terça-feira, 17 de setembro de 2013

O futuro da mídia impressa em debate no 'Encontros O GLOBO'

Ciclo de palestras comemora lançamento do acervo digital do jornal
Sérgio Matsuura

Desde o surgimento da internet comercial, ainda no século passado, o debate sobre o futuro dos jornais impressos esteve em pauta. Agora, com a popularização dos dispositivos móveis, o tema volta à tona com força. Reunidos na Casa do Saber, na Lagoa, representantes de três grandes veículos brasileiros de imprensa discutiram ontem os desafios colocados pelo avanço tecnológico, ressaltaram possibilidades e foram uníssonos em dizer: o papel ainda tem um longo caminho pela frente. O debate faz parte de um ciclo de palestras dentro da programação dos Encontros O GLOBO, com temas que passam em revista a realidade do país nas áreas de tecnologia, cultura, economia e política. Os painéis são realizados na Casa do Saber O GLOBO, a partir das 17h. - O papel ainda sobrevive por muito tempo, mas é evidente que o modelo de negócio vai ser complementado pelo digital. Sobrevive não pelo saudosismo, como os discos de vinil, mas porque ele é conveniente. O leitor recebe em casa um relatório impresso, da marca que ele confia, com os fatos e análises das últimas 24 horas. É um valor para o indivíduo - afirmou Ricardo Gandour, diretor de jornalismo do "Estado de S.Paulo". 

Modelo de cobrança on-line

O debate foi mediado pelo editor executivo do GLOBO Pedro Doria, que ressaltou a importância do jornalismo de qualidade, não importando o meio que é entregue, seja papel, tablet ou internet. Cumprindo a função de mediador, o jornalista destacou que os ganhos com publicidade na internet são menores comparados ao faturamento com anúncios no impresso. A pergunta colocada aos convidados foi como gerir uma grande redação caso o jornal impresso perca relevância. Um dos caminhos apontados foi o início da cobrança pelo acesso ao site. A editora de Tecnologia da "Folha de S. Paulo", Camila Marques Braga, contou um pouco da experiência do jornal paulista, que adotou o paywall há pouco mais de um ano. Segundo ela, apesar do limite imposto ao acesso ao conteúdo publicado na internet, a audiência vem crescendo, assim como o número de assinaturas digitais. - Ainda não consigo imaginar fazer o jornalismo que fazemos hoje sem o dinheiro da publicidade do papel, mas estamos tentando novas formas de faturamento. Nós estamos implementando o paywall no Brasil num momento confortável, diferente do que aconteceu nos EUA, onde os jornais estavam no vermelho. Com pouco mais de um ano de experiência, a audiência não caiu, as assinaturas digitais cresceram e a maior parte dos leitores elogia a medida - contou Camila. O GLOBO iniciou a cobrança pelo acesso ao site ontem. Segundo Gandour, "O Estado de S. Paulo" também planeja modelo semelhante. - O interessante é que o leitor passa a ser mais crítico. Quando ele paga, ele se sente mais proprietário da informação e faz mais ponderações, que nos ajudam a melhorar - destacou Camila. No embalo dos protestos de junho, o uso de novas tecnologias no fazer jornalístico também foi discutido. Gandour classificou como "equivocado" o antagonismo colocado entre "mídia tradicional" versus "novas mídias". - Há 30 anos, um cidadão ligava para o jornal e informava sobre um incêndio. Ele já era ninja. E a redação fazia o quê? Apurava. Essa participação, a inclusão da sociedade, que as redações precisam incorporar, como incorporaram o sujeito da ficha telefônica há 30 anos - afirmou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário