sábado, 7 de setembro de 2013

Dilma vai à ONU com proposta contra espionagem na internet




Presidente cobra de Obama todas as informações levantadas sobre o Brasil
SÃO PETERSBURGO, RÚSSIA
Longe de virar a página da crise desencadeada pelas denúncias de espionagem do serviço secreto dos Estados Unidos sobre ligações, mensagens telefônicas e e-mails da presidente brasileira, o encontro a portas fechadas entre Dilma Rousseff e Barack Obama abriu um novo capítulo no relacionamento, cada vez mais azedo, entre os dois países.

Dilma quer que os americanos mostrem tudo o que a agência de segurança nacional tem sobre o Brasil e esclareça a violação de privacidade dela e de outros brasileiros. Dilma afirmou ao colega americano que levará às Nações Unidas proposta de uma nova governança na internet, que defina normas e mecanismos para coibir práticas de violação de direitos ou espionagem de quaisquer países. — Acho muito complicado saber essas coisas pelos jornais.

Eu quero saber o que há. Se tem ou se não tem. Quero saber tudo o que tem — afirmou Dilma, informando que o presidente americano garantiu explicar o caso: — Obama assumiu a responsabilidade direta e pessoal tanto para a apuração das denúncias quanto para oferecer medidas que o governo brasileiro considerasse necessárias.

ATO AFETA SOBERAMA E DIREITOS HUMANOS

O encontro entre os dois foi marcado pelo mesmo desconforto que havia pairado no salão de conferência da cúpula do G-20, em São Petersburgo, onde os dois chefes de Estado haviam se visto pela primeira vez desde as denúncias reveladas pelo programa “Fantástico’ da TV Globo, no último domingo. Durante a conversa de meia hora, Dilma não escondeu a irritação. .— Não era só uma questão de desculpas, mas de não admissão desse nível de intrusão e que é importante que seja solucionada — afirmou Dilma, que ainda chamou de inadmissível e gravíssimo o comportamento do serviço secreto americano no Brasil.

Para a presidente Duma, os atos afetam interesses econômicos, a soberania do país e os direitos humanos e civis. — o que é estarrecedor para um país que tem na sua fundação a liberdade e o respeito aos direitos humanos — destacou. Dilma acusou o serviço de segurança dos EUA de agir com objetivos muito distintos da alegada preocupação com o terrorismo. — o Brasil é uma forte, sólida e grande democracia. Vive há mais de 140 anos em harmonia e de forma pacífica com os seus vizinhos. Não tem conflitos étnicos, religiosos, não abriga grupos terroristas e tem na sua Constituição expressamente que nós vedamos o uso e fabricação de armas nucleares.

E concluiu: — Portanto, (disse a ele) que todas essas características jogavam por terra qualquer forma de justificativa de que tais atos de espionagem seriam uma fora de proteção contra o terrorismo. Como não tinha nada a ver com a segurança nacional, tinha a ver com fatores geopolíticos, estratégicos ou comerciais-econômicos, e que isso é inadmissível, principalmente porque se trata de países com uma tradição de relacionamento histórico.

Na próxima quarta-feira, o governo americano, por meio da conselheira de Segurança, Susan Rice, entrará em contato com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Figueiredo, para as primeiras providências sobre o caso. Se necessário, haverá um novo contato entre os dois mandatários.

Dilma não informou se a viagem oficial aos EUA, marcada para outubro, está cancelada — Não tenho prazo para dar resposta nenhuma. Não pretendo transformar a quarta-feira num dia D, mas num dia de avaliação. Segundo a presidente, a sua reação às denúncias não se trata de uma questão pessoal: — Ocorreu comigo porque sou a presidente da República.

O que farão com os brasileiros que não são? Dilma também avisou a Obama que o Brasil irá a todos os fóruns multilaterais, em especial à ONU, para propor iniciativas para uma governança da internet. — Diante do fato, ou da suposição, que tinha acontecido comigo e com o Peña Nieto (presidente do México), todos os países podem estar ameaçados de estar sendo ou de ter sido espionados.

Seja qual for a forma do processo de invasão, tem de ser proibido e tratado no plano internacional. Ele extravasa relações bilaterais. Para Dilma, a internet é uma estrutura que garante a liberdade de expressão e tem que ser preservada como tal. — Não pode ser transformada num instrumento oposto. Sobre a declaração de Dmitri Peskov, porta-voz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que, durante o encontro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a espionagem cibernética havia sido comparado a algo similar ao terrorismo, Dilma evitou polemizar.

Disse não ter ouvido nada desse tipo, mas não descartou que tivesse acontecido, tendo em vista que nesses encontros há muitos idiomas distintos sendo falados ao mesmo tempo. — Mas a comparação é irrelevante. Tem que dar os nomes que as coisas merecem. Guerra é guerra, terrorismo é terrorismo, espionagem de país democrático é espionagem. Sem juízo de valor.

Ontem pela manhã, a presidente acabou não participando da segunda reunião do G-20. Especulava-se que ainda pelo desconforto do caso da espionagem. Dilma explicou que não foi por problemas de agenda ligados a uma reunião bilateral com Cingapura que acabou não ocorrendo. O fato é que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, acabou substituindo a presidente na reunião do G-20.
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