêndio. Ele já era ninja. E a redação fazia o quê? Apurava. Essa participação, a inclusão da sociedade, que as redações precisam incorporar, como incorporaram o sujeito da ficha telefônica há 30 anos - afirmou.

O Twitter e o jornalismo


Pedro Doria
O colunista escreve toda terça-feira

Microblog é bom para se manter informado. Mas o jornalismo de qualidade não pode ser fragmentado

Na última quinta-feira, pelo Twitter, a empresa Twitter anunciou que fará sua abertura de capital, o IPO, ainda este ano. A do Facebook, no ano passado, foi um fiasco. As ações, que abriram a US$ 38, se estabilizaram em US$ 20. Quase a metade. No sábado, um dos três fundadores do Twitter, Evan Williams, deu uma entrevista ao repórter Gregory Ferenstein, do site TechCrunch, reclamando da qualidade geral da imprensa, da imprensa de tecnologia em particular, e dizendo que tem uma ou duas ideias sobre como resolver a questão.
Williams, ou Ev, como é conhecido, tem um quê de mito. Poucos no Vale do Silício têm o histórico de acertar grande duas vezes. É seu caso. Foi um dos criadores do Blogger, a primeira ferramenta que permitia a qualquer um ter seu próprio blog. Fácil de usar que só. É uma ideia do tempo em que ainda era preciso explicar o que blogs eram. O Blogger foi vendido para o Google, Ev tornou-se milionário. Testou possíveis outros projetos, terminou se fixando no Twitter. É uma das redes sociais mais importantes que há, particularmente eficaz como canal de distribuição de notícias.
“O noticiário geral não é importante na maioria das vezes”, disse ao TechCrunch. “A maioria das pessoas faria bem por gastar menos tempo consumindo notícias e mais se envolvendo com ideias de grande importância.” O principal problema do fundador de Blogger e Twitter é com a notícia que vem picada, vários pedaços hoje, outros tantos amanhã, o constante fluxo de acontecimentos registrados pela imprensa. Ev é um sujeito brilhante. Talentoso. Mas não só está errado, como não parece muito capaz de autocrítica.
Um dos efeitos da internet sobre o jornalismo foi a fragmentação. Se esperávamos que o noticiário escrito chegasse diariamente à porta de casa, bem editado e organizado, a web mudou isso. É da natureza do meio. Na web, é natural que o critério do tempo se sobreponha ao da importância da notícia. A manchete do site é algo que ocorreu recentemente, não o que foi mais importante no dia. Blogs, reforçando a importância do que é mais recente, ampliaram esta percepção das notícias que vêm numa torrente sem fim. O Twitter, resumindo em cento e tantos toques o que há para ser dito, jogou a pá de cal. O modelo é sólido.
É da natureza da web um jornalismo mais ligado na notícia do que em sua compreensão. Mais ligado nos fatos do que na reflexão. Mas Ev provavelmente abandonou, ao longo da digitalização do mundo, outros lados da imprensa. Porque continua havendo imprensa reflexiva, que tanto busca fatos quanto se debruça para compreender o que dizem. Na internet, ela é mais rarefeita.
E, na imprensa tradicional, quem mais sofreu com o impacto da web foi justamente o jornalismo de nicho.
Nos anos 1970 e 80, mesmo em boa parte dos anos 90, a imprensa de tecnologia dos EUA foi grande. Não apenas extremamente rentável como muito dedicada. Repórteres faziam grandes viagens, gastavam sola de sapato, investigavam práticas da indústria. Os primeiros cinco anos da revista Wired talvez tenham marcado o ápice do jornalismo de qualidade no Vale do Silício. Reflexivo, inteligente, bem escrito.
Hoje, há muito mais repórteres trabalhando na cobertura da área do que jamais houve. A maioria fica trancada num escritório escrevendo posts a alguns centavos por unidade. Há análise pela metade, piadas bobas, muita informação que nasce de buscas pela web e press releases. Algumas entrevistas, não muitas. No centro de tudo está o custo: publicidade, nem nos EUA, nem na maioria dos cantos do mundo, sustenta jornalismo de nicho de qualidade.
O Twitter é uma empresa bem mais modesta do que o Facebook. O valor final do negócio deve ficar na casa dos US$ 15 bilhões contra os quase US$ 100 bilhões do primo grande. É, aparentemente, também um negócio mais bem gerido. E Twitter é uma delícia de usar para quem gosta de se manter informado. Tem imensas qualidades. Jornalismo bom, porém, continua caro de fazer.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

‘A ideia de felicidade ocidental, baseada no individualismo, falhou’


Roman Krznaric (Foto: Kate Raworth)
Fundador da The School of Life vem ao País dar palestras sobre compaixão e trabalho. Para o filósofo australiano, colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução.
Há 20 anos, Roman Krznaric se inscreveu para um curso de culinária na Bahia; mas, como não conseguiu uma bolsa de estudos, declinou a viagem. Hoje, o filósofo australiano, um dos fundadores da The School of Life, na Inglaterra, finalmente conhecerá o Brasil. Abriu uma exceção para viajar de avião – ele se preocupa com as emissões de carbono – e virá ao País para uma palestra sobre trabalho, dia 22, no Teatro Augusta.
Escritor do best seller Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida, o filósofo continua interessado em culinária, mas se dedica a incentivar o que chama de “questionamentos sobre a vida”. E a vida laboral, segundo o escritor, é uma das questões que causam mais insatisfação e inquietação no mundo contemporâneo. “Hoje, pessoas de todas as classes sociais começam a enxergar o trabalho como algo para além da sobrevivência. É uma ocupação que pode fazer você se sentir preenchido”, conta. A saída para a insatisfação, explica, tem algumas alternativas: aplicar seus valores pessoais no trabalho; procurar um emprego que faça diferença no mundo; e usar seus talentos e habilidades; entre outras. “Uma das maiores razões de satisfação no trabalho não é dinheiro, mas autonomia”, diz.
Além de aulas e conferências pelo mundo, o australiano toca, paralelamente, um projeto definido por ele como “a grande ambição de sua vida”: a criação de um Museu da Empatia. “Trata-se de um lugar onde você poderá entrar e conversar com pessoas que não conhece. Assim como emprestamos livros de uma biblioteca, será possível emprestar pessoas para uma conversa”, explica. O projeto não é de todo utópico. Segundo o filósofo, depois de um vídeo explicando seu conceito de empatia, com 500 mil visualizações, sua caixa de e-mail recebe, pelo menos, uma mensagem por dia de pessoas do mundo inteiro se propondo a ajudar na criação do museu.
É por meio dessa troca e da disseminação desse conceito de empatia que o filósofo acredita ser possível fazer uma revolução: “As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos”, diz.
A seguir, os melhores momentos da entrevista.
No seu livro, o senhor fala que 60% das pessoas estão insatisfeitas com a vida profissional. Por que esse desconforto crescente?
Parte dessa insatisfação vem do fato de que, nos últimos 20 ou 30 anos, houve um grande crescimento de expectativa com relação ao trabalho. Antes disso, poucos se questionavam sobre seus empregos. Hoje, pessoas de todas as classes sociais começam a ver o trabalho como algo para além da sobrevivência. Uma ocupação pode fazer você se sentir preenchido. De taxistas a investidores de banco, médicos, faxineiras… todos procuram por mais significado no trabalho. Nasceu o conceito de que trabalho pode ser um lugar para se aplicar os talentos, as paixões, os valores.
Como essa mudança ocorreu?
À medida que as necessidades básicas são alcançadas, como casa, comida, educação, as pessoas buscam mais propósitos na vida. E, claro, hoje em dia há mais profissões. Na Europa do século passado, se você quisesse trabalhar com algo que envolvesse suas visões políticas e sociais, existiam poucas possibilidades. Atualmente, há um enorme mercado de trabalho para isso, como ONGs, órgãos de meio ambiente, sociais, em que as pessoas podem sentir que estão fazendo a diferença diariamente. Isso é algo novo. Ter um trabalho onde me sinto valioso e cheio de significados.
O senhor não acha que essa tendência contemporânea de que o emprego tem de ter alguma função social pode criar uma certa culpa coletiva?A maioria das pessoas não trabalha com algo que faz diferença para o mundo.
Sim. Nossos valores são grandes motivadores para o trabalho e para a satisfação laboral. E sim, existe uma culpa de quem pensa “se eu não estou trabalhando com meninos de rua, então sou uma pessoa ruim”. Entretanto, há outras maneiras de encontrar satisfação no trabalho. Uma delas é essa: aplicar seus valores pessoais na prática. Outra é usar seus talentos – sendo um artista ou um jogador de futebol, você não está necessariamente mudando o mundo, mas sua satisfação virá do uso de suas habilidades e paixões. Para mim, o maior problema não é a culpa, mas o arrependimento. É a sensação de chegar ao fim da vida e saber que não fez o que gostaria realmente de ter feito.
O que acha da corrente que defende que as pessoas trabalhem em casa, sozinhas?
Isso é um tópico contemporâneo muito importante. Nos últimos meses, especialmente nos EUA, as empresas não estão deixando seus funcionários trabalharem de casa. O exemplo mais clássico é a nova chefe executiva do Yahoo, Marissa Mayer, que há alguns meses não permite que seus funcionários trabalhem de casa. Isso é trágico. Uma das revoluções modernas laborais, no mundo ocidental, é a ideia de trabalhar de casa.
Por quê?
Uma das razões apontadas pela maioria das pessoas que são felizes no trabalho não diz respeito à remuneração, mas à autonomia. É o senso de liberdade, o poder de decisão sobre o próprio trabalho, que cria satisfação. Mesmo que não seja o emprego dos sonhos. Trabalhar de casa é uma dessas possibilidades. Controlar o próprio horário, a disciplina.
Recentemente, um estagiário se suicidou na Inglaterra, depois de trabalhar 72 horas seguidas. O que acha da cultura que incentiva trabalhar demais?
Muitas empresas fazem o culto do “overwork”, em que trabalhar muito, além da conta, é valorizado. Especialmente em bancos e consultorias. Na Inglaterra, um milhão de pessoas afirmam ser viciadas no trabalho. Ou seja, trabalham mais do que precisariam. A ideia de “work adiction” é um grande problema. O Japão é um caso clássico. Muitas pessoas cometem suicídio ou sofrem de ataque do coração, depois de trabalhar demais. Existe, inclusive, uma palavra no dicionário japonês para “morrer de tanto trabalhar”. Espero que isso seja uma mensagem para indivíduos e para essas empresas.
No livro, o senhor afirma que encontrar o “trabalho da vida” é como encontrar o amor perfeito.
Isso aprendi com uma mulher que, aos 30, pediu demissão e testou 30 profissões diferentes durante um ano. E ela me disse, no fim desse processo, que encontrar o emprego perfeito é como encontrar um amor perfeito. Você pode fazer uma lista com qualidades que gostaria num parceiro e, no fim, se apaixonar por um que não tenha nenhuma delas. Trabalho é isso. Empregos inesperados podem ser surpreendentemente bons. Por isso, experimentar é importante. Para se dar chance de descobrir novas paixões e talentos. O contrário também acontece.
Como?
Eu, por exemplo, trabalhei como jardineiro em um grande jardim público. O salário era ruim, mas achei que seria fantástico, porque estaria perto da natureza, fazendo algo para o público. No fim, trabalhava o dia inteiro, com um esforço físico enorme e as pessoas nem me notavam. Era invisível. Todos nós precisamos de respeito e sentir que nosso trabalho é válido.
O senhor acredita que o aspecto financeiro não provoca satisfação no emprego. No entanto, existe uma questão social, especialmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. 
Sim, o dinheiro importa. Se você tem de ter dois empregos para alimentar a família, claro que não há tempo para ficar experimentando ser um professor de ioga, por exemplo. Nesses casos, a pergunta é: como posso fazer com que meu trabalho seja mais prazeroso?
Crê que as sociedades contemporâneas continuam incentivando o sucesso por meio das conquistas individuais?
Perseguir o interesse próprio foi a grande propaganda do último século. Entretanto, ser humano não é apenas seguir os desejos individuais. A ideia de felicidade ocidental falhou. A introspecção, o interesse próprio, perseguir valores que não envolvam o coletivo… Temos a tendência a sentir compaixão uns pelos outros. Somos criaturas empáticas. Há estudos que mostram que compaixão dá prazer. Somos também coletivos. Formamos comunidades de todos os tipos, o tempo inteiro. As pessoas estão, cada vez mais, querendo fazer parte de algo maior do que elas mesmas.
O senhor tem a ideia de criar um Museu da Empatia. O que é esse projeto?
É a maior ambição da minha vida. Estamos em desenvolvimento ainda. Trata-se de um lugar onde você pode entrar e conversar com pessoas que não conhece. Fazer um “laboratório humano”. Assim como você empresta livros de uma biblioteca, será possível “emprestar pessoas” para uma conversa. Nesse processo também quero criar uma plataforma online, em que será possível “baixar” exposições.
Como?
Você poderá estar em São Paulo e fazer parte do Museu da Empatia, dividindo histórias de como, por exemplo, você faz uma “conversa-refeição” – que é um conceito criado por nós na The School of Life. “Conversa-refeição” nada mais é do que estranhos que se sentam a uma mesa e, no lugar de um menu gastronômico, recebem um cardápio de ideais. Com questões sobre a vida, do tipo: “De que maneira o amor mudou a sua história?”, “Como ser mais corajoso?” ou “Como ter mais satisfação no trabalho”. Meu objetivo é que as pessoas possam baixar esses menus, com instruções para fazer isso em suas comunidades.
O senhor diz que a “empatia”, no sentido de compaixão, é algo capaz de criar uma revolução. Poderia explicar?
A ideia de empatia é, para mim, o ato de “calçar os sapatos de outra pessoa”. Olhar o mundo pela visão do outro. E, normalmente, quando pensamos nessas coisas, sempre consideramos um relacionamento somente entre duas pessoas. Entretanto, se olharmos a história, em todo o mundo, vemos que movimentos de empatia coletiva tiveram momentos de grande êxito. Em outros, sofreram um colapso e desapareceram, como no Holocausto e no genocídio de Ruanda. As pessoas podem agir juntas. Fazendo esse exercício de se colocar no lugar do outro, é possível, sim, mudar o mundo.
Tem um exemplo de um desses momentos?
Na Europa e nos EUA, no século 18, quando houve um grande movimento contra a escravidão. Foi disseminada uma grande reflexão sobre o que era ser escravo. De tempos em tempos, surgem pessoas que se organizam para desafiar atitudes de injustiça. E muitas dessas pessoas são motivadas pela empatia. Hoje, no Oriente Médio, há muitas iniciativas para criar paz entre palestinos e israelenses. As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos. Há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades.
Como nutrir esse sentimento em épocas de extremismos?
Nutrir empatia em um local cheio de preconceitos é difícil. A saída para isso é alimentar a curiosidade pelo outro. Nós não conversamos com quem não conhecemos. Esse seria um belo exercício de sensibilização. Ficamos muito tempo com pessoas que são como nós. /MARILIA NEUSTEIN
Colaboração de Julia Sorella

Indústria de mídia passa por transformação no mundo todo

Mais de um terço dos jornais americanos já adotaram algum modelo de cobrança de conteúdo

RIO — Segundo Ken Doctor, analista de novas indústrias da Outsell Research e autor do livro “Newsonomics”, que lista as tendências do jornalismo na era digital, mais de um terço dos jornais americanos já adotaram algum modelo de cobrança de conteúdo:

— A distribuição digital trouxe novos ares à indústria de mídia e a audiência para notícias nunca foi tão grande. Os leitores estão aceitando que conteúdo digital tem valor real e estão dispostos a pagar por ele. O mito de que informação deve ser grátis hoje não faz sentido, pois já existe uma consciência bem clara de que produzir conteúdo jornalístico de qualidade é caro e dá muito trabalho.
Na avaliação de Ken Doctor, o fato de que a receita de assinatura do jornal já é maior do que a gerada com publicidade levará, em abril de 2014 o ‘NYT’ a flexibilizar ainda mais seu modelo, com diversas modalidades de cobrança. “Será o início da era do paywall 2.0”, prevê.
Para Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas e professor da Escola de Jornalismo da Universidade do Texas, o novo modelo de oferta de conteúdo é um bom passo adotado pela indústria de mídia em todo o mundo. “Hoje o mercado está mais maduro e a tecnologia evoluiu, permitindo criar sistemas que antes seriam impossíveis. O ‘New York Times’, o ‘El País’ e vários outros fizeram suas tentativas iniciais sem sucesso. Só nos últimos dois anos é que se chegou a um modelo que vem registrando bons resultados”.
Uma das vantagens desse sistema, segundo ele, é o fato de permitir o acesso a uma audiência bastante volumosa, mas que busca o site pontualmente, a partir de ondas nas mídias sociais.
— Essa nova fórmula permite que os jornais estejam nos dois mundos ao mesmo tempo — afirmou.

domingo, 15 de setembro de 2013

Indústria de mídia passa por transformação no mundo todo



Mais de um terço dos jornais americanos já adotaram algum modelo de cobrança de conteúdo

RIO — Segundo Ken Doctor, analista de novas indústrias da Outsell Research e autor do livro “Newsonomics”, que lista as tendências do jornalismo na era digital, mais de um terço dos jornais americanos já adotaram algum modelo de cobrança de conteúdo:

— A distribuição digital trouxe novos ares à indústria de mídia e a audiência para notícias nunca foi tão grande. Os leitores estão aceitando que conteúdo digital tem valor real e estão dispostos a pagar por ele. O mito de que informação deve ser grátis hoje não faz sentido, pois já existe uma consciência bem clara de que produzir conteúdo jornalístico de qualidade é caro e dá muito trabalho.

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Na avaliação de Ken Doctor, o fato de que a receita de assinatura do jornal já é maior do que a gerada com publicidade levará, em abril de 2014 o ‘NYT’ a flexibilizar ainda mais seu modelo, com diversas modalidades de cobrança. “Será o início da era do paywall 2.0”, prevê.

Para Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas e professor da Escola de Jornalismo da Universidade do Texas, o novo modelo de oferta de conteúdo é um bom passo adotado pela indústria de mídia em todo o mundo. “Hoje o mercado está mais maduro e a tecnologia evoluiu, permitindo criar sistemas que antes seriam impossíveis. O ‘New York Times’, o ‘El País’ e vários outros fizeram suas tentativas iniciais sem sucesso. Só nos últimos dois anos é que se chegou a um modelo que vem registrando bons resultados”.

Uma das vantagens desse sistema, segundo ele, é o fato de permitir o acesso a uma audiência bastante volumosa, mas que busca o site pontualmente, a partir de ondas nas mídias sociais.

— Essa nova fórmula permite que os jornais estejam nos dois mundos ao mesmo tempo — afirmou.


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Capital do cinema, Rio quer ter metade dos estúdios do país



Expansão do Polo Cine & Vídeo, na Barra, e construção da Cidade do Audiovisual, espaço que vai substituir quartel da Guarda Municipal em São Cristóvão, vão aumentar capacidade de produção

Além de estúdios, Sérgio Sá Leitão promete pós de roteiro com professores da Columbia Foto: Paula Giolito / Agência O Globo
Além de estúdios, Sérgio Sá Leitão promete pós de roteiro com professores da Columbia Paula Giolito / Agência O Globo
RIO - Nos preparativos para receber os Jogos Olímpicos de 2016, o Rio prevê novos equipamentos esportivos, mais estações de metrô e uma estrutura hoteleira robusta para dar conta de todos os visitantes que virão à cidade. Mas prevê, também, um grande incremento em sua capacidade em receber produções audiovisuais: com a expansão do Polo Cine & Vídeo, na Barra, e a construção de um novo espaço de produção, a Cidade do Audiovisual, em São Cristóvão, a expectativa da prefeitura é que a cidade concentre mais de 50% da área de estúdios independentes do país. Hoje, essa capacidade é de 29%.
Até o fim do mês, a RioFilme, órgão da prefeitura responsável pelas políticas de fomento do audiovisual na cidade, vai lançar uma licitação para escolher o novo administrador do Polo Cine & Vídeo — o contrato com a Associação das Empresas do Polo, locatária do espaço desde o início dos anos 90, expirou em março. A ideia é que sejam investidos ali R$ 80 milhões para que se dobre o número de estúdios de oito para 16.
Já a Cidade do Audiovisual, de acordo com a RioFilme, terá sua licitação de ocupação lançada até o fim do ano. Ainda não há um número exato de estúdios a serem construídos, mas já há um espaço definido: os 14 mil metros quadrados do terreno do quartel da Guarda Municipal em São Cristóvão, que será transferido para Botafogo.
O investimento previsto para o vencedor da licitação é de R$ 25 milhões. O espaço passará a abrigar, ainda, a RioFilme e a RioFilme Comission — que hoje funcionam nas Casas Casadas, em Laranjeiras — e terá também quatro salas de cinema.
— A ideia é que o Polo esteja mais voltado para cinema e publicidade, enquanto que a Cidade do Audiovisual seja desenhada para abrigar mais as produções de TV — explica Sérgio Sá Leitão, presidente da RioFilme e secretário municipal de Cultura. — Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, haverá um aumento na demanda por estúdios e profissionais de audiovisual na cidade. Já estamos fazendo parcerias para a capacitação de pessoal, e vamos investir em infraestrutura. Teremos, no ano que vem, por exemplo, uma pós-graduação de roteiro na PUC do Rio, ministrada por oito professores da Universidade de Columbia, de Nova York.
Investimentos privados
De acordo com dados da RioFilme, o Rio possui hoje 3.500 metros quadrados de estúdios para produção audiovisual independente — o que exclui o Projac, estúdio da Rede Globo, e o RecNov, da Rede Record. É uma área que representa, de acordo com a RioFilme, 29% da capacidade de estúdios independentes do país e está toda concentrada no Polo Cine & Vídeo.
Com a ampliação do Polo e a construção da Cidade do Audiovisual, a capacidade de estúdio da cidade saltaria para 11 mil metros quadrados, o que representaria 57% da área para a produção independente brasileira. Os investimentos para a expansão serão todos feitos com dinheiro privado, sob responsabilidade das empresas vencedoras das licitações. A meta da prefeitura é que todos os estúdios estejam em pleno funcionamento até julho de 2016, mas eles serão abertos conforme forem construídos.
— No caso da Cidade do Audiovisual, o prédio já existe, então serão apenas obras para adaptação — diz Sá Leitão. — Estamos num momento em que os mercados de cinema e de TV estão crescendo, então é um contexto favorável para a expansão dos estúdios.

Programe-se: mundo está deixando para trás a era da mobilidade



Veja alguns dos principais tópicos abordados pelo cientista Silvio Meira na palestra em comemoração aos 20 anos do caderno Boa Chance


Palestra do cientista Silvio Meira sobre os rumos do mercado de trabalho foi realizada no dia 6 de setembro
Foto: Guillermo Giansanti / Guillermo Giansanti
Palestra do cientista Silvio Meira sobre os rumos do mercado de trabalho foi realizada no dia 6 de setembro Guillermo Giansanti / Guillermo Giansanti
RIO — Estamos entrando na era da programabilidade, ao mesmo tempo em que vivemos a quinta onda de inovação, que move o mercado de trabalho — e o mundo. Ou seja, desenvolver raciocínio de programação será básico, em diferentes profissões. Assim, na onda de softwares e redes, o profissional precisará aprender sempre, e cada vez mais, para manter o seu lugar. O tempo de “vida útil” de um engenheiro, por exemplo, é de apenas cinco anos, caso ele não se mantenha aprendendo. Esses foram alguns dos assuntos debatidos pelo cientista-chefe do Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife (Cesar), Silvio Meira, durante a palestra em comemoração aos 20 anos do caderno Boa Chance, realizada na semana passada. Reunimos abaixo os principais tópicos discutidos por Meira sobre os desafios que as novas tecnologias impõem ao mercado de trabalho.
PROGRAMABILIDADE
“Depois da era da mobilidade, estamos entrando na era de programabilidade. Começamos a programar, para ver apenas a parte do mundo que queremos. Já programamos nas redes sociais o que queremos discutir, para quem queremos falar. Cada vez que baixamos um app, estamos programando o celular, redefinindo o que ele faz. Programar não é muito diferente do que escrever em português. Os primeiros programas não serão complicados: ao contrário, serão extremamente simples”.
“Há um ambiente de programação, por exemplo, o ifttt.com, que é muito simples e permite gerar resultados diretos. É uma linguagem de programação que só tem um comando e permite coisas como: publicar link na minha rede social sempre que houver notícia nova, receber SMS se a previsão do tempo passar dos 30 graus. Isso serve para a gente ir se acomodando e aprendendo que programar as coisas ao redor não é tão complicado. Será menos complicado que programar um videocassete”.
LEI DE MOORE
“Todo mercado tem leis. No mercado de informática, existe a Lei de Moore, que diz uma coisa bem básica: a cada 18 meses, pelo mesmo preço, se obtém o dobro da capacidade de computação, comunicação, armazenamento etc. Ou seja: o digital, pelo mesmo preço, fica duas vezes mais capaz pelo mesmo preço. Neste mercado, se você se graduar numa das melhores universidades do mundo, e não se mantiver em estado educacional, cinco anos depois está prontinho ‘para virar suco’. Nesse caso, se sair do trabalho em que está, não arranjará outro ou arranjará em outra categoria ou menos remunerado. O tempo de vida médio de um engenheiro, se ele não se preocupar em aprender o tempo todo, é cinco anos”.
“Qual é o tempo de vida das pessoas em outros mercados? Leva o tempo que o futuro leva para chegar para você, sem que você tenha chegado no futuro. Porque a gente tem que chegar no futuro antes que ele chegue na gente”.
AS ONDAS DE INOVAÇÃO
“Foram inovações em mercados que geraram o trabalho que a gente tem hoje. No século 18, a onda de inovação foi a mecanização e o comércio. Foi de baixa intensidade: não rendeu impacto a ponto de desempregar quem estava por perto. A segunda onda é a da Revolução Industrial, com a energia e as ferrovias: surgem fábricas em larga escala e, com a automatização do processo, a vida das pessoas que trabalhavam começa a sofrer impacto radical. Mas a onda de inovação mostra que o mundo não se acaba. As pessoas vão aprender a fazer outras coisas. A terceira onda traz a eletricidade e o motor, duas coisas que nos acompanham até hoje, 120 anos depois. Após a Segunda Guerra Mundial, a onda é de eletrônica e aviação. E, ao conseguirmos manipular informação em velocidade nunca vista, chegamos a uma onda de inovação de softwares e redes, que começa no fim da década de 60 e se transforma no motor da economia com a internet, a partir de 1995. É a onda que estamos vivendo e, por causa dela, provocando uma onda de sistemas em rede, sustentabilidade e sistemas holísticos”.
COMPETÊNCIAS SOCIAIS
“Hoje, existe um conjunto de ‘És’ que não têm a ver com a formação clássica de um profissional, mas com a sua disposição para o mundo. Em uma entrevista de emprego, por exemplo, pergunta-se se você é fácil de ser encontrado, simples, ágil, flexível, confiável etc. É que algumas coisas são mais importantes do que ser o melhor físico de partículas. As empresas precisam de gente completamente diferente”.
CIDADES E TRABALHO
“Hoje, existe o conceito de trabalho tradable e non-tradable, que é o trabalho que pode ser feito remotamente, como a análise de imagens médicas, e o que não pode, como uma massagem. Hoje, as cidades são locais onde encontramos tradable jobs: as cidades são lugares de serviços. Para evitar uma catástrofe urbana hoje, quando as ferramentas de trabalho não são mais escassas, precisamos redesenhar a cidade para que se possa trabalhar de qualquer lugar. Com os working centers, por exemplo, que estariam para o trabalho como os shopping centers estão para as compras. Incentivando as pessoas a trabalharem perto de onde moram, podemos evitar o colapso das cidades”.
BOA EMPRESA É BOA ESCOLA
“No futuro, cada um de nós terá que empreender a sua presença nas redes que quiser. O conselho é: trabalhe em algo desafiante. Em um lugar onde você aprenda o tempo todo. A boa empresa tem que ser uma boa escola. Se não está aprendendo nada, peça demissão por justa causa (risos).”
“O setor de tecnologia já aprendeu que as pessoas precisam sair para trabalhar em vários lugares. Isso é bom para todo mundo. É compartilhar conhecimento. O trabalho é significado, e as pessoas e as empresas estão procurando isso”.
RELEVÂNCIA EM CURSO
“Volta e meia alguém diz que tudo que existe de relevante já aconteceu — e na nossa época. Mas nós não somos tão especiais. O planeta tem mais dois bilhões de anos de sobrevida. Ao menos no próximo milhão de anos, as ondas de inovação continuarão criando demandas para as pessoas aprenderem, porque o pico de inovação aumenta a obsolescência do conhecimento”.
EMPREGO X TRABALHO
“O que se chamava emprego agora se chama oportunidade de geração de valores. Ninguém mais vai ter emprego. Se tivermos sorte, teremos trabalho”.
O ‘FIM’ DO ON-LINE
“Uma pesquisa mostrou que o número de horas que as pessoas ficam na internet caiu: de 21,9 horas, em média, em 2011; para 19,6 em 2012. Mas por que o tempo diminuiu? Porque elas consideram o Google Maps, por exemplo, como off-line. O on-line se confundiu com o off-line e virou parte do ambiente”.
O TRABALHO DE DESAPRENDER
“Qual é a estratégia para continuar no mercado de trabalho? Saber que o que vamos fazer no futuro pode não ter nada a ver com o que a gente sabe. O futuro não será igual ao presente, embora muitas pessoas, especialmente jovens, achem que os próximos 50 anos serão iguais: mudará sim, muito mais e muito rapidamente. Nesse cenário, é preciso que o profissional saiba fazer três coisas: aprender, desaprender e reaprender. Desaprender dá até mais trabalho do que aprender. E sempre tivemos que aprender rápido. Não é de hoje essa percepção. Porque, seja qual for, o mercado está em constante transformação. E essas transformações criarão novos níveis de exigências para todos nós”.
INFORMATIZAÇÃO CRESCENTE
“Acredito que, daqui a 20 anos, não existirão mais as profissões que não desejamos para nossos filhos. Não haverá, por exemplo, motoristas de ônibus. Uma cirurgia neurológica sem intervenção de robôs será proibida. O que puder informatizar, a gente vai informatizar. O mercado de informática contamina todos os outros mercados”.
SEJA ESPERTO
“Se o profissional não olha ao redor, o mundo dele começa a cair. Em qualquer mercado dá para sobreviver se você for esperto, entender o cenário, tiver base para aprender e seguir os líderes desse mercado. Em alguns mercados, se você for muito esperto e coliderar o processo de mudança, você pode empreender sua carreira. Agora em pouquíssimos mercados, se for megaesperto, você pode tentar um negócio”.