Opinião
As revelações da quebra de sigilo no Brasil pelo braço de espionagem eletrônica americano, a Agência de Segurança Nacional (NSA), só se agravam. No início de julho, a partir de documentos vazados pelo ex-funcionário terceirizado da NSA Edward Snowden, asilado na Rússia, para o jornalista americano Glenn Greenwald, O GLOBO mostrou que o Brasil era alvo dos computadores espiões da agência. No primeiro domingo deste mês, o "Fantástico", da TV Globo, a partir das mesmas fontes, incluiu a própria Dilma entre as vítimas dos softwares bisbilhoteiros da NSA. O problema diplomático com os Estados Unidos subiu, então, pelo menos uma oitava. E, neste último domingo, a progressão do agravamento da crise continuou, com a descoberta de que, segundo ainda o "Fantástico", redes privadas de dados, entre elas a da Petrobras, também são invadidas. Em associação com a agência de espionagem eletrônica britânica, a Government Communications Headquarters (GCHQ), responsável pelo desenvolvimento dos programas de invasão de computadores, para recolher dados a serem compartilhados com os chamados "Five Eyes" (cinco olhos) - além da Inglaterra e Estados Unidos, a Austrália, Canadá e Nova Zelândia. Desmentia-se, dessa forma, a garantia dada pela NSA ao jornal "Washington Post" de que não fazia espionagem econômica. Até agora, a diplomacia brasileira e a presidente Dilma têm agido como requer a situação. De forma direta, dura, mas com equilíbrio. Não vale o argumento de que seria óbvio que os americanos, com o dinheiro e base tecnológica que têm, utilizariam todos os recursos disponíveis na espionagem de última geração. (E não é de hoje, pois há relatos de que a NSA atuou em 2000, na concorrência do Sivam, sistema de radares na Amazônia, para a americana Raytheon vencer o consórcio francês Thomson-Alcatel.) Mesmo com esta conjectura, a diplomacia brasileira, ou de qualquer país, teria de reagir à altura ao ser confirmada a suposição lógica. Antes de a Presidência emitir nota, ontem, Dilma equiparou a gravidade das revelações às anteriores, referentes a ela. Em nota, o governo relacionou, com acerto, a ação sobre a Petrobras a interesses econômicos e estratégicos, sem qualquer relação com o combate ao terrorismo - uma das alegações americanas. Já com o novo chanceler empossado, Luiz Alberto Figueiredo, o governo seguiu o roteiro indicado pelas normas diplomáticas: convocado o embaixador Thomas Shannon ao Itamaraty, a ele foram pedidas explicações por escrito. Ao encontrarem-se em São Petersburgo, na reunião do G-20, Dilma e o presidente Barack Obama conversaram sobre o assunto. O Planalto espera esclarecimentos. Diante dos interesses comuns brasileiros e americanos, o imbróglio exige esta maturidade, e não bravatas tão em voga em certas regiões da América Latina.
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